Linhas e lãs tornaram o Parque mais colorido

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O mar serviu de inspiração para dezenas de peças em crochet e tricot
A segunda edição da iniciativa “À procura do novelo”, que decorreu no passado domingo (1 de Setembro) no Parque D. Carlos I nas Caldas da Rainha, atraiu cerca de meio milhar de pessoas. No relvado junto ao coreto dezenas de coloridos objectos feitos em crochet e tricot, chamavam a atenção para o mar, a temática deste ano do evento.
O grupo pretende voltar a reunir-se para fazer uma árvore de Natal em tricot e crochet para colocar no Parque em Dezembro. Para o próximo ano a temática será o circo e a organização espera conseguir atrair mais jovens.

 

Vieram de vários pontos do país para mostrar, ao vivo, a arte de trabalhar em crochet e tricot. Ao todo foram mais de 100 os participantes, sobretudo mulheres, que se juntaram no Parque D. Carlos I para mostrar as suas criações, mas também conversar e conviver. “Temos pessoas de Aveiro, Almada, Viseu, um grupo de Lisboa que está de férias em S. Martinho, e também residentes na região, que aqui se encontram anualmente”, explicou à Gazeta das Caldas Ana Cristina Gameiro, uma das organizadoras do evento.

Este ano o tema proposto foi o Mar e em exposição estavam os mais variados bonecos e peças de vestuário, nomeadamente xailes, que faziam lembrar as ondas. No encontro ficou já definida a temática do próximo ano que será o circo.

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Estes eventos contam sobretudo com a participação de mulheres, mas há algumas excepções, como é o caso de André Castro, que é um especialista em tricot e percorre o país a ensinar esta arte de entrelaçar os fios de forma organizada. Ana Cristina Gameiro destaca também que normalmente são homens quem estão à frente das retrosarias, ainda que o “saber fazer” seja uma tarefa mais feminina.

O aparecimento de algumas técnicas inovadoras e a criação de modelos mais arrojados leva a que cada vez mais os jovens também se interessem por esta área. Ana Cristina Gameiro é professora e conta que na sua escola, em Alcobaça, foi abordada por um grupo de alunos que demonstrou bastante interesse em aprender.

Na retrosaria Coolchetes, que organiza o evento, fazem-se workshops praticamente todos os dias da semana. A sua responsável, Lúcia Estevam, conta que tentam fazer peças mais modernas em crochet, combatendo um pouco a ideia de um lavor associado às pessoas mais velhas e aos tradicionais napperons. “Os mais jovens fazem bonecos em crochet e camisolas em tricot, conta Lúcia Estevam, acrescentando que estes vão aprender na retrosaria o que não conseguem fazer com as mães ou as avós.

Esta responsável também possibilita às pessoas da região o acesso a outras técnicas de trabalhar a lã, como workshops de feltragem, por exemplo. A formadora Fátima de Haan escreveu o único livro que existe em português sobre a técnica do felting (arte de trabalhar a lã) e esteve a apresentá-lo no Parque, juntamente com os trabalhos que desenvolve.

A artesã pega em mechas de lã, desfia-as, mistura-as com água quente e sabão e faz peças como coletes, malas, botas, écharpes e gravatas. A trabalhar em felting desde 2006, considera que é mais fácil do que o tricot e mais relaxante, porque na primeira é preciso contar as malhas e refazer se necessário, enquanto que no felting apenas é preciso dar largas à imaginação. “Enquanto que uma echarpe em tricot pode demorar um mês a fazer, com esta técnica fazê-mo-la em três horas”, explicou. Esta técnica agradou bastante a Raquel Martins, natural do Rio de Janeiro, que está a morar nas Caldas há um ano. “Já tinha pesquisado na internet e interesso-me muito por este tipo de trabalho”, disse a visitante que quer ir fazer um workshop para aprofundar os conhecimentos.

Tricotar por uma causa

No Parque também se fizeram pontos de contestação. A campanha Linha Vermelha, que alerta contra a prospecção de petróleo e gás, voltou a marcar presença, com a participação também de caldenses a tricotar.

De acordo com João Costa, coordenador da Campanha Linha Vermelha, o tricot é a ferramenta que utilizam para conseguir chegar às pessoas e fazem-no desde 2017, apenas com linhas vermelhas. As peças são guardadas pela associação ou pelos grupos locais já existentes e são utilizadas em eventos e, sobretudo, manifestações, causando um forte impacto visual.

“Temos muito material para utilizar, o que depois vamos fazer com ele ainda não decidimos, podemos reverter em mantas ou cachecóis e fazer passar a mensagem de uma lógica de economia circular”, disse o responsável, acrescentando que só irão parar “quando os contratos forem cancelados”.

A tricotar por esta causa estavam pessoas de Palmela, Sintra, Cascais, Caldas da Rainha e Bajouca, esta última uma localidade do distrito de Leiria onde a empresa Australis Oil & Gas pretende efectuar furos.

João Costa considera que encontros como o “À procura do novelo” fazem todo o sentido porque são uma forma de se perpetuar uma tradição e de a colocar à mostra de toda a gente, assim como permitir o convívio entre gerações.

Esta luta pelas causas ambientais mereceu a atenção de Raquel Martins que, inspirada no conceito, quer agora combinar com as amigas para criar no Brasil o Movimento Verde, com o objectivo de defender a floresta amazónica.

 

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