A cartoonista italiana Marilena Nardi foi a vencedora da 13ª edição do World Press Cartoon, o evento anual do desenho de humor na imprensa internacional, que decorreu pelo segundo ano nas Caldas da Rainha. Na gala, realizada no passado sábado, foram premiados os melhores trabalhos publicados o ano passado na imprensa e também, pela primeira vez, nos meios online, nas categorias de Cartoon Editorial, Caricatura e Desenho de Humor.
Os líderes Donald Trump, Putin e Kim Jong-Un foram os preferidos dos caricaturistas, que também retrataram com humor, questões sérias como os direitos humanos, a poluição ou a falta de liberdade de expressão.
O cartoonista português Augusto Cid foi o grande homenageado da noite, com o Grande Prémio Carreira, entregue pelo também cartoonista António, o director do Festival.
“Não imaginava ganhar, foi belíssimo, incrível”, disse Marilena Nardi, a primeira mulher a vencer o Grand Prix do World Press Cartoon (WPC), que vai já na sua 13ª edição e que decorreu pelo segundo ano consecutivo nas Caldas da Rainha.
A cartoonista italiana venceu com um desenho sobre liberdade de expressão, arrecadando 10 mil euros. Neste caso concreto, o cartoon foi publicado no jornal de Barcelona Illegal Times, em Dezembro de 2017, num número especial dedicado à Catalunha. De acordo com Marilena Nardi, o seu cartoon não era tanto sobre o problema político daquela região, mas sim sobre as dificuldades dos jornalistas e cartoonistas catalães para emitir a sua opinião e expressar-se livremente.
De acordo com a cartoonista, a Itália está a viver momentos difíceis no que respeita aos direitos das pessoas. “Sinto que estamos a viver uma crise cultural, de consequências para todos os sectores, desde a educação à política, passando pelas instituições”, disse, acrescentando que esta tem vindo a acontecer nas últimas décadas. “Vinte anos de governo Berlusconi estragaram uma geração inteira e prejudicaram muito os jornais satíricos”, fez notar.
Marilena Nardi faz do quotidiano italiano o seu objecto de trabalho, mas também se dedica a temas de carácter geral, como o desenho sobre a censura na Catalunha.
A cartoonista, que foi também premiada na categoria de Cartoon Editorial, dedicou o prémio aos colegas que não têm possibilidade de desenhar e expressar livremente a sua opinião.
OUTROS PREMIADOS
Nesta noite foram ainda premiados mais oito cartoonistas, dois deles do Brasil, um belga, um holandês, um sérvio, um norueguês, um turco e um indiano, este último não tendo podido marcar presença no evento.
Ao todo estiveram a concurso mais de 600 desenhos, dos quais foram seleccionados 281, que se encontram expostos no CCC até finais de Julho. Estes são representativos de cerca de 60 países e muitas culturas.
Os melhores trabalhos foram escolhidos por um júri constituído por Rayma Suprani, autora venezuelana exilada nos EUA, o grego Michael Kountouris, o francês Robert Rousso e o sírio Saad Hajo, este último radicado na Suécia. Presidiu aos trabalhos o director do salão, o cartoonista português António Antunes, do Expresso.
MÚSICA E HUMOR COMO ENTRETENIMENTO
Os Clownic (uma companhia de teatro cómico catalã) foram os primeiros a subir ao palco e mostrar a sua arte, dando início ao que viria a ser uma noite de gargalhadas. Com o seu teatro cómico gestual, Edu Méndez, Gerard Domènech e Xevi Casals, levaram o público por uma viagem ao mundo do cinema, com a reinterpretação de sketches de sequências cómicas de Charles Chaplin, Mr. Bean ou Monty Python. Em vários momentos os cómicos interagiram com o público.
Também o performer Luís Franco Bastos arrancou fortes risadas, e alguns aplausos, durante a sua intervenção. O futebol foi o grande tema escolhido pelo humorista português, não tendo faltado alusões a Bruno Carvalho, Pinto da Costa e a Cristiano Ronaldo. Mas não se falou de desporto. Tal como o humorista fez questão de referir, a maioria das vezes quando se fala de futebol, não é sobre o desporto em si, pelo que também ele se referiu, com humor, às claques leoninas, à diferença de idades entre Pinto da Costa e a namorada e à mãe do filho de Cristiano Ronaldo.
O espectáculo contou também com a actuação da Orquestra Ligeira do Monte Olivett, dirigida por David Santos. Alguns temas foram cantados por Pedro Santos.
CID RECEBEU PRÉMIO CARREIRA
O cartoonista Augusto Cid, de 77 anos, foi o grande homenageado nesta edição do WPC, tendo recebido das mãos de António o Prémio Carreira. Para o director de WPC, tratou-se de homenagear alguém que “há mais de 50 anos nos traz o seu humor, irreverência e talento”. António referiu-se a Augusto Cid como “alguém que marcou o nosso tempo e é a grande figura do cartoonismo português”.
O homenageado recebeu o prémio, juntamente com a família, que também fez questão de marcar presença no evento.
Augusto Cid nasceu na Horta (Açores), em 1941, e estudou em Lisboa e nos EUA. Durante décadas incomodou políticos portugueses com os seus cartoons editoriais em jornais como O Século, o Independente e o Semanário. Em 2012, aos 71 anos deixou de desenhar para a imprensa.
Augusto Cid teve alguns projectos relacionados com a caricatura em cerâmica no Cencal e trabalhou com o ceramista caldense Carlos Oliveira, com caricaturas de figuras populares para o Mercado de Setúbal. Ao longo da sua carreira somou várias distinções como o Grande Prémio do Salão de Caricatura e o Prémio Nacional de Humor de Imprensa.
“MAIS PÚBLICO E A QUALIDADE DE SEMPRE”
O cartoonista António, director do WPC, considera que o evento “correu muito bem e tivemos mais público no espetáculo do que no ano passado”. Na sua opinião manteve-se o nível de qualidade e sublinhou o “momento emotivo” vivido na homenagem a Augusto Cid. O cartoonista luso foi ovacionado durante a sessão e contou com a presença da sua família no palco da CCC.
Entre as novidades deste ano, conta-se a inclusão a concurso dos cartoons que são publicados on-line, tendo um dos premiados sido publicado apenas na internet. António está satisfeito com a aliança entre o WPC e as Caldas da Rainha que há dois se tornou sede da iniciativa. O caricaturista acha que o projecto não tem vocação para ser ambulante “mas pode sim ter itinerâncias”.
O cartoonista, que desenha para o Expresso há mais de 40 anos, afirmou que “podemos começar a pensar noutras iniciativas complementares ao World Press Cartoon”. António referiu também que através da difusão da notícia através da Euronews “é possível projectar o nome das Caldas para todo o mundo através da televisão global”. O caricaturista considera que Caldas se poderá afirmar pelas artes, neste caso da caricatura e do humor, em que se pode afirmar como capital, quando tal nunca poderá ser na escultura. Assim, devido à sua tradição, “se investir neste domínio as Caldas poderá ser a capital da caricatura”, rematou o responsável.
SEDIMENTAR A CARICATURA NAS CALDAS
A vereadora da Cultura, Maria da Conceição Pereira, destacou a melhoria da exposição em relação à primeira edição. “Toda a apresentação está muito superior ao ano passado e também estão expostos mais cartoons”, disse, salientando todo o aproveitamento do espaço expositivo e a decoração no CCC.
A autarca realçou também a qualidade dos trabalhos premiados. No que respeita aos participantes, o retorno que recebeu foi de que gostaram muito das Caldas e da acção que fizeram na Rua das Montras, onde tiveram a oportunidade de contactar com o público, juntamente com os alunos da ESAD, muitos deles ERASMUS. “Estamos a tentar fazer uma promoção mais alargada do evento e contamos, no decorrer da exposição, que os meios de comunicação social também nos visitem a façam a sua promoção”, acrescentou.
Maria da Conceição Pereira entende que este festival não deve ser um acontecimento pontual, mas haver a possibilidade de, entre eventos, realizarem-se outras acções que funcionem como elo de ligação. “Temos várias ideias e agora vamos conversar entre todos”, disse a autarca, que considera que este evento tem sentido nas Caldas pelas suas razões históricas.
“Poderemos até pensar em sedimentar aqui nas Caldas a caricatura e temos que ver qual é a possibilidade disso acontecer”, disse, acrescentando que pretende falar com o António sobre isso e sobre a permanência de eventos ligados à caricatura.
A gala foi apresentada por Inês Carranca, da RTP, e os prémios foram entregues por Luís Patacho (vereador do PS), Maria João Domingos (vereadora da Educação), José Luís de Almeida Silva (director da Gazeta das Caldas), Elsa Rebelo (directora artística da Bordalo Pinheiro), Lalanda Ribeiro (presidente da Assembleia Municipal), Vitor Marques (presidente da CulturCaldas), Samuel Rama (sub-director da ESAD), Dulce Dias (Euronews), Carlos Mota (director do CCC), António Antunes (director do WPC) e Hugo Oliveira (vice-presidente da Câmara), que esteve em representação do presidente da Câmara, Tinta Ferreira, que se encontrava no Chile, numa missão da CCDR Centro.































