
O Lar da Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha tem 75 anos e está ligado à génese da própria instituição. Começou por chamar-se Patronato Feminino, depois Internato Feminino e Lar de Infância e Juventude, mas sempre com o mesmo objectivo: ajudar crianças e adolescentes a ter uma vida melhor. Actualmente esta valência acolhe 15 raparigas com idades compreendidas entre os sete e os 22 anos, sinalizadas pelo Tribunal ou pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens.
Um grupo de cidadãos cria, em 1928, a Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha com o intuito de ajudar as pessoas mais desfavorecidas da cidade. Uma década depois é construído o actual edifício sede, situado no Largo da Rainha, onde se instalou uma sala de refeições para fornecer diariamente as principais refeições às famílias mais carenciadas, comummente chamada de sopa dos pobres.
As datas não são precisas, mas apontam para 1944 como o ano em que arrancou o Patronato Feminino, uma valência para prestar apoio e auxílio a meninas carenciadas. Esta resposta social surgiu numa altura de grandes dificuldades económicas em que as crianças órfãs, ou entregues pela família, podiam receber educação e cuidados. Este apoio coincidiu com a vinda para a instituição das Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo, onde prestavam auxílio e faziam parte do quadro de pessoal até recentemente. Estas religiosas estiveram sempre muito presentes na educação das jovens que, inicialmente frequentavam a escola que funcionava nas instalações da Santa Casa. Além do ensino, as raparigas aprendiam os trabalhos domésticos, ficando aptas para gerir a sua casa e, algumas, arranjar emprego como empregadas domésticas.
“Esses ensinamentos eram assegurados pelas irmãs, enquanto que a formação oficial era dada por um professor colocado por concurso”, explica o provedor da Santa Casa da Misericórdia caldense, Lalanda Ribeiro.
Lar para 40 raparigas
No início chegaram a ter 40 raparigas, com idades a partir dos três anos, a residir na instituição, nas instalações actualmente ocupadas pelo lar de idosos. Algumas ficavam até à adolescência e, inclusive, tornavam-se funcionárias da Santa Casa.
Com o passar do tempo foram reduzindo a capacidade de acolher jovens. As despesas eram todas garantidas pela instituição até 1986, altura em que estabelece um acordo com a Segurança Social, que passa a comparticipar o internato de 20 raparigas.
A melhoria das condições de vida das famílias e a existência de mais escolas públicas levou a uma diminuição da procura, por parte das famílias, desta assistência social e, por outro lado, a alteração do sistema judicial, no final da década de 90, levou ao encaminhamento de crianças e jovens em risco para instituições.
Actualmente o Lar de Infância e Juventude tem capacidade para acolher 15 meninas, que são encaminhadas pelos tribunais e pelas comissões, e ali ficam temporariamente. “A maioria fica connosco por um determinado tempo e não vários anos, como era hábito anteriormente”, explica a directora técnica da valência, Teresa Roque, explicando que o objectivo é voltar a integrá-las no seio familiar.
De acordo com a técnica, formada em Serviço Social e especializada em Crianças e Jovens em Risco, enquanto que antes as meninas chegavam à instituição mais pequenas, faziam o seu percurso e saíam aptas para trabalhar, agora as raparigas chegam com mais idade e ficam menos tempo institucionalizadas.
Novos tempos, novas problemáticas
A faixa etária dos pedidos de acolhimento que a Santa Casa tem recebido é, maioritariamente, entre os 13 e 14 anos. As problemáticas estão relacionadas com disfuncionalidades a nível familiar, a ausência de suporte familiar temporário, problemas de comportamento e de absentismo escolar, o que “implica uma medida aplicada de acolhimento residencial durante determinado tempo”, explica a directora técnica.
As jovens podem ficar por um período de três meses, até anos, e, se durante o período em que estão na instituição fizerem formação, poderão ali continuar. Por exemplo, as raparigas que atingem a maioridade e que estejam enquadradas em formaçãoprofissional, na escola ou que queiram continuar os estudos, podem pedir um período de prolongamento e continuar na instituição após os 18 anos. O provedor da Misericórdia destaca que estas situações acontecem com alguma frequência e destaca, orgulhoso, que houve várias que tiraram um curso superior. “Todas elas, de alguma maneira, levam alguma aprendizagem do tempo que passam connosco”, salientou, acrescentando que há mulheres que já deixaram o Lar há vários anos e continuam a visitá-los com frequência.
Formação de Jovens
José Luís Lalanda Ribeiro é provedor da Santa Casa da Misericórdia das Caldas há 34 anos, mas a sua ligação à instituição remonta aos seus tempos de criança. Lembra-se de ser miúdo e andar a distribuir cigarros pelos idosos e de ali ir à missa da meia noite pelo Natal.
Referindo-se ao Lar da Infância e Juventude, destaca que está ligado à génese da misericórdia caldense. E, embora seja uma valência que dá “bastantes preocupações em termos financeiros”, porque o acordo com a Segurança social não cobre as despesas, entende que continua a ser uma necessidade. “Não há uma reposta noutras instituições para colmatar a nossa”, explica, acrescentando que a Segurança Social está ciente destes problemas, mas “também não tem capacidade de nos dar outro tipo de ajuda”.
Lalanda Ribeiro realça a importância desta valência em termos da formação das jovens. “Um dos grandes objectivos do lar é permitir-lhes ter ferramentas de trabalho que as ajude a governar a vida”, disse, acrescentando que a equipa técnica e educativa têm um papel importante nesse sucesso.
Teresa Roque está há 14 anos a coordenar esta valência. Considera que tem sido um desafio, pois ao longo destes anos o perfil das jovens acolhidas tem mudado substancialmente. Enquanto que antes as raparigas faziam um percurso na instituição, com a mudança de perfil, passaram a receber jovens com problemas de comportamento e de saúde mental, que ali ficam um tempo mais reduzido. “Passámos uns tempos difíceis para conseguir dar resposta a este novo perfil de jovens”, reconhece.
Apoio da Segurança Social
Em 2008 aderiram ao plano DOM, da Segurança Social, que visava capacitar os lares da infância e juventude com mais meios técnicos. No âmbito desse projecto têm uma psicóloga a supervisão para as equipas técnicas e de educação. “Com esse apoio fomos conseguindo adaptar-nos às necessidades que foram surgindo, os desafios dessa nova juventude”, explica a responsável. Teresa Roque destaca que a equipa educativa tem um papel muito importante junto destas jovens porque são elas que estão no “mimo e no ralhete”, ou seja, que as orientam, supervisionam as tarefas e tentam aconselhar.
Atendendo à idade, existem alguns procedimentos ao nível do acolhimento das jovens e, normalmente, são as colegas que a colocam a par do funcionamento da valência. Existem tarefas e rotinas diárias, como arrumar o quarto e cozinha, no sentido de lhes dar competências para o futuro. A cada fim-de-semana há uma jovem que cozinha para o grupo. Frequentam as escolas, os centros de formação profissional e estão inseridas na comunidade caldense.
O Lar tem seis quartos (três deles com três camas e outros três com duas camas), todos eles com casa de banho e armário individual. Têm também uma sala de estar comum, copa, refeitório e sala de estudo.
A Santa Casa da Misericórdia caldense acolhe maioritariamente jovens que são encaminhadas pela equipa de gestão de vagas do Centro Distrital de Segurança Social de Leiria, mas, por vezes, recebe de fora do distrito quando isso é do interesse dos jovens.
“A lei está a uniformizar as casas de acolhimento”
Esta instituição tem também a funcionar, desde 1998, o Centro de Acolhimento de Crianças e Jovens em Risco para dar uma resposta “mais adequada e de carácter urgente” a crianças que precisam de ser retiradas do seu meio familiar. Esta valência funciona num edifício independente da Santa Casa e tem capacidade para acolher 15 crianças e jovens, de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os zero e os 14 anos. Esta resposta social vai “esbatendo as diferenças” com o Lar, que anteriormente pressupunha uma institucionalização por período mínimo de seis meses e a aplicação de medidas de longa duração.
“A lei está a uniformizar as casas de acolhimento”, explica Teresa Roque, acrescentando que esta instituição vai continuar com o Lar da Infância e Juventude, faz parte da sua matriz.






























