Juramento de bandeira há 50 anos em Santa Catarina

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Cerimónia foi um ato de ligação à população

Poucos caldenses se recordarão e talvez alguns habitantes de Santa Catarina e dos lugares próximos se possam ainda lembrar dum evento inédito passado naquela povoação há precisamente meio século. um juramento de bandeira de soldados instruendos do CSM (Curso de Sargentes Milicianos), nas especialidades de atirador e amanuense e dos cadetes do COM (Curso de Oficiais Milicianos) na especialidade de Secretariado que foram ministrados então no chamado Centro de Instrução o Quadro Permanente, que funcionava no RI5 – Regimento de Infantaria 5 hoje Escola de Sargentos de Exército.

Meio século depois, há o regresso às Caldas da Rainha, também em espaço público, de um juramento de Bandeira de militares do Exército Português. Contudo, em 1975, fruto da proximidade do golpe revolucionário, aquele foi um ato de mais genuína ligação com a população, pois teve antecedentes muito peculiares. Não era de admirar pois estávamos a passar o primeiro ano pós Revolução de Abril e ainda em fase de PREC, apesar do ato em si pouco ter a ver com as movimentações mais ou menos revolucionárias no seio das Forças Armadas.

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Como referia a Gazeta das Caldas nas suas colunas aquele ato militar, na sequência da semana de campo, que esteve ligada a “uma vasta operação intitulada Benfeito, de ajuda dos militares à população civil, das zonas rurais dos entre Carvalhal Benfeito e Vale Benfeito -, colaborando na resolução dos problemas mais prementes”, nomeadamente obras mais urgentes de abertura de estradas, esgotos e outros melhoramentos, mas também de assistência médica e de enfermagem, com a colaboração de militares nestas especialidades.

Na noite anterior ao juramento houve um convívio na Cumeira entre os militares e a população local, num processo na época intitulado de “Ligação do Povo com as Forças Armadas”.

A cerimónia, com direito a fanfarra, realizou-se ao ar livre no Largo principal de Santa Catarina, presidida pelo General Carlos Fabião, Chefe do Estado Maior do Exército, tendo o General Otelo Saraiva de Carvalho, então Comandante Adjunto do COPCON, faltado ao ato por impedimento de última hora. O General Fabião passaria revista às tropas em parada, seguindo-se a continência à bandeira nacional.

Algumas centenas de pessoas locais assistiram à cerimónia, contando como uma alocução do Comandante do CICQ (RI5), Coronel Manuel Jesus Correia e de capitão Matos Coelho, que havia esta ligado ao levantamento de RI5 em 16 de Março do ano anterior.
Na sua intervenção o saudoso capitão Matos Coelho afirmaria “A nossa vida, toda ela é uma evolução constante desde que nascemos até que morremos. É um caminho a percorrer no qual, à medida que se avança, ele se apresenta com mais dificuldades, exigindo de nós a cada passo, mais coragem, mais vontade enfim uma consciencialização cada vez mais profunda dos atos que praticamos e que nos impõe uma consequência, a responsabilidade de sabermos estar sempre no nosso lugar, no momento exato. A partir de agora a Pátria – o Povo – conta convosco para o defenderdes.”

Encerrou o ato o General Fabião que assinalou que se estava num “juramento de homens livres que se comprometem a servir o seu povo e o seu país. No 25 de Abril muitos tomaram o comboio, mas foram enganados ao quererem tomar a janela na carruagem de 1ª. Desses muitos se hão-de unir contra nós”. A título particular recordo que o General Fabião nos havia confessado o momento difícil e crucial que o país atravessava, bem como as Forças Armadas, cujo desfecho iria ocorrer alguns meses depois em 25 de Novembro.
As tropas desfilaram nas ruas de Santa Catarina e seguiu-se uma refeição com rancho melhorado em que os santa catarinenses ofereceram 2 porcos e frangos assados no churrasco e alguns barris de vinho.

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