Julgamento de etarra vai continuar nas Caldas a 3 e 4 de Outubro

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notícias das CaldasCaldas da Rainha vai voltar a estar sob fortes medidas de segurança e nas notícias internacionais nos próximos dias 3 e 4 de Outubro quando “o presumível” etarra, como é referido na imprensa espanhola, Ondoni Fernandez voltar ao tribunal da cidade, onde prosseguirá o seu julgamento.
Nas sessões de 13 e 14 de Setembro só foram ouvidas metade das testemunhas porque algumas entraram em contradição com as declarações inicialmente prestadas à PJ, tendo a defesa levantado vários incidentes processuais que atrasaram o julgamento.


Cerca de 30 bascos, apoiantes do arguido e da causa independentista do País Basco, estiveram presentes na sala de audiências e no exterior do tribunal, à chegada e saída do arguido (sempre rodeado de forte aparato policial). Não houve incidentes.

“Fui apertado pela Polícia Judiciária” e “fui quase obrigado a dizer que o conhecia [Ondoni Fernandez]”. Estas duas frases da testemunha Edgar Couto, proprietário de um restaurante onde alegadamente almoçavam os dois etarras que viviam na moradia do Casal da Avarela (Óbidos), que levaram o advogado de defesa, José Galamba a pedir uma certidão para enviar para o Ministério Público a fim de se abrir um inquérito aos agentes da Judiciária.
O empresário de restauração disse que se sentiu pressionado e envergonhado porque foi interrogado pela PJ à frente dos clientes.
Já antes uma outra testemunha, o estucador Rui Correia, que fizera obras na vivenda, entrara em fortes contradições entre as declarações que faziam parte do inquérito e as proferidas em tribunal, facto que foi igualmente bem aproveitado pela defesa (que mandou extrair mais uma certidão) e levou mesmo a uma reprimenda dos dois juízes do colectivo sobre o declarante.
Rui Correia contara à PJ que vira bidões azuis na moradia do Casal da Avarela e que os seus empregados tentaram remover um armário para pintar uma parede, mas que um dos bascos reagira intempestivamente e o impedira. Referiu também que estes tapavam o écran do computador quando algum dos estucadores se aproximava e que houvera um bidão a arder dentro da casa porque o tecto ficara cheio de fumo e tivera de ser pintado segunda vez. Contudo, na sala de audiências, não sustentou estas declarações.
O estucador disse ainda que julgara que os dois estrangeiros estavam ligados à droga porque “tudo no seu comportamento era anormal”.
Neste segundo dia do julgamento, a maioria das testemunhas não teve dúvidas em reconhecer Andoni Fernandez, ao contrário das do dia anterior que tiveram dúvidas, ou não o reconheceram.
Andoni está, segundo as testemunhas, bastante mais magro, explicado, segundo José Galamba em declarações aos jornalistas, pelas más condições em que está detido na cadeia de Monsanto.
A mãe do arguido, Begonã Fernandez, disse à Gazeta das Caldas que, regra geral, as cadeias portuguesas são melhores do que as de Espanha, mas que Monsanto é a excepção e é nessa que o seu filho está detido “em muito más condições”.
Integrada num grupo de três dezenas de bascos que vieram de Lorrio (Biscaia) para apoiar Andoni, Begoña disse preferir que o filho fosse julgado em Portugal do que em Espanha onde as pressões politicas para a condenação de indivíduos ligados à ETA são muito maiores. Uma opinião partilhada também pelo advogado de defesa, José Galamba.
O grupo de apoiantes bascos esteve sempre rodeado de agentes das forças especiais da PSP e manteve uma atitude silenciosa e cordata durante o julgamento (que teve períodos extremamente arrastados e maçadores, mais difíceis de suportar para quem não entende português). Só quando a sessão era interrompida e o arguido saía da sala é que os jovens (que constituíam a maioria do grupo) se manifestavam com algumas frases de apoio.
Andoni esteve sempre algemado e rodeado permanentemente por elementos do GISP (Grupo de Intervenção dos Serviços Prisionais). Era acompanhado na sala de audiências por uma intérprete, mas mostrou compreender o português porque poucas vezes se socorreu da sua ajuda.
No segundo dia, o grupo de bascos – que esteve alojado no parque de campismo da Foz do Arelho – fez uma pequena manifestação à saída do tribunal, gritando frases de apoio ao arguido e à causa basca, tendo sido visível a crispação existente entre os apoiantes da ETA e os meios de comunicação social espanhóis pois a equipa da TVE (Televisão Espanhola) foi injuriada por alguns dos manifestantes.
Estes já se tinham mostrado surpreendidos por os jornalistas portugueses os terem procurado e falado com eles, facto que, disseram, não é de todo normal em Espanha.

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Fernando Costa no tribunal

No primeiro dia de audiência, ao fim da tarde, os jovens bascos que ocupavam metade da sala de audiências destinada ao público (a outra metade era ocupada por jornalistas) viram sentar-se ao seu lado, discretamente, um senhor de bigode que não sonhavam ser o presidente da Câmara das Caldas da Rainha.
“Eu pensei logo que era alguém importante porque ele começou a mexer no telemóvel e os policias não lhe disseram nada, e a nós não nos deixavam”, diria mais tarde um dos bascos.
No final da sessão as razões desta visita foram explicadas: quando José Galamba terminou a sua mini-conferência de imprensa e os jornalistas já dispersavam, Fernando Costa aproximou-se e exclamou que era o presidente da Câmara das Caldas e que queria proferir umas declarações. As televisões já não voltaram para trás, mas alguns profissionais da comunicação social tomaram devida nota de que o autarca não põe em causa as medidas de segurança deste julgamento, mas preferia que o mesmo decorresse em Monsanto para não prejudicar a cidade que fica “em estado de sítio” com o aparato policial que foi montado.
Uma queixa que encontrou eco em alguns comerciantes da zona (as ruas António Sérgio, o Largo 25 de Abril e parte da Av. 1º de Maio foram fechadas ao trânsito), mas não nos restaurantes das imediações que ganharam com o súbito afluxo de clientes.

 

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