“Novidade não foram os preços, foi a junção das despesas”

Marina Lopes
24 Anos
Mestrado em Educação Social no I.P. De Bragança
A caldense Marina Lopes foi estudar para Bragança em 2011. Começou por fazer um CET, licenciou-se e, actualmente, está a caminho de ser mestre.
Começou por viver na residência, onde se adaptou facilmente. Em Mogadouro (vila onde se localiza um dos pólos da universidade) viviam 23 jovens. Marina tinha um quarto só para ela, com casa de banho. Tudo o resto era partilhado.
Na licenciatura foi viver com cinco colegas para Bragança e não hesita em afirmar que “ali éramos uma família”.
A cidade que a acolheu “é genuína”. Isto porque “o sr. Fernando, do pão, o sr. Pires e o sr. João, dos cafés, bem como as pessoas do supermercado me tratam todas pelo nome e ficam preocupadas se eu não apareço durante muito tempo”, contou.
Nas horas vagas os estudantes costumam ir para o Polis, um jardim na margem do rio Fervença, e para o castelo.
Numa comparação entre as Caldas e a cidade que a acolheu diz que são ambas “muito bonitas, cada uma com o seu brilho”. É que, “quem vai a Bragança fica apaixonado não só pela beleza natural, mas também pela forma como é tratado”, afirmou.
Vem a casa duas vezes por ano, numa viagem de autocarro que demora… oito longas horas (das quais, uma parada em Leiria).
Além da família, “da tarte de amêndoa da mãe, da sopa de peixe da avó Regina, das tostas da avó Teresa e dos grelhados do pai”, é o mar o que lhe deixa mais saudades.
Das Caldas leva “o máximo de legumes da horta que conseguir e queijos fundidos”. Isto porque, tal como cá fazia, por lá sempre cozinhou. Vai à cantina quando tem pressa, quando está muito atarefada ou quando não lhe compensa ir a casa. “Às vezes os jantares de curso são na cantina”, contou.
Tal como nas Caldas, lá também vai ao supermercado, pelo que os preços não foram surpresa. “Novidade foi a junção das despesas, a gestão do bolo inteiro”.
Recebe uma bolsa que paga as propinas e uma mesada, com a qual paga a casa, a água, a luz e o gás e alimentação
Trabalha a tratar das capas (cozer emblemas e colocar matrículas) e quando é preciso ajuda em cafés e bares.
A gestão “é uma questão de hábito”, o problema “são os imprevistos: um mês em que precisamos de mais fotocópias ou de um livro”.
Para gerir tenta estabelecer prioridades: “prefiro um jantar de curso ou um fim-de-semana com uma amiga num sítio novo? Um chocolate ou as fotocópias que me fazem falta?”.
Para o futuro pretende ganhar experiência na sua área em Bragança, onde tem boas perspectivas de emprego. Depois quer-se aventurar para outra cidade que não as Caldas. “Talvez o Porto…” I.V.
“Ganhei independência e responsabilidade”

Bernardo Silva
22 anos
Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial na Universidade de Aveiro
Terminada a licenciatura de três anos em Engenharia e Gestão Industrial, Bernardo Silva segue agora para o mestrado na mesma área. Serão mais dois anos a estudar em Aveiro, cidade para onde se mudou em 2012.
Independência e responsabilidade são as duas principais qualidades que Bernardo afirma ter ganho desde que deixou a casa nas Gaeiras. Aprendeu a desenrascar-se sozinho e a não contar com o jantar em cima da mesa ou com a boleia dos pais. E também a gerir o que é prioritário: “já não tenho ninguém a dizer-me que não posso sair à noite porque tenho que estudar. Sou eu quem faz a gestão do meu tempo e às vezes é preciso abdicarmos da diversão”.
No primeiro ano, o jovem alugou um quarto, mas não conhecia os seus companheiros de casa. No segundo mudou-se para um apartamento com dois colegas do curso, com quem ainda mora actualmente. “Na primeira casa tinha uma prateleira onde guardava a minha comida e ninguém mexia no que era dos outros. Agora é diferente, partilhamos tudo e se vamos fazer jantar, compramos a contar com todos”, conta Bernardo Silva, salientando que, por precaução, guarda sempre papel higiénico no quarto para o caso de acabarem os rolos.
Se há discussão, certamente que o motivo são as limpezas e as desarrumações, assegura Bernardo. Ninguém se intromete na organização dos quartos, pois são individuais, mas no que toca à casa de banho e à cozinha, a conversa muda de figura. “Meto sempre a loiça na máquina, mas eles insistem em deixá-la acumular na pia. Já pensei que o problema é termos loiça a mais! Depois sou sempre eu a esvaziar o cinzeiro ou a levar o lixo, e a casa de banho é aquela divisão que ninguém quer lavar…”, revela.
Normalmente Bernardo Silva leva comida das Gaeiras, chega a Aveiro e congela-a. Depois é só aquecer. Mas basta ficar lá duas semanas seguidas que é preciso ligar o fogão. O jovem confessa que normalmente cozinha bifes e arroz, mas quando há tempo e disposição organiza com os colegas noites de culinária. “Já fizemos uma tentativa de lasanha, tacos e batatas no forno com rolo de carne”, diz.
Por mês gasta 520 euros, valor que inclui prestação da casa, despesas de transporte e alimentação e outros gastos pessoais. Inicialmente Bernardo ia de autocarro ou comboio para Aveiro e deslocava-se principalmente a pé, agora tem carro próprio. A adaptação à nova cidade foi fácil, “mas também porque conheci as pessoas certas, com quem me dei logo bem”.
Numa breve comparação das Caldas com Aveiro, Bernardo Silva realça que na cidade dos ovos moles as pessoas parecem “ter mais predisposição em estar na rua, enquanto os caldenses têm dificuldade em aderir ao que é novidade. Lá há sempre alguma coisa para fazer”. M.B.R.
“Não é fácil conciliar o trabalho com a faculdade”

Vanessa Dias
21 anos
3º ano da licenciatura em Dietética no Instituto Politécnico de Leiria
Embora apenas 50 quilómetros separem Caldas de Leiria, para Vanessa Dias ir e vir todos os dias nunca foi opção, até porque logo no primeiro ano teve aulas até tarde. Seria muito cansativo, confessa. Resolveu procurar casa com o namorado, que também estuda na cidade do Lis.
“Por isso a transição foi mais fácil, nunca me senti sozinha”, revela.
Os dois jovens caldenses pagavam 230 euros de renda, mas este ano preparam a mudança para uma residência, que mensalmente custa 75 euros. Como Vanessa é bolseira, esta despesa fica a cargo do Estado. Passar a partilhar quarto com uma desconhecida, assim como uma cozinha minúscula e dois frigoríficos que servem de apoio a 16 pessoas são os principais receios desta estudante de dietética.
Vanessa Dias vem às Caldas todos os fins de semana, pois desde o ano passado que trabalha sábado e domingo, das 10h00 às 19h00, no E. Leclerc. “A certa altura não é nada fácil conciliar o estudo com o trabalho, principalmente quando estou em época de avaliações. Se a maioria dos alunos sente que tem pouco tempo para estudar, eu nem o fim-de-semana tenho”, afirma, acrescentando que a organização é a chave para conseguir passar a todas as cadeiras. Juntamente com “um bocadinho mais de esforço e a noção que, a algumas disciplinas, é necessário optar por avaliação por exame em vez de por contínua”.
Com o dinheiro que recebe da bolsa e o seu ordenado, Vanessa consegue pagar as propinas e todas as despesas em Leiria. É completamente independente.
Como vem ao fim-de-semana, a jovem não abdica de levar a sopa que a mãe prepara todos os domingos. “É uma grande ajuda, dura-me até quinta-feira e poupa-me tempo na cozinha. Até porque almoço sempre na cantina da faculdade, que é muito boa e barata”, acrescenta. Quando mete as mãos na massa, Vanessa Dias opta por cozinhar pratos simples. “Normalmente faço massa, massa com atum, com isto ou aquilo… massa com tudo!”, brinca.
Após um acordo com o namorado, ficou combinado que Vanessa lavaria todos os dias a loiça em troca de nunca limpar a casa de banho. As restantes divisões da casa são limpas pelos dois.
De carro, mota ou Mobilis (o Toma da cidade do Lis). É assim que a universitária se desloca por Leiria, cidade que não conhecia, mas pela qual se apaixonou logo no primeiro ano. “A cidade está em pura ascensão, tem muito movimento, mas ao mesmo tempo não é desgastante, transmite calma. Leiria é linda, tem óptimos espaços para fazer exercício ao ar livre, principalmente junto ao rio Lis”, conta. M.B.R.
“Obrigou-me e a preparar-me melhor para viver sozinha”

Francisca Silva
23 anos
Licenciada em Psicologia na Universidade de Faro
Francisca Silva, 23 anos, terminou este ano na Universidade do Algarve a licenciatura em Psicologia. Em conversa com a Gazeta das Caldas recordou “como foi horrível a primeira semana… Estava muito longe de casa, a 300 quilómetros, e não conhecia ninguém”.
Mal chegou foi viver para um apartamento com seis raparigas divididas em três quartos. A maior dificuldade nesta experiência foi “a partilha de uma casa com mais seis pessoas”, principalmente na cozinha e numa casa de banho que servia quatro pessoas. “Acordava muito mais cedo para preparar tudo”, lembrou.
Sempre se deu bem com as colegas de quarto. “Sou organizada e arrumada e tive sorte nas colegas que tive”, disse Francisca, afirmando ter gostado da experiência.
Recordou que faziam “reuniões uma vez por mês para falar sobre o que estava mal: por exemplo, se uma demorava muito ou outra deixava sujo”. Até porque quando saíam de casa, havia “as inspecções da dona Clarisse, que via se tínhamos a cama feita e o pijama arrumado e se havia louça por lavar”.
Ao início vinha a casa de 15 em 15 dias, mas nas alturas de frequências vinha uma vez por mês, ou vinha duas vezes seguidas e passava mais de um mês sem vir. “Cheguei a ficar quase dois meses lá, mas agora para o fim já era mais fácil”, contou.
A viagem demorava três horas de autocarro até Lisboa e mais uma hora de carro desde a capital até às Caldas.
De Faro recorda “o tempo, que é mais ameno e que era uma das grandes diferenças que notava quando vinha às Caldas. Aliás, ou ficava doente ou com alergias”.
Francisca Silva contou-nos a rotina das saídas de estudantes: “À noite toda a gente vai ao “O Seu” café e depois segue a pé para as discotecas da chamada rua do Crime, na Baixa”, explicou.
No primeiro ano almoçava sempre na cantina e jantava apenas sopa, mas depois começou a cozinhar.
Antes de ir ao supermercado corria as promoções. “Tinha uma aplicação no telemóvel e tudo”, conta.
A bolsa pagava-lhe as propinas, o alojamento e o passe. Recebia uma mesada para as viagens e alimentação. “Tinha de gerir muito bem, mas eu sou boa a gerir, então preferia não sair à noite lá, comprar uma roupa ou comer fora, para poder poupar e vir às Caldas”, explicou.
De cá levava comida congelada e legumes que a mãe comprava.
Contas feitas, foram três anos em que acredita ter crescido imenso. “É difícil estar longe e não ter a família perto, estar doente e ter de me safar sozinha… Obrigou-me a aprender e preparar-me melhor para viver sozinha, a ter a minha casa e a gerir o meu dinheiro”.
Para o futuro segue um mestrado, provavelmente em Lisboa, onde pretende depois arranjar trabalho. “Ou talvez no estrangeiro, quem sabe…”. I.V.
“Vivi três anos numa residência”

Sónia Costa
21 anos
Licenciada em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa
Sónia Costa chegou a Lisboa há três anos. Inicialmente pensou em alugar um quarto, mas após verificar que os preços rondavam os 250 a 300 euros por mês, a residência foi a sua opção (75 euros).
“A ideia que temos de uma residência de estudantes é a imagem que passa nos filmes americanos”, conta Sónia, que depois se apercebeu que o ambiente pode realmente ser de festa, mas há muito mais para além da farra. Cada piso é composto por duas alas, cada uma com uma cozinha comunitária e uma lavandaria. “Entrei em choque quando abri o frigorífico pela primeira vez, estava completamente sujo, e questionei-me como é que ali ia caber a comida de tanta gente”, recorda, acrescentando que depois optou por comprar a meias um frigorífico tipo mini-bar com a sua colega de quarto. “Foi das melhores coisas que fiz porque na cozinha havia muitos roubos de comida”.
Com a colega de quarto a relação nem sempre foi fácil: as jovens não tinham feitios parecidos e os horários das aulas eram completamente diferentes. Sónia entrava sempre mais cedo, por isso tomou muitas vezes o pequeno-almoço às escuras para não acordar a colega. Já no terceiro ano, a estudante de Ciências de Comunicação passou a partilhar quarto com uma amiga do mesmo curso, o que veio facilitar as rotinas.
Ao princípio, Sónia Costa chorava de saudades e vinha religiosamente às Caldas logo às quintas-feiras, pois não tinha aulas no dia seguinte. “Depois fui conhecendo mais pessoas, passei a ter passe em Lisboa e a passear mais, a ir a mais festas… e já ficava lá vários fins-de-semana seguidos”, revela.
Desde o início que Sónia integrou a comissão de residentes – uma espécie de associação de estudantes da residência – que tem como missão organizar festas, sessões culturais e de cinema ou noites de quizz.
As festas realizam-se no espaçoso bar da residência, que também possui salas de estudo, um espaço de convívio, um ginásio e uma cantina.
Já a limpeza das casas de banho e dos quartos é assegurada pelos estudantes, que apontam as tarefas numa grelha.
“Ao contrário do que muita a gente pensa, não há hora limite para entrar ou sair e podemos levar pessoas de fora das 10h00 às 22h00”, explica Sónia Costa, que rapidamente se habituou ao percurso de 20 minutos a pé que demorava até à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
Como o fogão tinha apenas quatro bicos, a caldense optava por levar bastante comida congelada das Caldas. Era só aquecer. Ao almoço, preferia comer na cantina da faculdade.
Por mês, Sónia Costa gastava cerca de 250 euros. Pela primeira vez a gerir o seu dinheiro, rapidamente ficou fã das promoções do Pingo Doce. “Todas as semanas via o folheto e basicamente só comprava o que tinha desconto. Como eu, havia muitos estudantes e, por isso, andava sempre tudo a comer o mesmo”, realça, salientando que as idas ao supermercado costumavam acontecer à quinta-feira. “Parecia que íamos todos em excursão, com os sacos na mão”, ri-se.
A experiência na Residência Universitária Alfredo de Sousa durou três anos. Sónia já está licenciada e segue-se uma pós-graduação. “Sinto que cresci muito graças à residência, que é uma espécie de preparação para o mundo de trabalho”, acrescenta. Afinal, engolem-se muitos sapos, aprende-se a lidar com pessoas muito diferentes e fica-se mais tolerante. M.B.R.
“Gosto de perder tempo a cozinhar ”

João Oliveira
21 anos
4º ano da Licenciatura em Enfermagem na Universidade de Coimbra
Passagem da adolescência para a vida adulta: foi assim que João Oliveira, futuro enfermeiro, encarou a sua ida para a faculdade, há quatro anos. “Ganhei responsabilidade e independência, pois os meus pais deixaram de estar na linha da frente no meu dia-a-dia. Mas, ao mesmo tempo, nunca me senti sozinho porque sei que posso contar sempre com eles”, conta o caldense, para quem a adaptação à nova cidade foi fácil e natural. Afinal, “estamos todos na mesma situação, todos queremos fazer novas amizades”.
João encontrou em Coimbra exactamente aquilo que esperava e identificou-se rapidamente com a mística, as praxes e o ambiente estudantil. A Praça da República é o principal ponto de encontro dos jovens universitários, que ali se reúnem para tomar um café, beber um copo ou seguir para a discoteca. Sai-se principalmente à quinta-feira, a noite dos estudantes.
No primeiro ano João Oliveira partilhou casa com duas raparigas, depois passou a viver com dois rapazes e há dois anos que voltou a morar com duas jovens. “Da experiência que tenho é mais fácil viver com rapazes, elas são mais desleixadas e complicadas”, afirma, salientando que os três colegas de casa definem quem limpa o quê todas as semanas e que cada um lava a sua loiça. As “pequenas guerras” dão-se quando começam a haver muitas tentativas de troca de tarefas entre os três.
“Não me importo de limpar ou de arrumar, nem nunca encarei as lides domésticas como um obstáculo, apenas como uma nova fase que me ajuda a crescer”, releva João Oliveira que, embora venha às Caldas quase todos os fins de semana, nunca teve o hábito de levar comida para o resto da semana. É que o estudante de enfermagem gosta de cozinhar e até considera o tempo perdido à volta dos tachos como um escape ao stress do curso. Por isso, sempre que pode, João come em casa. Só agora, que se encontra no estágio e tem apenas meia hora de almoço, não consegue confeccionar essa refeição. Arroz de marisco, bacalhau com natas e francesinhas são algumas das suas especialidades.
Sem mesada, o caldense vai recebendo dinheiro dos pais conforme as necessidades. O preço de um quarto em Coimbra varia consoante a localização da casa: pode chegar aos 190 euros na zona centro e aos 150 euros em São Martinho do Bispo, onde fica situado o segundo pólo da escola superior de enfermagem.
Relativamente às saudades de casa, João Oliveira assegura que esse sentimento nunca passa, mas que “aprendemos a viver com ele”. Em vez de encarar a distância aos amigos caldenses como um aspecto negativo, o estudante prefere olhar para os quilómetros como uma prova às verdadeiras amizades. “Passei a dar mais valor às pessoas que deixei nas Caldas, mas que, sempre que há oportunidade, estão comigo ao fim-de-semana”, acrescenta. M.B.R.






























