Um grupo de 14 crianças da região de Chernobyl (onde decorreu um acidente nuclear em 1986 que ainda hoje deixa sequelas) esteve no passado domingo no Buddha Eden, no âmbito do projecto Verão Azul, da Liberty Seguros. A visita ao parque temático de Joe Berardo, no concelho do Bombarral, correspondeu ao final da estadia destas crianças no nosso país, num convívio com as suas famílias de acolhimento. Esta foi uma acção que teve a colaboração da Solarsegura, corretora que representa a seguradora Liberty Seguros na nossa região.
O projecto Verão Azul proporciona todos os anos, desde 2008, cinco semanas de férias a um grupo de crianças provenientes de Ivankiv, nos arredores de Chernobyl, onde ainda subsistem elevados níveis de radioactividade desde o acidente nuclear.
José António de Sousa, CEO da Liberty Seguros Portugal, disse à Gazeta das Caldas que o grande objectivo do projecto é “permitir a estas crianças encherem o depósito de saúde, com boa alimentação, sol, praia, e sobretudo iodo, que lhes permite voltar para aquela atmosfera contaminada de Chernobyl e ter uma qualidade de vida maior”.
A selecção das crianças é feita anualmente, directamente em Ivankiv, e procura conjugar dois aspectos fundamentais: “crianças para quem esta vinda representa um importante benefício de saúde e provenientes de famílias carenciadas que não podem, de outra forma, proporcionar aos filhos umas férias deste tipo”, referiu José António de Sousa.
Este ano foram 14 as crianças beneficiadas, mas a seguradora tem perspectivas de aumentar o número de vagas, até porque o número de famílias de acolhimento têm vindo a aumentar.
Todos os anos as férias terminam com um encontro que reúne as crianças, as famílias de acolhimento, os responsáveis pelo projecto e os parceiros. Este ano o local escolhido foi o Buddha Eden, no Carvalhal (Bombarral). “É um marco muito bonito desta zona, é um local que permite um momento aprazível e é também uma forma de ajudar o concelho a divulgar os seus pontos de interesse”, disse o CEO da Liberty Portugal.
A costa portuguesa é ideal para estas crianças devido à riqueza das nossas águas em iodo. Este elemento é bastante importante para as crianças, e não só, que lidam com o ambiente daquela região ainda marcado por índices de radioactividade acima do normal.
O iodo é, segundo a Unicef, importante no combate ao risco de cancro da tiróide, um problema grave entre os jovens provocado pelo acidente nuclear, e a sua carência é também associada como principal causa de atraso mental, podendo levar à diminuição de 15 pontos do QI de uma população.
Três famílias de acolhimento em Peniche
Das 14 famílias que acolheram crianças de Chernobyl este ano, três são de Peniche. Hernâni e Maria João Leitão fazem parte desse grupo, num desafio que abraçaram há cinco anos. Ania Kot foi a criança que os visitou, em 2009, então com nove anos. Tem regressado todos os anos e desde então é mais um elemento da família.
No início a língua ainda foi uma barreira, ultrapassada pela mímica e pelo facto de Ani – como carinhosamente a tratam – saber um pouco de francês. Hoje fala bem português e está perfeitamente integrada. “Sente-se à vontade com a família, com os nossos amigos, com o ambiente de Peniche, é uma segunda casa e uma segunda família para ela, e uma felicidade para nós ela estar aqui e gostar de nós”, contou Hernâni Leitão ao nosso jornal.
As cinco semanas de férias são de “uma felicidade intensa”, mas passam depressa. Durante o resto do ano mantêm contacto através do telefone e da Internet. “Ela nunca se esquece dos aniversários da família toda, liga sempre, nós também ligamos várias vezes, e com o e-mail e o facebook todas as semanas comunicamos. Acompanhamos como ela está, a família, como vão os estudos, é uma ligação muito forte”, acrescenta.
Ania Kot, hoje com 14 anos, diz adorar tudo o que vive em Peniche durante as férias. “Tenho a minha família na Ucrânia, mas eles são a minha segunda família, gosto muito deles”, referiu.
O que mais gosta em Portugal são as praias, mas sublinha que gosta de tudo, sobretudo do carinho com que é tratada. “Sinto que sou o centro, toda a gente pergunta como estou e gosto de sentir esse carinho”, complementa.
É por isso que não quer deixar de regressar a Portugal todos os anos e até tem planos para o futuro. Quer tirar um curso de turismo na faculdade, no seu país e, quem sabe um dia, vir viver para Portugal.
Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt































