Jovens caldenses começam a beber álcool cada vez mais cedo

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Jovens
O seminário sobre os estilos de vida e comportamentos dos jovens decorreu no auditório da Casa da Música em Óbidos

O alcoolismo é o principal problema de dependência que enfrentam os jovens das Caldas da Rainha. As conclusões são do projecto Gerações K, dinamizado pela delegação caldense da Cruz Vermelha Portuguesa, que terminou no final do mês de Dezembro, depois de dois anos de actividade.
Durante este período o grupo trabalhou com 15 turmas de escolas caldenses, num total de 896 alunos, com idades compreendidas entre os 12 e os 26 anos. “A maioria sabe que o álcool é uma droga, embora 24% ainda ache que não”, disse a psicóloga e elemento do projecto, Mafalda Silva, na apresentação que fez em Óbidos, no dia 27 de Janeiro, integrado no seminário Jovens – Estilos de Vida e Comportamentos.
Os dados obtidos na escola mostram ainda que 80% dos inquiridos já tinha experimentado uma bebida alcoólica e que a maioria consumia uma bebida nas suas saídas à noite. A preferência dos jovens vai para o consumo de cerveja, sendo que os principais locais onde bebem são festas organizadas.
Este projecto teve também uma componente de prevenção junto dos jovens à noite, com a colocação de uma unidade móvel na Praça 5 de Outubro onde dinamizavam jogos e serviam cocktails sem álcool.Estas acções tiveram a participação de 900 jovens, mas apenas fizeram 57 questionários, que mostraram que a grande maioria (74%) consumia álcool e também tabaco. “Consomem por estar com amigos e aliam o consumo ao facilitar o divertimento”, explicou a psicóloga clínica.
De acordo com Mafalda Silva, as consequências do consumo de álcool são muito desvalorizadas pelos jovens e pelos pais que ainda “têm muito a ideia de que a bebida é um mal menor em relação ao consumo de outras substâncias psicoactivas”.

Os excessos dos jovens puderam ser comprovados pela equipa do Gerações K na Praça 5 de Outubro. O principal problema não é o consumo que é feito nos cafés, mas as bebidas que são compradas nos supermercados, preparadas e levadas para o local, conta a responsável, adiantando que os jovens, desta forma, “misturam o que querem” e não há controlo.
A média de idades dos jovens que frequentam aquele espaço anda nos 14, 15 anos e normalmente bebem com amigos, sendo desvalorizado o excesso. E se é verdade que de início o álcool tem um efeito desinibidor, também é verdade que os jovens desta idade ainda não têm capacidade para absorver e eliminar o etanol de forma correcta, podendo a longo prazo levar a um aumento de ansiedade, depressão e problemas hepáticos.
“Só entre os 18 e os 21 é que o organismo humano começa a conseguir metabolizar e eliminar correctamente as substâncias que estão no álcool”, afirma a responsável, acrescentando que, por outro lado, a lei permite que a partir dos 16 anos possam ser adquiridas bebidas alcoólicas.
Mafalda Silva alerta que os valores de prevenção do alcoolismo têm que começar a ser incutidos pela família e que a escola deverá continuar esse trabalho, essencialmente na parte da prevenção.
O projecto teve um orçamento de 49 mil euros para os dois anos em que decorreu e foi financiado pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência. Nele trabalharam uma pessoa a tempo inteiro e outra a meio tempo, mas o fim do financiamento por parte daquela instituição publica leva a que o projecto, para ter continuidade, tenha que ser assegurado por voluntários.
“Trabalhámos por ano lectivo com 15 turmas, mas agora não conseguimos dar resposta a mais do que três”, explica Mafalda Silva, que faz um balanço muito positivo do trabalho feito, nomeadamente na alteração de ideias e mitos que existem e relação ao álcool e que pode, a longo prazo, a levar à mudança de comportamentos.
A apresentação do projecto Gerações K – prevenção do abuso de substâncias psicoactivas esteve integrada no seminário realizado em Óbidos e contou com a presença de largas dezenas de jovens, a maioria estudantes da Josefa d’Óbidos.
Presente no evento, o director do Agrupamento de Escolas de Óbidos, Fernando Jorge, destacou a importância da escola no encontro de estilos de vida mais saudáveis para os jovens, dando nota que as últimas reorganizações curriculares têm trabalhado nesse sentido.
O vereador obidense da Juventude, Ricardo Ribeiro, deu nota das várias acções realizadas pela autarquia e destinadas aos jovens, pedindo a sua participação. “Não faz sentido implementar os projectos se não houver a envolvência de toda a comunidade”, defendeu.
O autarca destacou ainda a participação de duas jovens munícipes como moderadoras dos painéis Joana Tavares Nunes, estudante de enfermagem e deputada da Assembleia Municipal de Óbidos, e Márcia Nóbrega, estudante do ensino secundário e elemento do grupo de Jovens Voluntários das Gaeiras.

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