José Paulino (Zé Pinto) é o homem mais idoso de Alfeizerão

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Gazeta das Caldas

Casal Pinto copyJosé de Sousa Paulino, mais conhecido pelo Zé Pinto, nasceu em Alfeizerão no dia 19 de Abril de 1919. Já lá vão 96 anos, o que o coloca no homem mais idoso desta vila. Filho de Joaquim Paulino e de Capitolina de Sousa, teve mais seis irmãos (duas raparigas e quatro rapazes) dos quais só ele e o Francisco Paulino (Chico Pinto) estão vivos.
Apesar da sua avançada idade, quem fala com ele ninguém diz que está perante um homem com perto dos cem anos. Engana bem! Tem uma memória fora do comum. Nunca usou óculos e apenas se nota uma pequena falta de audição. Questionado sobre como foi a sua vida até à data e como foi possível chegar aos 96 anos com uma saúde invejável, diz que sempre fez uma vida normal, nunca se meteu em excessos e que apanhou sempre ar puro porque desde garoto trabalhou no campo. Nunca fumou, mas bebeu, o que era normal nos homens que trabalhavam nas terras de sol a sol. Mas nunca foi além dos limites, acrescentou.
O pai era um pequeno lavrador e Zé Pinto cedo começou a ajudá-lo nas tarefas agrícolas e a lidar com animais. “Por isso, e porque os tempos eram outros, nunca frequentei a escola. Tive oportunidade de aprender alguma coisa quando estive a cumprir o serviço militar. Não o fiz, porque só pensava nos negócios. Mais tarde arrependi-me”. Por volta dos 17 anos foi trabalhar para casa de João da Silva Santos Júnior (conhecido pelo João da Estrada), que tinha uma pensão e uma vacaria. Esteve lá até ser chamado para o serviço militar (Regimento de Artilharia 4 – Leiria). Quando saiu, iniciou uma nova vida, ganhando a sua independência e aos 23 anos casou com Madalena Mota, que naquela altura tinha 21 anos. Do casamento nasceram dois rapazes que vivem em Alfeizerão.
Zé Pinto começou cedo a negociar. Arrendou uns terrenos para fazer as suas searas. “Comprei umas vacas e as coisas foram andando bem e com muito trabalho consegui o meu pé de meia”, contou.
“Fui sempre muito poupado e só assim consegui cumprir com os meus deveres. Não tenho vergonha de dizer que em certas alturas pedi dinheiro para prosseguir os meus negócios, mas também emprestei (sem juros) algum a amigos que tiveram maus momentos nas suas vidas, mas era gente séria pelo que nunca tive problemas. A certa altura comprei um terreno à Junta de Freguesia e ali fiz a minha casa, que é ainda a minha residência actual. No quintal fiz currais para o gado e uma pequena horta que deixei de amanhar. Mais tarde comprei algumas terras que passaram pelas mãos do Dr. Ferrari (que foi médico nas Caldas) e herdeiros de Vitorino Fróis, para desenvolver a minha actividade. Hoje já dividi parte dos meus haveres pelos meus filhos”.
Zé Pinto conta que participou em várias feiras de gado, desde Leiria até à Malveira e nalgumas no Norte, não esquecendo a feira de Alfeizerão que se realizava mensalmente e que era das maiores na zona. Contou, com certo orgulho, que há cerca de 40 anos houve uma reunião no Centro Paroquial de Alfeizerão promovida por um grupo de engenheiros agrónomos com o fim de dar alguns ensinamentos às pessoas que se dedicavam ao ramo da agricultura. Em determinada altura, da parte da mesa foram feitas perguntas à assembleia. Como ninguém usasse da palavra, Zé Pinto, como tinha uma larga experiência sobre o tema em causa, acabou por questionar os técnicos e ao mesmo tempo também deu algumas explicações que levou os engenheiros a elogiá-lo porque também tinham aprendido algo com a sua intervenção.
É um homem bem disposto e com um grande respeito pelo seu próximo. Dá todos os dias as suas voltas e faz as compras necessárias, embora tenha o Apoio Domiciliário da Misericórdia de Alfeizerão. A terminar confidenciou: “Sempre olhei para o futuro de forma a construir uma vida estável, sem riquezas mas com o suficiente para viver de cara destapada, porque sempre assumi as minhas responsabilidades”.
E aos 96 anos Zé Pinto não está só. “Com grande satisfação quero acrescentar que casei há 73 anos e com a minha Madalena temos sido um casal feliz”.

T. Antunes

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