
José Coimbra produz em Santa Catarina um vinho de adega particular em que utiliza processos extremamente rigorosos e exclusivamente naturais. Tudo é controlado desde a evolução da fruta aos estágios do vinho mais envelhecido. Fã dos vinhos particulares, decidiu apostar na produção própria depois de algumas más experiências com o vinho que comprou para consumo. Encontrou no local onde habita os terrenos ideais para produzir o Encosta Broeira. Por enquanto não o comercializa, mas o objectivo é fazê-lo no futuro.
José Coimbra é militar de carreira, mas o tempo que lhe sobra dedica-o a produzir vinho na sua adega particular. Tudo começou por brincadeira e depois de ter apanhando “alguns barretes”, conta à Gazeta das Caldas. O pai, José Tomás Coimbra, chegou a produzir vinho e tinha uma adega desactivada. Por isso a escolha da família em relação ao vinho era o circuito das adegas particulares. “Fazíamos muitos quilómetros para encontrar bom vinho particular”, conta. Depois de algumas experiências negativas, José Coimbra decidiu tentar ele próprio produzir o seu vinho.
Tirou um curso na estação vitivinícola da Bairrada. Restaurou por completo a adega que tinha na propriedade da família. E fez o mesmo à vinha. Ao longo de sete anos testou a combinação de castas que lhe pareceu ideal. Em 2001 fez a plantação que agora explora. “Foi por tentativa erro”, recorda José Coimbra. Syrah é a casta dominante e é complementada por Touriga Nacional e Periquita.
A restauração da adega expôs pedra broeira, com sinais de exploração no passado para a indústria da cutelaria, tradicional de Santa Catarina. É também esta pedra que torna a região interessante para a produção de vinho. “A pedra broeira é porosa, a planta enraíza na pedra e vai ali buscar os nutrientes”, explica.
De resto, uma pesquisa permitiu a José Coimbra conhecer mais sobre a tradição vinícola de Santa Catarina. “No passado era uma região de bons vinhos, até à época em que a filoxera dizimou as castas primárias. Nessa altura começou a usar-se a casta morangueiro, que foi a única que sobreviveu”, refere.
As qualidades da encosta broeira para a produção de vinho dão, por isso, nome ao néctar que produz. Apesar de não ser uma marca registada, pretende fazer esse processo um dia em que inicie a comercialização.
Em 2005 surgiu, então, a primeira colheita de Encosta Broeira. Todo o processo é extremamente cuidado e realizado em família. O pai cuida da vinha. José Coimbra controla a maturação e faz a selecção das uvas. É importante que só as melhores cheguem a transformar-se em vinho. “O objectivo é a qualidade do vinho, não a quantidade. Em 2015 tinha uva para 3 mil litros, produzi pouco mais de 2 mil”, conta.
Controlo máximo em cada passo do processo
É este controlo, explica, que permite que todo o processo seja exclusivamente natural. Não existe qualquer adição de químicos – que provocam alguns problemas de saúde que estão associados ao vinho, como o ácido úrico –, para corrigir o produto final nem açúcares. “A correcção é feita na matéria prima, com a escolha cuidada da uva”, observa.
A vindima e o pisar das uvas também são feitos quase em exclusivo em família.
Em todo o processo, José Coimbra tem um elevado nível de exigência no que diz respeito ao controlo de higiene, uma das áreas nas quais detectou existir uma lacuna em algumas adegas particulares. “Visitámos várias adegas e percebemos que havia uma lacuna a nível técnico na elaboração do vinho, na higiene e no controlo de maturação”, afirma. Na prática, o que percebeu foi que “apesar da evolução que houve no sector, a este nível muita gente continua a fazer as coisas como se faziam há 50 anos atrás”.
A busca pela qualidade, quase uma obsessão, estende-se à maturação do vinho, que é feita em cascos de carvalho de origem francesa, que não fazem mais que três maturações antes de serem totalmente restaurados. “O barril não é só vasilhame, é um método na evolução do vinho na fase de estágio, que lhe dá o perfume baunilhado”, explica.
A preocupação estende-se ainda a pormenores como as características do vidro da garrafa e da rolha, que têm por obrigação proteger o precioso líquido da luz e do ar. E ainda aos produtos utilizados na limpeza dos materiais. “Aqui não entram produtos alcalinos [lixívia]”, que iriam neutralizar os processos de acidificação. A limpeza do lagar é feita com oxigénio activo.
José Coimbra produz vinho tinto, que se distingue pela cor viva, por ser um vinho encorpado, com prolongamento na boca e que deixa ‘lágrima’ no copo. Também produz um branco liso e branco frisado por processos exclusivamente naturais. Nesta adega também se faz aguardente bagaceira e aguardente vínica. Esta última é ainda utilizada para produzir ginja com a técnica utilizada pelos monges de Alcobaça e que lhe foi passada pela mãe, num processo em que a fruta e a aguardente estão a maturar durante 9 meses enterradas no solo.
As bebidas são para consumo próprio e em tertúlias que organiza com os amigos.
Em média, a vinha que tem plantada na propriedade pode dar para entre 3000 a 4000 litros de vinho – embora este ano preveja não ter muito mais de mil litros, devido aos efeitos do clima, que fizeram com que muita da fruta não desenvolvesse.
Passar ao comércio não é para já, mas é algo que José Coimbra não descarta no futuro, quando tiver mais disponibilidade. “Quero elevar este trabalho a outro patamar, mas mantendo as minhas convicções, com os pilares da higiene e da qualidade, só que com mais produção”, diz. Para isso terá que aumentar a produção pelo menos aos 10 mil litros. “Menos não faz sentido”, acrescenta.






























