Joaquim Bernardes – merecida homenagem a uma personalidade democrática do distrito

0
814

Uma personalidade democrática  do nosso distrito, Joaquim Bernardes, opositor à ditadura  e à guerra colonial, foi alvo de uma homenagem no dia 19 de Novembro, levada a cabo sob o patrocínio da Câmara de Leiria, da Junta de Freguesia e do Museu Escolar de Marrazes, localidade onde nasceu há 92 anos e  agora de novo reside.
No acto, além dos autarcas locais, falaram Carvalho Homem, professor da Universidade de Coimbra,  e o ex-ministro  da Administração Interna e da Justiça,  Alberto Costa, também natural de Alcobaça e que tem residência de férias na Foz do Arelho. O actual deputado salientou que “estamos a homenagear uma figura  do nosso distrito  que  deu um contributo relevante à luta  pela instauração da democracia, juntamente com outras personalidades da sua geração, como José Henriques Vareda, da Marinha Grande e Custódio Maldonado  Freitas, das Caldas da Rainha”. Joaquim Bernardes distinguiu-se também, antes e depois do 25 de Abril, na investigação histórica, versando  temas económicos e locais.
Tendo participado nas campanhas democráticas oposicionistas das décadas posteriores à II Guerra Mundial (nomeadamente as de Norton de Matos, Arlindo Vicente e Humberto Delgado), Joaquim Bernardes, foi forçado a exilar-se em França em 1964, na iminência de ser preso pela PIDE (polícia politica do Estado Novo)
Segundo dados constantes de recentes trabalhos históricos, a PIDE foi responsável  por mais de 15.000 prisões e pela encenação de centenas de “julgamentos políticos”. Torturava por sistema os seus presos, que  distribuía por várias cadeias políticas, entre elas o forte de Peniche, conforme foi recordado.
Em 1964 a guerra colonial alargou-se a três colónias sob a condenação das Nações Unidas, quando um governo ilegítimo prosseguia um guerra ilegítima, obrigando os jovens portugueses a participar nela. “A repressão e a perseguição aos opositores recrudescia, passando a incluir entre os seus alvos todos os que se recusavam a combater nessa guerra, conduzida por uma ditadura  sem horizonte”, disse, durante a homenagem, Alberto Costa.
Foi neste contexto que Joaquim Bernardes, em Paris, onde passou a viver, se tornou ”uma  verdadeira referência de solidariedade e de apoio” aos que  se viam obrigados a exilar-se, por se recusarem a participar na guerra ou por serem perseguidos por outros motivos políticos. Uma solidariedade “genuína, não condicionada do ponto de vista partidário, sem espírito de seita, e orientada para os grandes objectivos que se prevaleceriam no 25 de Abril”. Entre os muitos, originários do distrito e de fora dele, que beneficiaram do apoio de Joaquim Bernardes, foram lembrados Alberto Costa, que referiu o seu próprio caso e o do director da Gazeta das Caldas, também presente na homenagem.
Alberto Costa concluiu que não apenas  os  muitos que beneficiaram da solidariedade de Joaquim Bernardes, mas as próprias instituições da democracia portuguesa  “devem reconhecer na sua acção, na sua vida e no seu carácter, um importante contributo cívico, político e moral para o triunfo das convicções democráticas e para a criação das condições que levaram ao fim das guerras coloniais”.
No Museu Escolar de Marrazes, numa iniciativa muito interessante que permite recordar o que eram as escolas durante a ditadura, encontra-se igualmente patente uma exposição biográfica de Joaquim Bernardes, que reúne uma variedade de documentos e de recordações que o homenageado recolheu durante a sua já longa vida.
Joaquim Bernardes nasceu na freguesia dos Marrazes em 7 de Outubro de 1920. Fez os estudos primários na sua terra e até ao 6º ano no Liceu Rodrigues Lobo em Leiria, de onde se transferiu para a Escola Industrial e Comercial de Leiria, tendo terminado o Curso do Comércio quando já trabalhava como empregado de escritório.  Veio mais tarde a fazer o 7º ano do liceu e licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Lisboa. A sua tese de licenciatura foi publicada em 1981 pela Assembleia Distrital e intitula-se ”Leiria no século XIX : aspectos económicos”. Publicou em 1997 “A Freguesia de Santiago dos Marrazes : apontamentos, notas e documentos para a sua história”.
JLAS

Esta homenagem a um homem que nós conhecemos nos idos anos de 1973 na capital francesa e que, com sua esposa Madalena, demonstraram elevadas formas de solidariedade, é merecida.
A família Bernardes restará na memória de muitos pela sua abnegação e pela sua mais sublime manifestação de amizade para com os seus compatriotas, independentemente de credos ou proveniências.
Actualmente, apesar da perda da sua companheira, Joaquim Bernardes, com uma provecta idade, continua imbuído de um espírito de batalhador e de investigador, nas suas áreas de eleição, nomeadamente da História local.
Aqui fica um testemunho e um agradecimento de um amigo que o admira e que dá conta da  justeza desta homenagem que lhe foi prestada pelos seus conterrâneos.

- publicidade -

José Luiz Almeida Silva

- publicidade -