Atleta chegou às Caldas ao 39º dia de corrida, no domingo, de “alma cheia e muito feliz”, apesar do cansaço de 2160 quilómetros percorridos numa sensibilização pelos direitos das crianças
40 dias a correr, 40 etapas, 2222 quilómetros percorridos, a maioria debaixo de um sol intenso, pelos direitos das crianças. É esta a “corrida da vida” de João Félix, que passou pelas Caldas da Rainha na reta final do percurso, que terminou na segunda-feira, na Areia Branca, na Lourinhã.
Pouco passava das 15h30 do passado domingo, quando o sociólogo chegou à Praça 25 de Abril, onde tinha à espera uma meta improvisada com papel amarelo e azul, as cores da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ). Tinha também uma pequena comitiva, composta essencialmente por responsáveis da autarquia, mas também elementos do jardim de infância que entregaram alguns trabalhos feitos pelas crianças. Este acolhimento e apoio “extraordinário”, que tem sentido foi destacado pelo atleta, referindo-se aos grupos de corrida e forças de segurança, que o têm acompanhado em parte do percurso.
Em termos profissionais, João Félix lida diariamente com crianças com situações de vida muito difíceis, pelo que decidiu que, enquanto cidadão, deveria implicar-se e dar a cara por esta causa. O projeto “Volta a Portugal a Correr”, tem sido um “êxito estrondoso”, reconhece. “É um sonho que estou a viver, com o apoio das comunidades, e que é preciso ter continuidade”, contou à Gazeta das Caldas.
João Félix fez-se à estrada de novo na manhã de segunda-feira, acompanhado por alguns companheiros caldenses, para mais 55 quilómetros rumo ao destino final, a sua terra – Areia Branca. Leva também um passaporte, que é carimbado por cada comissão por onde passa e que vai entregar à Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens. E porque a sensibilização tem de continuar, em 2022 haverá nova volta, já agendada para abril, coincidindo com o mês de prevenção aos maus tratos infantis.
A iniciativa merece os maiores elogios de Rosa Henriques, presidente da CPCJ das Caldas da Rainha, que recebeu e acompanhou a partida do atleta. “Ainda ocorrem casos de crianças negligenciadas e vítimas de maus tratos, mesmo muito violentos, pelo que é de louvar esta iniciativa”, considera a dirigente, acrescentando que se trata de um despertar de consciências para uma preocupação que deve ser de todos.
A pandemia fez aumentar as sinalizações, muitas vezes não se tratando de maus tratos diretos a crianças ou jovens, mas porque estão inseridos num ambiente de violência doméstica e vivenciam as situações de agressividade, conflitos verbais e físicos, que comprometem o seu salutar desenvolvimento, explica a responsável.
Entre as problemáticas sinalizadas estão, nas faixas mais jovens, a negligência ao nível da alimentação, saúde e higiene, enquanto que na faixa etária dos 12 aos 14 anos começa a surgir o absentismo e abandono escolar e também situações de violência doméstica no ambiente onde estão integrados. Entre os 15 e os 17 anos, trata-se de jovens que assumem comportamentos desajustados, sem que as famílias se consigam opor de forma adequada.
A CPCJ pode aplicar diversas medidas, mas evitam sempre aplicar a mais drástica, de acolhimento residencial, em que o menor é retirado à família. ■
































