Há várias lojas nas Caldas que na segunda-feira, 27 de Dezembro apresentavam promoções atractivas oferecendo descontos de metade do preço dos seus produtos. A época oficial de saldos começou no dia seguinte 28 de Dezembro, mas em vários espaços do comércio tradicional os descontos iam já entre os 30 e os 50 e nalguns casos até um pouco mais.
Gazeta das Caldas fez uma pequena ronda por comerciantes de vários sectores e constatou que foram fracas as vendas de Natal. Este foi um dos Natais menos concorridos na cidade que precisa de urgentemente criar atractivos para recuperar o vigor comercial de outrora, na opinião desses comerciantes.

“Já tenho promoções cujos descontos chegam aos 50%”, dizia Deolinda Gonçalves, na passada segunda-feira, proprietária de duas lojas de roupa para crianças, a Kikas e a Metro Kids. Os saldos para esta comerciante “servem principalmente para escoar stocks”, acrescentou.
O Natal “foi pior que nos outros anos” e, na opinião desta empresária, “as pessoas reduziram as compras por causa da crise” e, por outro lado, há quem se guarde para aproveitar os descontos dos saldos.
Os saldos oficialmente só começaram a 28 de Dezembro, quarta-feira, mas algumas lojas antecipam um pouco fazendo promoções, reduzindo os preços entre 30 ou até em 50% antes da data prevista.
Para a empresária, a cidade precisava de ter uma melhor sinalização e sinalética para quem vem de fora e sobretudo é preciso criar ”mais atractivos para atrair pessoas do exterior”.
Nuno Jesus – responsável da Açoteia, Vasari, Crazy e Romã – já tinha na passada segunda-feira descontos que atingiam até metade do preço original.
“Vendeu-se mas as quantidades não têm nada a ver com o que se vendia há uma década…”, disse o empresário que concorda que 2007 ainda foi um ano razoável mas desde então para cá, as vendas têm vindo a decrescer. Este ano terão diminuído cerca de 30% em relação ao Natal anterior.
Os saldos servem para escoar stocks até porque “precisamos de realizar dinheiro para reinvestir, em muitos artigos até perdemos dinheiro”.
Na sua opinião “há muita oferta e as pessoas não têm poder de compra”. Também considera que hoje se dá maior importância aos preços baratos e menos à qualidade dos produtos.
Este ano também considera que houve pouca divulgação do comércio tradicional e houve menos actividades de animação, “para atrair clientela às Caldas”. Teme que a crise mundial ainda venha a prejudicar mais países pequenos como Portugal.
“Muito menos gente nas Caldas às compras de Natal”
Durante o período de Natal houve muito menos gente do que nos outros anos, apesar de parecer que as ruas estavam repletas, especialmente aos fins de semana e na véspera de Natal. Contudo é opinião unânime de vários comerciantes da cidade das áreas do vestuário, livros, café, restauração ou electrodomésticos, que a procura caiu drasticamente. Preocupa-os que as pessoas que moram nesta região estejam a transferir as suas compras para outras cidades em redor como Torres Vedras, Alcobaça, Santarém ou Rio Maior “que se tornaram muito mais sugestivas e atraentes do que as Caldas da Rainha”, disseram Dulce e Alexandre Tomás, responsáveis das lojas Túnicas. Essas pessoas “vêm em menor número e menos vezes”, acrescentaram.
Paulo Feliciano, do Restaurante Pachá diz que é notória a diminuição de pessoas sobretudo ao sábado de manhã, que era sempre forte em termos comerciais.
Isabel Castanheira, da Livraria 107, achou surpreendente que na Gazeta das Caldas fossem anunciadas milhares de pessoas e depreende que terá sido num momento especifico e devido a alguma actividade de animação pois na verdade “houve uma enorme diminuição de pessoas”.
A comerciante diz que nos dois dias antes do Natal é que se sentiu de facto um ligeiro aumento nas vendas. Ao longo do ano a livreira sentiu um decréscimo nas vendas na ordem dos 20% em relação ao ano anterior.
A empresária queixa-se que num das zonas mais comerciais e agora pedonal, na Rua Heróis da Grande Guerra “há graffities com asneiras, há várias zonas mal iluminadas, caixotes do lixo cheios, buracos na calçada e fios pendurados em tudo o que e postes que ficaram da aparelhagem que deu música de Natal no ano passado”.
O grupo de comerciantes acha que o desempenho individual não é o mais importante pois “sem o todo não conseguimos ir a lado nenhum e houve dias no período de Natal que parecia que tinham todas fugido”, dizem.
Acham que as Caldas era a cidade natural para as compras para as pessoas desta região e que isso hoje já não é verdade, “deixou de ser assim, as pessoas estão a preferir outras localidades”.
Os comerciantes dizem que o Natal em 2007 foi o último Natal diferente, “pois vinha muita gente de fora para ver as obras que tornaram a Rua Heróis da Grande Guerra pedonal”. Dizem que as pessoas querem é novidade e para tal terá contribuído a acção de muitos comerciantes de colocar as árvores de Natal no exterior dos seus estabelecimentos.
“A imagem da cidade é mal vendida”, disse Paulo Feliciano, que gostaria de ver maior divulgação e que fossem criados atractivos para chamar pessoas de fora.
Falta de atractivos leva ao declínio da cidade comercial
“O decréscimo nas vendas deste Natal representa a decadência das Caldas enquanto cidade comercial e pior que isso arriscamo-nos a que, se nada for feito, o centro da cidade vai ficar morto”, disseram. Notaram que antes se fosse preciso fechavam as lojas muito para lá da hora de jantar ao passo que este ano em alguns dias “às 18h00 fechava-se a porta pois não havia ninguém na rua”.
Em relação ao Natal de 2009, o Café Creme também sentiu uma diminuição nas vendas “na ordem dos 30% a 40%”, disse Vítor Brito, responsável daquele estabelecimento.
A Benetton Underwear não aposta para já nos saldos, prefere iniciar os descontos na próxima segunda-feira. Cecília Oliveira diz que o decréscimo nas vendas “se tem sentido de forma diária e há muito menos gente a circular nas ruas”. No ano passado na sua loja “éramos três e não tínhamos descanso, este ano éramos duas e estivemos paradas muitas vezes”. Aponta o dedo ainda para a falta de sinalização, sinalética, estacionamento e uma deficiente circulação de trânsito.
“A cidade está a morrer aos poucos”. Palavras de José Ventura, da loja Electrolider que acha que os comerciantes precisam de ter aliados fortes como a Câmara e a ACCCRO de modo a ultrapassar este momento que entende mais difícil para o comércio tradicional.
Dantes ir às compras significava Caldas da Rainha enquanto que agora as pessoas escolhem outros destinos como, por exemplo, Torres Vedras ou um outro grande ponto de atracção, o Shopping de Leiria.
“Nós precisamos de novidades constantes para continuar a atrair pessoas”, disse Alexandre Tomás que ainda acrescentou que, como os tempos estão difíceis e não há dinheiro para manter regularidade nas realizações, então que as poucas que se façam “sejam bem programadas, comunicadas e acima de tudo tenham qualidade”. Não existir atractivos para quem visita a cidade significa, para este grupo de comerciantes das mais variadas áreas, o declínio acentuado e mais lojas fechadas que vão ocorrer em pleno coração da cidade.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt






























