Irmãos Ribeiro Teles contaram vivência de juventude com o cavaleiro caldense
Cem anos depois da partida da primeira Volta a Portugal a Cavalo, a Sociedade Hípica Portuguesa voltou a ser ponto de partida, desta vez para a recriação dessa efeméride e da vitória de José Tanganho, numa jornada empreendida por Pedro Bernardo, bisneto de Tanganho, e por João Belga. No mesmo dia 10 de outubro, em que, em 1925, os cavaleiros partiram rumo ao país profundo, amigos, familiares e admiradores reuniram-se no Campo Grande, em Lisboa, para evocar José Tanganho.
Os cavaleiros João e António Ribeiro Teles recordaram o convívio de infância e juventude com o homem que o pai, o Mestre David Ribeiro Teles, tanto admirava. “O meu pai tinha uma devoção enorme pelo Sr. José Tanganho”, contou João Ribeiro Teles, explicando que durante décadas, os almoços em família eram preenchidos com histórias sobre Tanganho.
O cavaleiro caldense foi mais do que um amigo, foi presença constante na vida da família Ribeiro Teles, chegando mesmo a viver com eles e a acompanhar o patriarca nas corridas. “O meu pai dizia que ele era um poço de força, e tinha uma piada fora do normal. Nunca acertava nos nomes – nunca soube dizer Bacatum, chamava-lhe sempre Brecatum; e ao Jaguar do João Parreira Cano chamava Rajá”, recordou entre risos.
Tanganho era, segundo João Ribeiro Teles, um homem de coração generoso, de aventuras mil, que acompanhou o pai até África e que, mesmo nos momentos mais difíceis, conservava humor e coragem. “O meu pai dizia que ele era do cavalo, do touro e do mundo inteiro”, resumiu, afirmando que ao ver o bisneto, Pedro Bernardo, lhe trouxe de imediato à memória o cavaleiro.
António Ribeiro Teles trouxe consigo uma memória física dessa amizade. “O Sr. José Tanganho perdeu este anel na Praça da Torrinha, enquanto trabalhava um cavalo à mão”, contou, mostrando a joia gravada com as armas de Faro, símbolo da etapa que Tanganho venceu nessa cidade. “O anel esteve perdido uns dez anos. Um rapaz achou-o e levou-o ao meu pai, que o reconheceu de imediato e o mandou recuperar”, revelou. Mais do que o objeto, é o que este simboliza que permanece, a ligação entre duas famílias e a filosofia de vida de um homem do campo. “A máxima do Sr. José Tanganho era o ‘aguentar’. O meu pai dizia muitas vezes, aguentar para pôr o ferro no toiro, aguentar para não dar uma chapada num ‘gajo’ que se estava a portar mal”, ao que ainda hoje se chama de “uma tanganhada”, lembrou.
O presidente da Câmara de Coruche, Francisco Oliveira, evocou a importância de José Tanganho para o concelho, onde viveu parte da sua vida. “Marcou a história do nosso país, do hipismo e da tauromaquia. É importante perpetuar estas memórias e trazê-las aos mais novos”, afirmou, sublinhando o valor de manter viva uma herança cultural que considera “parte da identidade de um povo”.
José Manuel Figueiredo, presidente da Sociedade Hípica Portuguesa, lembrou o contexto histórico da prova que agora se está a recriar. “Há cem anos não havia segunda circular, nem aeroporto, e isto eram terrenos periféricos. Mas já então, daqui partia a Sociedade Hípica Portuguesa para eventos que marcaram o país. É com orgulho que acolhemos esta homenagem a um feito histórico”, declarou.
Em nome da organização, Pedro Bernardo agradeceu o envolvimento de todos e sublinhou o simbolismo do momento em que a bisneta de David Ribeiro Teles, Madalena, colou o primeiro autocolante na Favorita, nome dado à carrinha em que fazem a Volta do Tanganho, numa alusão à montada com que o cavaleiro conquistou o primeiro lugar, o Favorito.
O administrador da Gazeta das Caldas, José Luís Almeida, que é parceira na iniciativa, destacou “a humanidade e a generosidade” que se revelaram nas histórias partilhadas. “Estas não são apenas memórias do passado, são exemplos de vida”, afirmou, lembrando a ligação de Tanganho à região das Caldas e o apoio institucional que acompanha esta recriação histórica.
Durante 25 dias, o nome de José Tanganho volta a ‘cavalgar’ pelos caminhos nos quais fez história. No final da aventura, da qual Pedro Bernardo e João Belga vão fazer uma interpretação artística, será criada uma exposição que ficará patente no CCC.


































