Há gente a desenvolver software que melhora a qualidade de vida de deficientes e de pessoas, que devido a um acidente, viram as suas capacidades diminuídas. Em Dezembro esteve nas Caldas da Rainha, Luís Figueiredo, docente e investigador do Instituto Politécnico da Guarda, que tem desenvolvido equipamentos sofisticados que, por exemplo, permitem conduzir cadeiras de rodas ou mexer num computador apenas com o olhar.

Luís Figueiredo e os seus alunos têm desenvolvido nos últimos anos várias aplicações que são quase “milagrosas” para quem as utiliza, mas o Estado português não está a apoiar o seu desenvolvimento, preferindo comprar sistemas inferiores e mais caros no estrangeiro. Quem sofre de limitações físicas graves e usa as aplicações portuguesas, classifica-as como essenciais para o seu bem-estar.
Foi a convite do Centro de Recursos e de Tecnologias para a Educação Especial (que está implementado na sede do Agrupamento de Escolas de Sto. Onofre) que o engenheiro Luís Figueiredo veio às Caldas para fazer um workshop sobre a tecnologia ao serviço das pessoas com dificuldades de aprendizagem ou que sofrem de doenças ou deficiências incapacitantes.
É um admirável mundo novo aquele que o docente do Instituto Politécnico da Guarda apresentou nas Caldas e que chegou até a emocionar aqueles que assistiram à apresentação, entre terapeutas, técnicos de reabilitação e estudantes da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro.
Luís Figueiredo deu a conhecer um teclado virtual que possui um dicionário em Português com mais de 700 mil palavras designado Magic Keyboard. “Tem cerca de três milhões de ligações entre as palavras, adapta-se à escrita de cada utilizador e permite ainda o reconhecimento de voz para activar qualquer função”, explicou o mentor destes equipamentos, que possui mestrado em Electrónica de Telecomunicações.
O convidado apresentou várias aplicações informáticas que facilitam a execução de tarefas simples em casa, no trabalho ou na rua, que passam a estar ao alcance de pessoas com graves limitações físicas. São sistemas de controlo de dispositivos por infravermelhos ou radiofrequência que possibilitam acender ou apagar as lâmpadas, ligar ou desligar equipamentos e subir ou descer uma cama articulada.
Os últimos desenvolvimentos desta tecnologia deram origem à Magic Wheelchair, uma cadeira de rodas eléctrica que se movimenta apenas com o olhar. “Se olharmos para cima a cadeira anda para a frente, se olharmos em frente aumenta a velocidade e se olharmos para baixo anda para trás”, explicou Luís Figueiredo. Esta possui uma webcam e um conjunto de 10 sensores, que identificam os obstáculos e fazem parar a cadeira se detectarem uma parede ou outro obstáculo. Boas notícias para quem sofre de limitações físicas graves que não permitam movimentar a cabeça ou os dedos das mãos.
O convidado mostrou como a cadeira tem sido bem sucedida, mostrando um vídeo com o presidente da Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica, Pedro Monteiro, a usá-la. Esta doença impede-o de utilizar a voz, bem como qualquer movimento voluntário do seu corpo, com excepção dos olhos. A mente continua, contudo, 100 por cento activa. Nas imagens, este utilizador (que foi motard), à medida que testava as capacidades da nova cadeira, reproduzia o som que a sua mota fazia, antes de ser atingido por esta doença incapacitante.
Ao longo da apresentação dos sistemas, Luís Figueiredo foi dando a conhecer os testemunhos de quem usa as diferentes aplicações e referiu várias vezes que “a força de querer comunicar“ também é essencial para colocar em funcionamento toda esta tecnologia ao serviço da saúde.
É é quando Luís Figueiredo leu um e-mail de Paulinha, uma das beneficiárias do software, houve quem se emocionasse pela alegria legítima desta utilizadora quando aprendia a usar o software que lhe permitia comunicar e resolver algumas situações do dia a dia.
Falta de apoios poderá colocar em causa a continuação dos projectos
A sala da biblioteca está à média luz e rolam lágrimas nos rostos de quem assiste a esta sessão. Mas elas vão continuar a rolar porque Pedro Monteiro, o utilizador da nova cadeira, diz que não há nada melhor no mundo “do que ter olhos mágicos”. Ou porque mestre Roberto, um pescador açoriano com a 4ª classe que até ter sido atingido por uma doença incapacitante nunca tinha mexido num computador, agora até tem um blogue e é membro de uma comunidade que sofre da mesma doença.
E porque há doenças que fazem com que as pessoas precisem de ajuda para tudo, excepto para pensar, “nenhum dos equipamentos está acabado”. O engenheiro Figueiredo diz que estes equipamentos são como as pessoas pois estão sempre a crescer e como cada caso é um caso, “temos feito melhorias em todas as aplicações”.
Segundo o convidado, as suas aplicações já estão a chegar ao estrangeiro, depois de vários portugueses, do continente e ilhas, terem tido acesso a esta tecnologia. Neste momento já há gente na Suécia e no Brasil que beneficia destas aplicações. Há contactos com empresários europeus para estudar a possibilidade de começar a produzir para outros países como, por exemplo, a Bélgica.
Quanto aos apoios estatais a esta investigação “seria difícil ser pior…”, queixa-se o docente, que tem disponibilizado equipamentos e “as pessoas não conseguem junto das entidades públicas os apoios necessários para a sua aquisição”. Logo não há grande retorno financeiro, “o que poderá colocar em risco o futuro deste projecto”. Luís Figueiredo chega a temer a falta de viabilidade financeira para o desenvolvimento dos equipamentos “pois não há qualquer apoio nem na fase de investigação nem de instalação”.
O investigador diz que é difícil um Politécnico do interior do país “fazer-se ouvir nos corredores do poder” e também estranha que os seus pedidos caiam em saco roto junto da Fundação de Ciência e Tecnologia.
O engenheiro não está satisfeito com as opções do Estado português que prefere adquirir software internacional “quando há soluções em Portugal que custam muitas vezes um terço do preço”. Para já, são os emotivos relatos e a vontade de ajudar quem precisa que mantêm os investigadores activos, mas “há limites para tudo…”, lamenta.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt






























