A draga remove, por hora, 90 metros cúbicos de areia, juntamente com 200 metros cúbicos de água
Alvo de uma intervenção de emergência, para centrar o canal da aberta que a liga ao mar e para desassoreamento de parte do seu corpo, a Lagoa de Óbidos tem originado muita curiosidade durante o decorrer das obras.
No passado dia 16 de Janeiro foram as crianças que frequentam a escola do primeiro ciclo da Foz do Arelho, acompanhadas pelo professor António Vieira, que foram conhecer “in loco” o que ali está a ser feito, contando com as explicações dos técnicos do INAG e da empresa Irmãos Cavaco, que a está a realizar.
Ana Seixas, vice-presidente do INAG, deixou por horas o papel de engenheira para assumir o de professora e explicar, numa linguagem simples e acessível, que a Lagoa de Óbidos “está a ficar velhota” e que, por isso, de tempos a tempos, necessita de uma intervenção.
Curiosas, as crianças quiseram saber como funcionam as dragas e tiveram mesmo oportunidade de, junto delas, registar a remoção das areias do fundo da lagoa. Actualmente encontram-se três dragas a operar (duas na margem norte e uma na margem sul) que removem, em média por hora, 90 metros cúbicos de areia, juntamente com 200 metros cúbicos de água.
A vice-presidente, Ana Seixas, conduziu a visita guiada pelas obras na Lagoa de Óbidos
As máquinas, que estão a trabalhar durante 24 horas, possuem no final do tubo de sucção uma rede, que impede a remoção de pedras e também dos bivalves e peixes que habitam este ecossistema. “Estamos a tentar criar condições para que a Lagoa se mantenha viva, sem haver problemas com os bivalves, pássaros e pessoas”, assegurou Ana Seixas.
As crianças ficaram ainda a saber que as máquinas, que funcionam como “aspiradores” de terra do fundo da Lagoa, são conduzidas por mestres habilitados pela Marinha.
Os alunos, com idades compreendidas entre os seis e os 10 anos, receberam ainda algumas lembranças do Instituto da Água, que mostrou disponibilidade para fazer mais visitas deste género.
Ana Seixas destacou ainda a preparação dos alunos, que lhe apresentaram perguntas “muito interessantes”. A responsável acrescentou que o INAG tem sempre disponibilidade para explicar as intervenções e as faz sempre de forma muito suportada do ponto de vista técnico, com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil e o IPIMAR (Instituto de Investigação das Pescas e do Mar).
A responsável reconhece que estas obras suscitam muito a curiosidade das pessoas, mas também acha que estas já perceberam que, devido à sensibilidade do ecossistema, não poderá haver uma intervenção definitiva.
O Plano de Gestão Ambiental da Lagoa prevê ainda a dragagem de outros canais, que vai até às cabeceiras da Lagoa, tanto do lado norte como sul. Ana Seixas explica que a intervenção está a ser programada e que este ano será feito o seu projecto de execução. Apesar de não ter uma data para apresentar, a responsável do INAG adianta que a intervenção foi candidatada a fundos comunitários e possui verbas no Orçamento de Estado, embora ainda não esteja definido o seu montante.
Obra concluída em meados de Março
A foto de grupo, que juntou alunos, professores, responsáveis do INAG e da empresa Irmãos Cavaco
Com os trabalhos a decorrerem a bom ritmo, Rui Pinho, director da obra e técnico da empresa Irmãos Cavaco, garante a sua conclusão nos prazos previstos, em meados de Março.
Actualmente encontram-se a trabalhar na empreitada 30 pessoas, por turnos, o que leva que as máquinas estejam a trabalhar durante 24 horas.
A empresa subcontratou a execução dos trabalhos à empresa do Algarve Sofareia que, por sua vez contratou quatro trabalhadores locais para colaborar com os seus trabalhadores nas máquinas. “É uma forma de dar trabalho ao pessoal da região e para nós também é bom”, refere Cláudio Brás, da Sofareia, explicando que em obras de elevada dimensão a empresa costuma contratar pessoal não especializado, que depois vai aprendendo com os seus trabalhadores mais especializados.
A empreitada, que consiste na dragagem de 350 mil metros cúbicos de areia no canal de desassoreamento ao longo de dois quilómetros, decorre desde inícios de Dezembro e está a ter o acompanhamento da Polícia Marítima, mas as pessoas continuam a circular nas imediações.
Só depois da obra concluída haverá noção do seu real impacto, mas segundo Cláudio Brás já é notória uma maior troca de águas durante as marés. “Durante a maré baixa, já está mais funda do que antes”, explica o responsável, acrescentando que o canal de ligação ao mar deverá ficar com uma largura entre 45 e 70 metros e uma profundidade de um metro durante a maré baixa e 3,5 metros durante a maré alta.
Neste momento metade dos trabalhos já estão feitos. “A aberta já foi deslocada, está praticamente na posição final, mas depende também da agitação marítima”, explica Rui Pinho. As dragagens têm compreendo a zona entre o cais e a aberta e agora preparam-se para trabalhar a montante, para o corpo da Lagoa, num cumprimento de cerca de 500 metros além do cais.