A psicóloga Rosalinda Chaves, que trabalha na Associação de Desenvolvimento Social da Freguesia de A-dos-Negros (ADSFAN), quer pôr os idosos a fotografar. Para que os utentes de um lar possam, através da fotografia, expressar-se e mostrar o que é importante para cada um deles. Mas para poder comprar as máquinas digitais, a psicóloga está a desenvolver projectos solidários, aliando-se aos seus amigos a fim de obter verbas para tal. No dia 25 de Março promoveu um evento de sopas e tapas no Caravela (Foz do Arelho) e já obteve dinheiro para comprar as duas primeiras máquinas para o projecto.Natacha Narciso
Cheira bem na cozinha do Caravela. Ultimam-se os pormenores do Caldo à Fonte Santa (carne), da Sopa dos Piratas (peixe) e também para os vegetarianos, havia a proposta de uma Sopa da Floresta. Há um grupo de senhoras que já cozinhou ovos com farinheira, moelinhas, tapa de salmão e patés de queijo. As sobremesas foram bolo de laranja, de bolacha e com frutos vermelhos. O custo dos vários pratos não foi excessivo, rondando entre os 3,00 a 3,50 euros de modo a ser possível obter um euro de lucro em cada prato. O objectivo disto tudo era obter receitas para comprar máquinas fotográficas digitais para o projecto Photovoice, contou Rosalinda Chaves, uma das responsáveis pela iniciativa que é psicóloga na ADSFAN. Entre os projectos que esta técnica desenvolve com os idosos da instituição, está o Photovoice que é “uma metodologia de investigação já criada e testada para trabalhar problemas, questões internas, ou emoções através da imagem fotográfica”, explicou. A psicóloga vai trabalhar com um grupo de residentes que estão no lar da ADSFAN a quem vai ser dado um tema por semana. Depois terão que tirar fotografias consoante a sugestão. “Queremos começar por investigar o bem-estar dos utentes”, disse a coordenadora do projecto. Cada idoso ao longo do dia tem a missão de tirar uma fotografia a algo que considere importante. “Depois vai ter que explicar o porquê da sua escolha”, disse a psicóloga. “Nós técnicos achamos que sabemos o que é melhor para os utentes. Vamos deixar que sejam eles a dizer-nos o que mais lhes importa”, disse a coordenadora do Photovoice, explicando que foram escolhidos participantes com mobilidade e sem demência. “É uma população rural, pouco letrada e com pouco ou nenhum acesso às tecnologias”, disse Rosalinda Chaves. A psicóloga está no IPL a tirar o mestrado em Intervenção e Animação Artística e é com gosto que usa as artes como método para trabalhar questões relacionadas com as áreas sociais. O seu pai é fotógrafo amador e por isso “sempre cresci próxima das imagens e dessa linguagem”.
FOTOS DOS IDOSOS EM EXPOSIÇÃO
O Photovoice vai permitir “dar a voz às pessoas e que a comunidade os possa ouvir”, disse a psicóloga, explicando que as fotografias captadas pelos idosos vão depois fazer parte de uma exposição no final do projecto. A coordenadora apercebeu-se também que a grande maioria do grupo “nunca tinha tirado uma fotografia, o que é estranho nos dias de hoje, já que é algo tão transversal”. Se este primeiro Photovoice correr bem, a ideia é que se repita com outro grupo do Centro de Convívio e depois entre aqueles que usufruem do Apoio Domiciliário da instituição. Rosalinda Chaves, 30 anos, está desde Setembro passado a tentar apoios para este projecto, com pouco sucesso. Para a sua realização precisaria idealmente de cerca de 7.000 euros, mas com metade do orçamento já conseguiria iniciar o projecto. O principal são as máquinas fotográficas e até agora a psicóloga ainda não conseguiu nenhum apoio das marcas desta área. E como o Photovoice é mesmo para avançar, a psicóloga arregaçou as mangas e quis fazer uma primeira iniciativa com o intuito de angariar fundos para a compra das máquinas. E assim nasceu este evento solidário. A associação também já participa noutras iniciativas do concelho vizinho como o Festival de Sopas ou a Feira Medieval e por isso decidiu apostar nas sopas e nos petiscos para angariar fundos. O evento contou com animação musical com Vítor Mata que apostou sobretudo nas canções de intervenção.
“MUITO MAIS DO QUE UM ESPAÇO DE ENTRETENIMENTO”
Há um ano que Gonçalo Jorge, 33 anos, toma conta do Caravela, após ter obras de remodelação. Aberto a iniciativas de solidariedade, também promove a cultura e os novos projectos de empreendedorismo que querem implementar-se na região. Além de ser amigo de Rosalinda Chaves e de ter aberto as portas do seu espaço para angariar fundos para o projecto Photovoice, a cozinha do Caravela também já abriu para receber chefs convidados, como foi o caso de Anabela do Cais da Praia, que coordenou uma noite de tapas e em breve haverá mais noites com chefs. “Queremos que venham divulgar seu trabalho e que nos possam ensinar novas técnicas”, disse Gonçalo Jorge, acrescentando que se aposta sobretudo no conceito das tapas e petiscos. Em breve serão organizados “talk shows” transmitidos em streaming, que vão decorrer antes do Verão. “Queremos apostar em conversas sobre empreendedorismo e em áreas originais”, disse o responsável que se formou em Gestão Turística e Hoteleira e que antes de ter o seu negócio, trabalhou na Escola de Vela e no Cais da Praia. Além de ser um agradável espaço de convívio, Gonçalo Jorge quer que este estabelecimento comercial seja um pouco mais do que um bar. “Não é apenas um bar de copos, mas também de festa, de divulgação e de entreajuda que é isso que estamos a desenvolver na Foz do Arelho”, disse.

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