
Desde há um mês que agora o CHO em Torres Vedras deixou de ter capacidade para produzir citotóxicos (produtos usados no tratamento de cancro), depois de o Infarmed ter mandado encerrar aquela linha de produção que abastecia o hospital caldense desde há um ano. Os citotóxicos vêm agora do Hospital de Santa Maria (Lisboa) numa situação que é provisória.
Há um ano fora o hospital das Caldas que viu encerradas as instalações onde aqueles produtos eram preparados, também devido à detecção de não conformidades. Depois disso não foram feitas quaisquer obras nem as mesmas estão previstas, nem a administração do CHO sabe, sequer, quanto poderão custar.
Questionados pela Gazeta das Caldas, os candidatos à Câmara das Caldas dos vários partidos lamentam esta situação e tecem críticas mais ou menos contundentes ao estado a que chegou o hospital caldense.
PRIMEIRO FOI AS CALDAS…

Inícios de Abril de 2016. No Centro Hospitalar dos Oeste fazem-se tratamentos de quimioterapia para doentes oncológicos nos hospitais das Caldas da Rainha e de Torres Vedras. Cada hospital tem a sua própria farmácia, onde técnicos especializados preparam os citotóxicos que são usados naqueles tratamentos.
É uma situação normal em hospitais normais, que cumprem a sua missão de tratar doentes com os produtos ali preparados.
Mas este tempo de “normalidade” está prestes a chegar ao fim.
Décadas de desinvestimento na farmácia do hospital e um maior rigor das autoridades no controlo destes processos, leva a que, após uma inspecção do Infarmed, a produção de citotóxicos seja suspensa nas Caldas da Rainha. Estávamos em 15 de Abril de 2016.
A solução encontrada no imediato foi transportar, a expensas do CHO, os doentes para Torres Vedras a fim de lá receberem o tratamento. Uma medida que não foi, obviamente, do agrado dos doentes, já de si fragilizados pela natureza da doença, a que acresciam agora as deslocações ao outro hospital.
Três dias depois, a Assembleia Municipal das Caldas da Rainha aprova por unanimidade uma moção na qual se pede uma reunião urgente com a administração do CHO e onde os deputados se mostram perplexos com a “possibilidade de o serviço vir a encerrar”. Por isso, os eleitos apelam a que “de imediato se iniciem as obras necessárias”.
Mas não houve obras.
Poucas semanas depois a administração do CHO encontra outra solução: em vez dos doentes irem ao encontro dos citotóxicos a Torres Vedras, serão os citotóxicos que virão ao encontro dos doentes às Caldas. Os produtos passam a ser transportados entre as duas cidades e o Hospital de Dia de Oncologia caldense mantém-se operacional.
…E DEPOIS TORRES VEDRAS
Mas um ano depois, na sequência de uma nova inspecção do Infarmed, desta vez ao Hospital de Torres Vedras, descobrem-se também não conformidades e a preparação daqueles produtos é suspensa. Desde finais de Abril de 2017 que o CHO não tem preparação de citotóxicos.
“A solução encontrada passa pela cedência de instalações por parte do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, para a preparação dos citotóxicos, continuando o CHO a ser responsável pela prescrição da medicação, pelo transporte dos medicamentos, pela medicação, e pelos recursos humanos necessários à preparação dos mesmos (deslocação de profissionais do CHO até ao Hospital de Santa Maria)” refere a administração do centro hospitalar em resposta a perguntas do nosso jornal. Acrescenta ainda que “a medicação continua a ser administrada nas instalações do Hospital de Dia de Oncologia de Torres Vedras e no Hospital de Dia de Oncologia de Caldas da Rainha, pelo que não haverá quaisquer implicações clínicas para os doentes”.
Gazeta das Caldas apurou entretanto que esta solução é provisória e, para já, apenas para o mês de Maio. Questionada sobre quando e como prevê resolver as não conformidades do hospital de Torres Vedras, a administração do CHO não respondeu.
E questionada sobre o motivo porque, passado um ano, não houve obras na farmácia do hospital caldense e qual o valor desse investimento, a administração do CHO disse, simplesmente, que “os investimentos necessários ainda não estão quantificados”.
O que dizem os candidatos
Gazeta das Caldas pediu um comentário aos candidatos até agora conhecidos à Câmara das Caldas sobre esta situação do hospital caldense. Os depoimentos evidenciam um desagrado pela funcionamento do CHO, reabrindo o debate sobre um novo hospital, e referem o “erro” da fusão dos hospitais das Caldas da Rainha e de Torres Vedras, bem como a necessidade de investimentos.
Decididamente o hospital das Caldas vai ser um dos pontos mais importantes no debate eleitoral para as autárquicas.
“As exigências da medicina moderna não são compatíveis com um hospital velho”
A questão da interrupção da produção destes medicamentos no Hospital das Caldas é apenas a ponta do icebergue para se perceber como está dificultada a operacionalidade deste hospital em geral. As exigências da medicina moderna não são compatíveis com o funcionamento de um hospital velho. A proibição do fabrico destes medicamentos em Torres Vedras só vem acentuar, de uma forma muito evidente, a falta de um hospital novo no Oeste.
Se Torres Vedras já está razoavelmente próxima de Lisboa, Caldas da Rainha está actualmente numa situação ultra-periférica em termos de cuidados hospitalares. Entre Loures e Leiria, onde existem hospitais recentes e funcionais, somos a centralidade de uma região de 300 mil habitantes com padrões hospitalares de zonas subdesenvolvidas.
O recuo da Câmara das Caldas na reivindicação de um novo hospital atrasou este processo em quatro anos, no mínimo. A falta deste investimento, que será inevitável, e as hesitações da Câmara são facturas muito caras, pagas pela saúde dos cidadãos.
Lino Romão (BE)
“É necessário continuar a insistir na realização de investimento”
“A proibição da preparação de citotóxicos no Hospital de Torres Vedras pelo Infarmed vem confirmar a urgente necessidade de continuar a exigir junto do Governo as obras necessárias para que a preparação destes produtos possa ser feito no Centro Hospitalar do Oeste.
Ainda recentemente e depois de várias iniciativas da Câmara Municipal das Caldas da Rainha junto dos responsáveis da ARS e do Ministério, vimos confirmado o lançamento do Concurso para as tão necessárias obras nas urgências do Hospital das Caldas da Rainha.
É necessário continuar a insistir na realização de investimento na renovação de equipamento, na contratação de mais profissionais e na formação do pessoal para que possamos ter na região uma cobertura de saúde de qualidade e que possa acompanhar o desenvolvimento económico e social que temos tido.
Fernando Tinta Ferreira (PSD)
“Situação não apenas provisória, mas infelizmente uma perda definitiva”
“Esta é uma perda que vem na sequência de outras anteriores, motivadas pela crescente degradação do Hospital das Caldas e das unidades do CHO em geral e consequentemente na qualidade dos serviços de saúde prestados à população.
Nada nos é apresentado, que motive qualquer indicação de que alguma coisa vai, ou pode mudar. As obras previstas e há muito adiadas, dizem respeito às urgências e nada têm que ver com a questão dos citotóxicos. Pelo que me parece que a situação não é apenas provisória, mas infelizmente uma perda definitiva, por falta de condições dos Hospitais de Caldas e Torres.
A irreversibilidade desta grave situação só é resolvida com a construção de um novo hospital, pelo qual compete aos autarcas da região lutar, começando por se entenderem sobre a sua localização e esta responsabilidade é exclusivamente sua. Esta é uma posição que tenho vindo a manifestar desde há muito. E os factos confirmam-na.
Rui Gonçalves (CDS/PP)
“Uma evidência lamentável do erro que foi a fusão”
O encerramento do Hospital de Dia Oncológico da Unidade das Caldas, em abril de 2016, e agora o da unidade de Torres Vedras, é mais uma evidência lamentável do erro que foi a “fusão” destas duas unidades do CHO feita pelo anterior Governo.
Não se compreende a transferência da preparação deste tratamento para a unidade de Torres Vedras, quando o Hospital das Caldas será o mais adequado do CHO nesta especialidade.
Ao invés de se investir na correção das desconformidades, nas obras e equipamentos necessários na Unidade das Caldas, que é o único do CHO que tem no mapa de pessoal um médico com competência em Oncologia, deslocou-se a preparação dos citotóxicos para outro hospital que, como agora se verifica, não tinha melhores condições que o das Caldas para o efeito.
Situação que agora se agravou, uma vez que a preparação dos citotóxicos está a ser feita no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, acarretando com isso tempos de espera superiores para o início da administração da quimioterapia aos doentes, para além das deslocações de enfermeiros, material e equipamento.
Defendendo, embora, uma nova Unidade Hospitalar que sirva o Oeste Norte, entendo que, até lá, não pode diminuir a qualidade dos cuidados de saúde prestados à nossa população, o que pressupõe investimento em recursos humanos e na beneficiação das instalações e de serviços do Hospital das Caldas. É a isso que me proponho, nesta matéria, enquanto candidato à Câmara das Caldas.
Luís Patacho (PS)
“Torna-se evidente a imprescindibilidade de um novo hospital”
Esta notícia não é, infelizmente, uma surpresa. Pelo contrário, confirma mais uma vez a grave e preocupante situação em que se encontra o CHO, com índices comparativos abaixo da média nacional, o que o posiciona como um dos piores senão o pior do país. A esta conjuntura, não é decerto alheio, o desinvestimento e a desorçamentação dos últimos anos que avolumaram o passivo financeiro, piorando o quadro geral de funcionamento, bem como o contributo da anterior administração, empenhada não no encontrar soluções, mas sim em tornar mais difíceis e problemáticas as já de si complicadas circunstâncias que se viviam.
No hospital das Caldas o panorama torna-se ainda mais inquietante: não só não foram feitas as obras necessárias para viabilizar a superação da proibição referida, como a ampliação das Urgências também não arrancou. São inegáveis a perda de valências e a subalternidade, as instalações degradadas, o défice de equipamento, a reduzida atractividade para o pessoal médico e as adversas condições para os trabalhadores, muitos deles enfrentando a precariedade
Torna-se evidente a imprescindibilidade de um novo hospital, aliás já reconhecida pelo ministro da Saúde, apesar do aviso lançado sobre a falta de dinheiro.
O executivo municipal não se pode refugiar no ónus que indiscutivelmente cabe à tutela, adoptando uma atitude passiva e renunciando a um papel interventivo e mobilizador em conjunto com cidadãos, utentes, profissionais e instituições.
José Carlos Faria (CDU)































