Aprendeu as artes da pesca com o pai, que veio, ainda pequeno, da zona da Murtosa para junto da Lagoa de Óbidos com a família, também eles pescadores. A oitava de 10 filhos, Helena Ganhão viu os irmãos a pescar e chegou a ajudá-los na juventude. Muitos deles, mais velhos, seguiram outras profissões, e Helena também nem sempre viveu da pesca.
Casou, emigrou, mas há cerca de 30 anos voltou à lagoa. Agora, aos 65 anos, continua a pescar e se, noutros tempos, havia várias mulheres a dedicar-se a esta actividade, muitas delas da sua família, é uma das poucas resistentes. Quando chega ao Braço do Bom Sucesso, onde o barco está atracado, coloca os utensílios de pesca e o motor e depois lança-se à lagoa, procurando as zonas onde sabe que há marisco. Depois, com a ajuda de um ancinho, apanha ameijoa e berbigão, um trabalho que se perpetua durante horas dentro de água.
Helena Ganhão já não pesca todos os dias. A dureza do trabalho trouxe-lhe problemas de coluna e de ossos e a médica, há 15 anos, aconselhou-a a deixar este trabalho, mas a mariscadora vai persistindo. “É um trabalho duro mas é terapêutico”, conta à Gazeta das Caldas.
Ao longo de todos estes anos diz nunca ter sentido qualquer tipo de discriminação de género e considera que “trabalhar no meio de homens é normal”. “Respeitam-me e tratam-me como se eu fosse um deles”, destaca a mariscadora que, se for preciso, pode contar com a ajuda dos outros mariscadores. Helena Ganhão, por várias vezes, tentou fazer outras coisas, mas acaba sempre por voltar à sua Lagoa. “Dá-me uma liberdade que não encontro noutros trabalhos”, diz, acrescentando que também não é uma profissão solitária, pois quando andam três ou quatro mariscadores na mesma zona é convívio na certa.
- publicidade -































