Michelle e Bert Hofland são um casal holandês que em 2006 comprou uma propriedade no Carvalhal Benfeito e há cinco anos decidiu mudar-se em definitivo para Portugal. Com a mudança surgiu a ideia de investirem no turismo rural, criando tendas de luxo no espaço exterior da sua casa que passou a ser conhecida por Quinta Japonesa. Trata-se de um conceito inovador que se chama glamping e é um meio termo entre o campismo tradicional e uma habitação. Isto significa que os hóspedes ficam alojados numa tenda, mas não têm que a montar. Tal como não dormem em sacos de cama e não partilham as casas de banho. Têm total privacidade, mas continuam a viver próximos da natureza.
Matsu significa pinheiro em japonês. É, pois, rodeada de pinheiros que encontramos a Casa Matsu, uma das três tendas da Quinta Japonesa que é também aquela com a vista mais privilegiada – para todo o Vale das Cuvas, em Carvalhal Benfeito – e aquela com maior capacidade de alojamento, para um total de oito pessoas.
Antes mesmo de descobrirmos o interior da tenda, já o seu exterior é convidativo, com uma estrutura em madeira, espreguiçadeiras, mesas e cadeiras almofadadas. Mas assim que corremos o fecho, esquecemo-nos que estamos dentro de uma tenda. O piso é de madeira e a lona tem altura suficiente para estarmos de pé. E depois a decoração é tal e qual a de uma casa.
Além de janelas, há fontes de luz por todo o lado (com interruptores de verdade), a cozinha está totalmente equipada, até com pequenos electrodomésticos, e a sala de estar inclui uma mesa de refeições. Ao passarmos a cortina encontramos a casa de banho e os quartos. Existe a suíte principal, um quarto com quatro beliches e ainda uma “bed-box”, que é uma cama que está inserida dentro de uma grande caixa de madeira.
Durante a noite ouvem-se os grilos e se chover, o pingar da chuva. De manhã, ouve-se o cantar dos galos, o mugir das vacas e os esquilos a subirem às árvores. A proximidade com a natureza é semelhante à que existe no campismo tradicional, só que aqui também temos o conforto de uma casa.
À Casa Matsu junta-se a Casa de Chá, virada para um jardim japonês, e a Casa Ohashi, com vista para um lago e que tem, mesmo ao lado, uma casa de madeira pensada para as crianças brincarem. Estas duas tendas alojam quatro e seis pessoas, respectivamente. Nas suas proximidades encontra-se uma piscina.
Mas antes dos holandeses Michelle e Bert Hofland investirem no glamping, já tinham disponíveis dois apartamentos para alugar. “Só que para rentabilizar a Quinta Japonesa enquanto alojamento local não nos chegavam os apartamentos e então resolvemos montar a primeira tenda em 2012. Mas aconteceu que passámos a ter mais reservas para a tenda do que para os apartamentos e por isso instalámos mais duas”, explica Michelle, 48 anos, acrescentando que o custo das tendas varia entre os 6.000 e os 10.000 euros. O casal é também representante da Luxetenten.com em Portugal, uma marca holandesa que fabrica tendas de luxo, e desde 2016 já foram responsáveis pela montagem de 10 tendas no país.
As tendas e os jardins exteriores têm uma decoração inspirada no Japão. O nome do alojamento – Quinta Japonesa – surgiu precisamente porque o casal sempre se identificou com a cultura do Japão, em que cada objecto é carregado de simbolismo.
“O jardim japonês transmite muita paz e penso que esse é um dos aspectos que também atrai os hóspedes, além do glamping, pois estes vêm à procura de um ambiente relaxante e zen”, refere a responsável, que é também instrutora de Chi Kung (um tipo de terapia que trabalha a energia corporal e que está ligada à Medicina Tradicional Chinesa).
“PRIMEIRO QUISEMOS EMIGRAR, SÓ DEPOIS PENSÁMOS NO NEGÓCIO”
Quando em 2006 Michelle e Bert compraram a casa no Carvalhal Benfeito (Rua da Boavista), não tencionavam transformar a sua propriedade num negócio de alojamento local. A ideia era terem apenas uma casa para passarem férias. Foi há cinco anos que decidiram mudar-se definitivamente para Portugal e só mais tarde surgiu a ideia de apostar nas tendas de luxo.
“É curioso que primeiro veio a vontade de emigrar e só mais tarde pensámos em montar o negócio”, diz Michelle Hofland, explicando que foi depois de conversarem com vários estrangeiros que tinham na região alojamentos do tipo Bed&Breakfast, que decidiram investir também no turismo rural.
Para trás, Michelle e Bert deixaram os seus empregos – ela era consultora de Tecnologia e Informática, o marido trabalhava no Ministério da Justiça – e ainda hoje não sabem explicar o que os motivou a mudarem-se em definitivo para Portugal. “Aconteceu alguma coisa, não sei bem o quê, mas verdade é que aqui nos sentimos em casa e sempre fomos bem recebidos”, conta o casal, que tem dois filhos: Rick e Mika, com seis e nove anos, respectivamente, e que já falam perfeitamente português.
A escolha do Oeste para viver não foi um acaso. A mãe de Michelle era portuguesa, natural de Vilar (Cadaval), por isso o casal decidiu que iria comprar uma casa que ficasse próxima desta localidade. “Fizemos um círculo no mapa à volta do ponto onde se localizava Vilar e fomos à descoberta”, diz Michelle, que se recorda bem de em criança vir passar férias nesta região. As muralhas de Óbidos e a Capela da Nª Sra. dos Remédios, em Peniche, eram dois pontos que a família visitava sempre que vinha a Portugal.
“Conheço bem o Oeste e acho que é uma região com inúmeras possibilidades, que permite aos turistas terem programas sempre diferentes e muito interessantes”, afirma a empreendedora. No dia em que visitámos a Quinta Japonesa, havia hóspedes que tinham ido visitar as Berlengas e outros experimentar aulas de surf no Baleal. A maioria ainda são estrangeiros, embora haja cada vez mais portugueses a fazer reservas.
Durante o Verão, a taxa de ocupação da Quinta Japonesa está perto dos 100%.
Glamping versus campismo
•Existe total privacidade. Não só o quarto, como a cozinha e a casa de banho (com duches de água quente) são valências que se encontram no interior da tenda e não no seu exterior (como acontece nos parques de campismo);
•As camas são normais e em alguns casos até de grande dimensão. Têm lençóis e almofadas como é comum numa casa, enquanto num campismo se usam colchões de ar, esteiras e sacos de cama;
•A cozinha está totalmente equipada com fogão, lava-louças, micro ondas, frigorífico, chaleira, pratos, copos e talheres que não são de plástico;
•A tenda de glamping tem altura para que os hóspedes circulem de pé, o que nem sempre acontece numa tenda de campismo;
•A tenda de glamping tem sala de estar decorada com sofás e cadeiras, incluindo também um espaço com mesa de refeição;
•Há electricidade dentro da tenda, com tomadas, candeeiros e interruptores característicos de uma casa normal;
•O tamanho da tenda de glamping é muito maior que o de uma tenda de campismo;
•As tendas de glamping são mais quentes que as de campismo e são abastecidas com água da rede pública.
































