Há dificuldades “pontuais” nos cuidados de saúde primários

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As dificuldades no acesso às consultas nos centros de saúde da região são o principal motivo de queixa dos utentes | DR

Apesar das queixas de alguns utentes e de dificuldades de acesso aos serviços, os autarcas da região consideram que tem havido um esforço para garantir os adequados cuidados de saúde

Os autarcas do Oeste são unânimes em considerar que tem havido um “esforço” para garantir uma prestação adequada dos cuidados de saúde primária nos concelhos, ainda que reconheçam que nem sempre tudo está bem.
O presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, apelida a falta de respostas pontuais como “incidentes de percurso” e considera “imprescindível” a colocação de médico de família “permanente e com horário completo em todos os postos médicos do concelho, assim como que todos os utentes tenham acesso a médico de família”. Para além disso, refere a necessidade de reforço de pessoal de enfermagem e administrativo.
À Câmara chegam, sobretudo, queixas quando à falta de médico e são reportadas pelos presidentes de Junta. Quando tal acontece é contatada a diretora do ACES Oeste Norte, de forma a “tentar que se resolvam os eventuais problemas”, diz Tinta Ferreira, fazendo notar que não é competência dos municípios a contratação de pessoal médico, embora colaborem noutros aspetos logísticos.
O concelho de Alcobaça bate-se com “situações pontuais” de falta de médicos e têm chegado à autarquia queixas relativas à marcação de consultas. Porém, esta mantém uma “excelente relação institucional” com o ACES Oeste-Norte, que tem tentado resolver as situações”, garante o presidente da Câmara. Paulo Inácio, todavia, diz que o pessoal médico no concelho é “escasso e que deve ser reposto”.
Já em termos de infraestruturas, o autarca destaca a renovada e bem apetrechada rede de unidades de saúde, que resulta de investimento por parte do município. “O nosso maior problema reside, essencialmente, nos escassos recursos humanos”, realça.
As falhas que têm acontecido ao nível da prestação dos cuidados primários de saúde têm sido acompanhadas pela Câmara da Nazaré, “com grande proximidade, e em contacto permanente com as entidades governamentais”, diz o presidente, Walter Chicharro. A intervenção mais recente ocorreu na Unidade de Saúde Familiar (USF) de Valado dos Frades, no seguimento das preocupações manifestadas pelos utentes acerca da necessidade de exames médicos, prescrição de medicamentos ou renovação das baixas médicas dos médicos. A autarquia já obteve a garantia por parte do ACES Oeste Norte, da colocação de novo médico na extensão, a prestar serviço, de segunda a quinta-feira, durante todo o dia.
Ao nível de equipamentos, o autarca destaca a criação do novo Centro de Saúde da Nazaré, que deverá estar concluído até ao final do ano. Foi também assinado um protocolo de colaboração entre a ARSLVT e o município para a promoção da “Saúde Oral para todos”. A Câmara fica responsável pelo financiamento (investimento de 47 mil euros), e o Ministério da Saúde pelos recursos humanos.

Os maiores problemas da rede de cuidados de saúde primários na região são, segundo os autarcas, a escassez de recursos humanos e o acesso às consultas

Em Óbidos, e de acordo com a vereadora da Saúde e Bem-Estar, Margarida Reis, “os munícipes, mais do que nunca, sentem que este serviço tenta corresponder a todas as solicitações”. De acordo com a autarca, são prestados cuidados de saúde de acordo com as necessidades da população, “sempre com tratamento de muita proximidade”. Considera que neste serviço se têm estabelecido atuações estratégicas para conseguir dar uma resposta efetiva, em tempo de pandemia, “não se verificando queixas por parte da população”.
“Os serviços têm todas as condições para serem bons. Existem boas condições no edifício do Centro de Saúde do Bombarral e temos a felicidade de ter uma cobertura de 100% da população com médico de família”. É desta forma que o presidente da Câmara do Bombarral, Ricardo Fernandes, avalia os serviços de saúde primários no concelho, ainda que reconheça que as coisas não funcionam como desejaria, sobretudo com algumas disfunções ao nível organizacional. As queixas que recebe, nem sempre pelas vias “oficiais”, prendem-se sobretudo com inacessibilidade aos serviços. Por um lado, “por causa da pandemia, vedam o acesso aos utentes para marcações presenciais de consultas, por outro, não atendem os telefones, o que faz com que a alternativa seja a marcação por internet, situação não acessível com facilidade a todos, nomeadamente aos mais idosos”, concretiza.
O autarca tem tentado dar eco desta situação nos fóruns onde se cruza com interlocutores com responsabilidades na organização dos serviços de saúde primários, mas “infelizmente sem grande resultado prático”, disse, deixando a garantia de que continua a “pressionar as entidades com responsabilidades na organização dos serviços de saúde primários e a tutela”.
Gazeta das Caldas questionou também a autarquia de Peniche para esta reportagem, mas não obteve resposta.


“Desde janeiro de 2019 atribuímos médico de família a 23 mil utentes”

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Ana Pisco, diretora do Agrupamento de Centros de Saúde do Oeste Norte, admite que tem havido constrangimentos no atendimento telefónico devido ao aumento das consultas não presenciais durante a pandemia

Em janeiro do ano passado, na entrevista que deu à Gazeta, referiu que existiam 28 mil utentes nos seis concelhos do Oeste Norte sem médico de família. Quantos existem atualmente?
Neste momento, o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Oeste Norte tem 5.000 utentes sem médico de família. Significa isto que atribuímos médico de família a mais 23.000 utentes neste período.

E qual o número de médicos a dar consulta em cada um dos concelhos do Oeste?
O ACES Oeste Norte abrange seis concelhos e tem um total de 102 médicos de Medicina Geral e Familiar (MGF), distribuídos da seguinte forma: Alcobaça, 29; Bombarral, 7; Caldas da Rainha, 36; Nazaré, 9; Óbidos, 5; e Peniche, 16.

Destes, quantos estão de serviço e quantos estão a tempo total e a tempo parcial?
Todos estão ao serviço, a tempo inteiro.

E quantos médicos faltam nos centros de saúde?
No ACES Oeste Norte faltam quatro médicos.

Por que não há mais?
A colocação de médicos é determinada por concurso nacional. É sabido que existe carência de profissionais, embora no que ao ACES Oeste Norte diz respeito, e quando comparado com outros, é dos que tem mais utentes com médico de família atribuído, logo é compreensível que abram mais vagas em zonas onde as necessidades são mais prementes.

A falta de funcionários também é um problema? Está garantido o atendimento diário em todas as unidades do ACES Oeste Norte?
Temos vindo a melhorar substancialmente no número de Assistentes Técnicos, e o atendimento é assegurado diariamente em todas as unidades de saúde do ACES.

E há alguma unidade que se encontre encerrada?
Não há nenhuma unidade encerrada. O que existe são pólos de unidades que, pelas suas características físicas, estão desajustadas àquilo que são as exigências que a covid-19 veio impor. Foi traçado um plano de reestruturação das mesmas e adotadas medidas de prevenção no âmbito da pandemia da doença (reorganização dos espaços, por forma a dotá-los com condições de segurança quer para os utentes, quer para os profissionais, adequadas ao atual contexto), de acordo com as orientações da Direção-Geral da Saúde. Saliento que a prestação de cuidados de saúde aos utentes foi e é sempre assegurado.

Temos recebido queixas da população de que não consegue marcar consulta no centro de saúde das Caldas através do telefone, e que são atendidas em… Inglês. O problema estrutural da linha telefónica ainda não está resolvido?
É sabido que tem havido alguns constrangimentos no atendimento telefónico. O vírus SARS COV 2 obrigou as unidades de saúde a alterar algumas coisas no modo de funcionamento e atendimento aos utentes, por forma a obviar o risco de contágio. Privilegiou-se, sempre que possível, a consulta não presencial, o que por si só leva a uma sobrecarga das linhas telefónicas. Por um lado, estamos em fase de substituição das centrais telefónicas e por outro lado estamos a dar início ao processo de migração para a RIS2020-VOZ-Comunicações Unificadas das unidades de saúde que engloba, por exemplo, o serviço de voz, videoconferência, Instant Messaging e IVR (Interactive Voice Response ou atendimento interativo automático), o que esperamos que venha a solucionar de forma definitiva este constrangimento.

Qual o procedimento que as pessoas devem adotar para marcar consulta? E através da Internet?
As consultas podem ser agendadas tanto pelo utente, como pelo seu médico assistente. O utente pode marcar uma consulta na plataforma através da internet, ou por e-mail. Pode, ainda, marcar uma consulta para o próprio dia (doença aguda).

Como tem corrido até agora a gestão da pandemia?
Com a pandemia foram criadas nos Cuidados de Saúde Primários as Áreas Dedicadas para Doentes Covid (ADC), recentemente designadas por Áreas Dedicadas para Doentes Respiratórios (ADR-C), que são espaços reservados a doentes com quadros respiratórios agudos de provável etiologia infeciosa, com critérios clínicos de gravidade que exijam a avaliação presencial. Estas áreas são compostas por duas salas de observação, com áreas de receção, de espera e instalações sanitárias separadas dos doentes sem suspeita de doença espiratória. Cada ADR-C é composta por médico, enfermeiro, assistente operacional, administrativo e equipa de limpeza. Deverão aceder às ADR-C, preferencialmente, os utentes com sintomas respiratórios e que previamente tenham contactado a Linha SNS 24 (808 24 24 24). O ACES Oeste Norte tem a funcionar duas ADR-C, uma em Alcobaça e outra nas Caldas da Rainha. Os utentes poderão obter esta informação em cada uma das nossas unidades de saúde ou no site da ARSLVT.

O que está a ser preparado para o aumento de casos e para a chegada do inverno?
As unidades de saúde que fazem parte do ACES Oeste Norte têm definidos e preparados os seus planos de contingência para a Gripe Sazonal e para resposta à covid-19, que serão ativados de acordo com aquilo que é quadro epidemiológico. Paralelamente, sempre que se justificar será efetuado o reforço das equipas, a par do alargamento do horário das unidades.

O que muda para as pessoas?
Este ano, uma das grandes mudanças tem que ver com a administração da vacina para a Gripe Sazonal, para os grupos de risco (65 ou mais anos de idade). Pela primeira vez, este ano, e de acordo com as orientações da DGS, em parceria com as juntas de freguesia e câmaras municipais, foram identificados um conjunto de locais com condições de segurança onde as pessoas podem ser vacinadas, impedindo, assim, que os utentes tenham que se deslocar aos centros de saúde, evitando desta forma o risco de contágio. Esta estratégia teve início na passada segunda-feira.

A diretora do ACeS Oeste Norte, Ana Pisco, admite que faltam quatro médicos na região | DR
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