Greve estudantil pelo clima juntou mais de 200 jovens nas Caldas

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Mais de duas centenas de alunos das escolas caldenses participaram na greve climática estudantil de 24 de Maio. Os jovens percorreram as ruas da cidade para alertar os governos sobre a necessidade de tomarem medidas concretas para travar as alterações climáticas.
Esta manifestação, que contou com o apoio de pais, professores e outros cidadãos, terminou junto à Câmara onde os jovens fizeram as suas reivindicações.

“Oh Sr. Ministro explique por favor, porque é que no Inverno ainda faz calor?”, “Ó Costa limpa a costa!”, “Mudar porquê? Porque não há planeta B”, gritavam os jovens, ao ritmo marcado pelos tambores, enquanto percorriam as ruas das Caldas na manhã de sexta-feira.
Decidiram fazer greve às aulas porque, se não forem tomadas medidas, as alterações climáticas irão intensificar-se na próxima décadas, com catástrofes naturais como incêndios, secas, inundações e ciclones a serem cada vez mais frequentes e destruidores.
Os jovens exigem acção governamental urgente e mostram o seu descontentamento para com os políticos e os grandes grupos económicos. Consideram que as metas e objectivos que os governantes se propõem atingir continuam a ser insuficientes para a resolução do problema e questionam para que foram celebrados acordos e protocolos se depois não são cumpridos com rigor.
Os estudantes exigem ser ouvidos e, para além do cumprimento das metas europeias e dos tratados internacionais, querem que o governo português declare o estado de Emergência Climática, tal como já fez o Reino Unido e a Irlanda.
Em concreto, os manifestantes exigem a proibição da exploração de combustíveis fósseis em Portugal e o cancelamento de todas as concessões existentes, assim como o encerramento das centrais termoeléctricas de Sines e do Pego. Por outro lado, defendem que se invista mais nas energias renováveis, que se alcance a neutralidade carbónica até 2030 e se aposte na investigação científica e no melhoramento eficaz da rede de transportes públicos, nomeadamente do modo ferroviário.

Os jovens querem voltar a protestar em Setembro, numa greve geral

TINTA FERREIRA MOSTRA SIMPATIA

Em frente à Câmara das Caldas, Andreia Galvão, uma das organizadoras do protesto caldense, explicava que a greve que naquele mesmo momento estava a decorrer em várias partes do mundo é “um movimento estudantil apartidáro, descentralizado, pacífico e não violento”.
A recebê-los estava o presidente, Tinta Ferreira, o vice-presidente, Hugo Oliveira, e a vereadora da Educação e Ambiente, Maria João Domingos. O edil mostrou “simpatia” para com a iniciativa dos estudantes e informou que as autarquias, embora com a sua acção limitada, propuseram-se a cumprir um conjunto de metas para a sustentabilidade ambiental. A Câmara caldense está a trabalhar para a eficiência energética, substituindo as lâmpadas clássicas da iluminação pública por lâmpadas led. “Acima de nós está o país e é importante que esta mensagem chegue aos nossos governantes”, disse Tinta Ferreira, acrescentando que o problema não está só em Portugal, mas em países como os EUA ou a China, em que “não há sensibilidade nenhuma para este tipo de questões”.

“Espero que oiçam a voz deles”

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Entre os manifestantes estava Guilherme Garcia, que frequenta o 10º ano da Escola Secundária Raul Proença. Preocupado com a causa ambiental, o jovem alerta que é a própria sobrevivência da espécie humana que está em causa. O estudante exemplificou com a desflorestação da Amazónia, em que a extinção de espécies está a pôr em causa curas naturais para doenças humanas.
A luta estendeu-se aos alunos do 2º e 3º ciclos e até do ensino básico. Mateus Cardoso é um desses casos. Frequenta o 4º ano na escola básica do Avenal e foi ao protesto com mais dois colegas e acompanhados pelas mães. O pequeno manifestante envergava uma t-shirt preta onde se podia ler “parem de poluir, o planeta irão destruir” e garantiu à Gazeta das Caldas que em casa faz sempre a reciclagem. A mãe, Filipa Rodrigues, considera que esta é a idade ideal para as crianças se consciencializarem e, no futuro, serem cidadãos activos na defesa das causas do ambiente. “São poucos os que aqui estão, gostávamos que fossem muitos mais”, disse, deixando como sugestão que numa próxima iniciativa o professor a torne “um movimento de turma, de forma a permitir que todos possam participar”.
Orgulhosa, Marlene Évora (mãe da activista e estudante na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, Andreia Galvão), destacou a quantidade de jovens que participaram na manifestação, realçando a sua consciência cívica. “Espero que oiçam a voz deles”, disse, acrescentando que se preocupa muito com o ambiente e que sempre incutiu esses valores à filha.
Os alunos que participaram no protesto tiveram falta às aulas, mas mediante comprovativo poderá vir a ser justificada, explicaram as direcções dos agrupamentos de escolas Rafael Bordalo Pinheiro e Raul Proença. No caso da D. João II, em que participaram cerca de uma centena de alunos, foram pedidas autorizações aos encarregados de educação para estes sairem da escola. Tendo em conta que esta é uma actividade em prol do ambiente “os meninos que trouxeram as autorizações, em principio, terão a falta justificada apesar destes ainda não o saberem”, explicou a professora Maria Alexandre Rebola.
A greve climática estudantil é inspirada no boicote às aulas começado o ano passado pela jovem sueca Greta Thunberg, que à sexta-feira ía para o parlamento da Suécia para pedir acções urgentes para travar as alterações climáticas.

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