Masterplan encomendado pela Câmara prevê integração do Parque, da Mata e de um conjunto de sete museus num grande parque verde, com o novo balneário a ser construído junto à antiga fábrica da Bordallo Pinheiro
O CCC acolheu a 19 e 20 de outubro o Congresso das Termas de Portugal, que teve como um dos pontos de maior interesse a apresentação do masterplan que o município das Caldas da Rainha está a preparar para devolver ao termalismo o protagonismo histórico que a Rainha D. Leonor lhe deu desde a fundação.
O documento, que está a ser desenvolvido pelos arquitectos Bruno Soares e Bruno Lamas, propõe a constituição de um grande Parque Termal das Caldas da Rainha, implementado numa área de 50 hectares, que integra em harmonia a estância termal com as zonas verdes do Parque D. Carlos I e da Mata Rainha D. Leonor, o novo hotel de cinco estrelas previsto para os Pavilhões do Parque e os sete espaços museológicos que estão integrados naquela área, que incluem o Centro de Artes e o Museu da Cerâmica. O estudo adianta, também, a localização preferencial para o novo balneário, a construir entre a zona residencial do Largo João de Deus e a antiga fábrica da Bordallo Pinheiro. O novo balneário deve ser “inovador e que se torne um marco visual e arquitectónico”, defendeu Bruno Gomes.

O arquitecto sublinhou que o estudo delineia uma visão abrangente de uma intervenção territorial centrada nas termas e nas atividades termais, destacando o potencial para criar uma centralidade urbana, cultural, e de saúde e bem-estar. “É uma visão importante para o futuro e desenvolvimento da cidade que, a afirmar-se, reforça a cidade e o concelho como polaridade turística regional”, afirmou.
O conceito de um grande parque não é novo nas Caldas da Rainha, lembrou Bruno Soares, tendo raízes na proposta de Caldeira Cabral na década de 1940. Esse grande parque integra alguns terrenos privados, “que a Câmara já está a negociar”, mas o novo plano pretende vocacioná-lo para um parque urbano, que se integre mais efetivamente com a cidade, além do espaço verde.
O arquitecto reconhece que há alguns desafios a ultrapassar, como a fragmentação dos espaços existentes. “Muitos estão separados por muros”, referiu, acrescentando que a proposta é unificá-los e interligá-los com uma rede de percursos pedonais, uns já existentes, outros a construir, que conectem todos esses equipamentos termais, culturais e lazer de forma eficiente.
Tal assenta, ainda, no desenvolvimento de um novo modelo de mobilidade para as Caldas, “que favoreça a utilização do espaço público pelas pessoas”, uma vez que “grande parte da população que reside na cidade está a 15 ou 20 minutos a pé do Parque”, defendeu.
As mesmas condições de acessibilidade devem ser estabelecidas a nível regional e, neste caso, devem ser considerados problemas como a falta de estacionamento.
Bruno Soares referiu que este trabalho foi realizado ao longo do último ano em conjunto com a equipa de técnicos de vários serviços da Câmara e o acompanhamento do executivo municipal, além de ter contado com a participação de vários especialistas, como Martins de Carvalho e João Bonifácio Serra. E teve ainda como base um livro publicado pela autarquia em 2005, com coordenação de Jorge Mangorrinha, que serviu de base à candidatura do património termal caldense a Património Nacional e Património da Humanidade. O primeiro foi obtido com sucesso, o segundo mantém-se no horizonte.
Congresso juntou 380 pessoas
Na sessão de abertura do congresso, que juntou cerca de 380 pessoas, Vítor Marques, presidente do município caldense, destacou a herança termal das Caldas que “é preciso conhecer e valorizar”. O autarca sublinhou o marco que constituiu há pouco de mais de um ano a reabertura do Hospital Termal e as inovações lançadas com a reabertura da ala sul, que não podem, no entanto, ficar por aí. “Temos o desiderato de inovar ao nível de um novo conceito de termalismo para o concelho”, “aliando-o à cultura, ao bem-estar, ao turismo, à sustentabilidade, à envolvente de espaços verdes”, valorizando as diversas vertentes “que constituem a impressão digital da cidade”, sublinhou.
O plano de dinamização do termalismo pretende “afirmar Caldas da Rainha como uma cidade saudável, inclusiva, sustentável e que desenvolve o seu território, os direitos, o bem-estar e a qualidade de vida da sua população”, destacou.
Vítor Leal, presidente da Associação Termas de Portugal, que organizou o certame em parceria com a Câmara das Caldas, realçou que as termas são “algo diferente daquilo que são outros destinos turísticos. Somos um destino polivalente que oferece saúde, bem-estar, gastronomia, património”, fatores diferenciadores que devem ser potenciados “para puxar pelo território onde estão inseridos”.
Raul Almeida, presidente do Turismo do Centro, destacou o papel das termas na sazonalidade do turismo, mas também na coesão territorial. “São destinos, na sua maioria, de interior, que as pessoas procuram todo o ano como destino para férias saudáveis”, apontou.
O congresso ficou ainda marcado pela reunião do grupo de trabalho inter ministerial, coordenado pela Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, e que tem por missão identificar os constrangimentos e instrumentos para dinamizar a atividade termal.

Isabel Ferreira salientou que “a nossa tradição termal é vasta e muito relevante”. Numa fase em que o país e a Europa “enfrentam grandes desafios”, a governante focou a necessidade de aproveitar os fundos comunitários, através do quadro 2030 e do PRR, na valorização dos recursos endógenos, que “têm um efeito indutor de crescimento económico”. Apontou também que as sinergias entre setores são importantes no desenvolvimento destes recursos, dando como exemplo “os setores da água termal, da saúde, da cosmética e do turismo” como multiplicadores da economia regional e nacional.
A estruturação de produto e promoção, oportunidades de investimento, inovação, a formação, o termalismo na promoção de estilos de vida saudável e o papel das águas na eficiência energética foram os principais temas do congresso. ■































