“Gosto de desafios e dou o meu máximo em tudo aquilo que faço”

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Notícias das Caldas O artista plástico Eduardo Nery faleceu de forma súbita, aos 76 anos, no sábado, 2 de Março. O seu funeral realizou-se na passada segunda-feira, 4 de Março, em Lisboa.
O pintor, fotógrafo, ceramista e coleccionador, deixou uma vasta obra nos mais diversos domínios e mantinha uma forte ligação com as Caldas da Rainha, cidade por quem tinha apreço. Várias vezes revelou à Gazeta das Caldas que gostaria de realizar uma obra de arte pública na cidade, o que não chegou a concretizar-se.

“Gostei muito deste desafio e, como sempre, dou sempre o máximo naquilo que faço”, disse Eduardo Nery à Gazeta das Caldas num dos últimos trabalhos realizados com o artista. Referia-se à execução do serviço de porcelana “Ouro sobre Azuis” que o artista desenvolveu para a Vista Alegre e que incluía o conjunto de mesa completa, incluindo o de chá e o de café. O projecto foi apresentado em 2012 na loja da Vista Alegre, no Chiado, em Lisboa. A empresa tinha pedido novas peças ao artista e por isso “Ouro sobre Azuis” iria crescer. Eduardo Nery fazia ainda questão que um exemplar desta obra estivesse presente no Museu de Cerâmica caldense, algo que não dependeria directamente da sua vontade, mas sim da própria Vista Alegre.

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Uma longa relação com as Caldas da Rainha

É longa a relação de Eduardo Nery com as Caldas da Rainha. No início dos anos 90 Nery trabalhou com a Secla e foi nesta unidade que produziu as peças, azulejos dourados em relevo e em cunha, que integram um trabalho dos mais notáveis da sua obra de arte pública e que dá vida à fachada exterior do Museu de Olaria, em Barcelos
A sua ligação à indústria cerâmica caldense teve continuação com a Molde, onde foram produzidos os azulejos da sua maior obra em Portugal. São cerca de  3650 metros quadrados de área de intervenção azulejar que foram feitas nas Caldas e que integram o revestimento da Estação de Tratamento de Águas da Asseiceira da EPAL. A empresa caldense foi ainda a responsável pela montagem desta enorme intervenção que Eduardo Nery efectuou entre 2009 e 2010.
O também pintor e fotógrafo trabalhou durante vários anos em interligação com a arquitectura, mas esta intervenção na Estação da Asseiceira “é a maior e mais complexa que já realizei e duvido que volte a ter a oportunidade de fazer algo tão grande”, disse Eduardo Nery em 2011, aquando duma visita ao próprio local.
Nas apresentações daquela obra, Nery frisava sempre a parceria com a Molde, com a qual também produziu um painel de azulejos contemporâneos que foi oferecido ao Museu de Cerâmica.

A proposta que não chegou ao CCC

Notícias das Caldas “Tenho várias ligações a esta cidade onde gostava de ter uma obra pública”, contou o autor em várias entrevistas à Gazeta.  Chegou a ter uma em 2012 uma proposta integrada num projecto para o CCC, que pertencia aos arquitectos João e Fernanda Mestre, mas que não viria a ser escolhida. Este projecto continha trabalhos em vitral e até o próprio pavimento no exterior era desenhado pelo artista.
Eduardo Nery disse que gostaria de ter deixado uma marca nas Caldas, cidade com a qual se identificava pois é sobretudo nestas localidades que devem deixar obras, mais do que outras “onde já trabalhei e, até então, não tinha qualquer ligação”, disse à Gazeta das Caldas em 2011.
Ao longo dos anos estabeleceu uma estreita relação com o Cencal e os seus responsáveis e ali coordenou vários workshops. Participou em iniciativas de homenagem a Ferreira da Silva e com este autor também partilhou um evento das Rotas da Cerâmica realizado em 2004 no Museu de Cerâmica. Dessa vez deu a conhecer várias vertentes do seu trabalho, perante uma sala cheia de pessoas de várias gerações.
Eduardo Nery era um artista reconhecido pela grande capacidade de trabalho, que aplicava enorme rigor às suas obras. Por várias vezes deu a conhecer a responsáveis governamentais pela Cultura uma proposta de lei que tinha como intuito “obrigar” o Estado e as autarquias a encomendar obras de arte para edifícios e jardins públicos até à percentagem de 2% do investimento na obra como se faz noutros países. Porém, nenhum deles prestou atenção a este proposta onde Nery retomava uma prática antiga que incentivava a criação de novas obras de arte. Esta ideia também devia ser alargada às autarquias.
Notícias das Caldas A obra de Eduardo Nery está representada em quatro museus de cerâmica estrangeiros: nos EUA, no Canadá, em Taiwan e no Uruguai. Há artigos sobre a sua obra em revistas de cerâmica norte-americanas, alemãs, inglesas e espanholas. Em 2012  Eduardo Nery foi condecorado pelo Presidente da República como Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

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