Gazeta perdeu em 2023 uma das suas traves mestras

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João Serra a fazer uma intervenção sobre cerâmica na Assembleia Geral da AptCVC, onde integrava o Conselho Consultivo

O historiador tinha uma “relação muito afetiva” com a Gazeta, onde começou a escrever, muito jovem, nos anos 60

João Bonifácio Serra representou e representa para a Gazeta das Caldas um marco irrefutável da vida do jornal, uma vez que iniciou a sua colaboração no jornal, por si ou juntamente com vários membros da sua família, de uma forma muito expressiva desde a fundação.
Interessante ter iniciado a sua colaboração muito jovem nos anos 60, quase que ainda na idade juvenil, quando escrever num jornal e ainda para mais dos tempos da censura tal era de uma grande ousadia.
Este ano que agora termina deixou-nos quando, apesar da doença, tudo podia fazer crer que tal não aconteceria tão rápido. Em 6 de maio de 2021 aceitou ser o diretor convidado e concebeu e realizou uma edição, que não esquecemos, dedicada ao Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, que reuniu colaborações inexcedíveis e de grande impacto.
Mas um ano antes, por ocasião do 95º aniversário do nosso jornal, concedeu-nos uma entrevista, assumindo essa “relação muito afetiva com o que considera uma instituição caldense”.
Nessa entrevista assumia que “A minha relação com a Gazeta dá-se em dois períodos. Inicialmente, entre os meus 14 anos e até ir para a faculdade em Lisboa, em 1967. E, depois, entre 1984 e 1996, que foi um período igualmente intenso e que considero uma década prodigiosa, em que tudo se fez e aconteceu nas Caldas, desde grandes controvérsias a grandes realizações. Em casa dos meus pais e dos meus avós, na aldeia do Carvalhal Benfeito, os jornais eram muito disputados, até porque se vivia num mundo muito fechado. Recebíamos a Gazeta, o meu pai era correspondente de O Século e o meu avô era natural do Fundão e assinava o Jornal do Fundão. A minha avó não sabia escrever, mas sabia ler, portanto o dia de chegada dos jornais era celebrado com grande interesse. Habituei-me, por isso, a disputar os jornais, antes que o meu avô ou a minha avó os capturassem. Percebi que o meu pai começou a escrever na Gazeta em 1935, aos 18 anos, mas descobri textos do meu avô na Gazeta na década de 1920 sobre temas rurais. Nos anos 1940 encontrei, ainda, textos de um tio, que não conheci, pelo que a relação familiar com a Gazeta era extensa.”
Nessa entrevista ele descreve muito da sua vida na vida da Gazeta das Caldas, bem como muitos episódios, alguns épicos que marcariam tanto a trajetória do jornal como o empolgariam, apesar do seu estilo seráfico e reservado, com uma ligação forte a alguns momentos da vida da cidade das Caldas da Rainha e da região.
A ele se deve bastante da criação e destino nas Caldas da Escola Superior de Artes e Design, em que o acompanhámos no projeto da Cátedra UNESCO, que ficará como sua marca indelével. Apesar de a cidade e outras entidades pouco terem feito para registar a sua memória, Gazeta das Caldas atesta a sua passagem num momento que gostaríamos que tivesse ficado mais longínquo. João a Gazeta mantém a memória de ti viva e presente quando nos aproximamos do centenário do jornal, cujo projeto de comemoração muito necessitaria da tua ajuda e criatividade! ■

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