
Tal como a mesma sondagem demonstra que existe hoje um “consenso e a uma unanimidade na sociedade portuguesa sobre o significado e simbologia política do fim da ditadura”, é relevante mostrar aos mais novos, que não viveram aqueles anos negros e de sombra, alguns dos momentos e comportamentos simbólicos do regime autoritário.
Ainda fica muito por contar e por desbravar, apesar de nos últimos anos se ter avançado bastante na explicação de algumas histórias ligadas aos principais momentos de 1974: o 16 de Março, que teve como palco as Caldas da Rainha, e o 25 de Abril, que teve muitos mais protagonistas.
Por iniciativa deste jornal foi apresentada nas Caldas, no passado dia 16, uma nova explicação ao vivo do confronto na Praça do Comércio entre as forças da Cavalaria, que tiveram um papel crucial na queda do regime, e de que damos conta nesta edição.
Também neste número, Gazeta das Caldas publica um testemunho inédito do ex-capelão do RI5 Avelino Rodrigues, na segunda metade da década de 60, em que narra como os militares subalternos começaram a tomar consciência de inviabilidade da guerra colonial e a consciencializarem-se da necessidade do movimento que vieram a assumir, quase uma década depois, para o fim da guerra.
Na nossa investigação sobre o 25 de Abril também chegámos à história trágica do infortúnio de um soldado caldense que morreu na guerra em Moçambique com a Frelimo, já depois do 25 de Abril de 1974, numa altura em que se esperava que a guerra colonial tivesse os dias contados. Descobrimos ainda que esta soldado fazia paulatinamente, durante a sua missão africana, um diário muito circunstanciado sobre a sua vida na frente de combate e que hoje pode ser um testemunho de profundo significado sobre a forma como um simples soldado encarava o “grande” desafio pátrio daqueles 14 anos.
Gazeta das Caldas, mau grado o momento de grandes dificuldades vivido pela sociedade portuguesa nos últimos tempos, continua a considerar que o regime democrático saído do 25 de Abril de 1974 é uma conquista imensa e irreversível, que a totalidade dos portugueses reconhece, independentemente de todas as vicissitudes por que está a passar.
É esta, no mínimo, a reflexão que devemos fazer em nome de Mário Henriques, o soldado que perdeu a vida em 2 de Maio de 1974, precisamente uma semana depois do 25 de Abril, que não teve o legítimo direito de não ser obrigado a confrontar-se com povos que apenas queriam ter o seu direito à soberania e à auto-determinação, como nós também queremos.
Deixamos aos nossos leitores, e para o futuro, esta edição especial da Gazeta das Caldas, com mais narrativas do 16 de Março e do 25 de Abril na expectativa de contribuirmos assim para o repositório da História.
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