
A Tronchuda foi criada há dois anos para ser uma receita icónica para a gastronomia caldense. As duas Mostras da Tronchuda já realizadas tiveram boa adesão por parte dos restaurantes e do público, mas falta a este prato afirmar-se nas cartas dos restaurantes caldenses. José Elói e Paulo Feliciano, dois dos empresários da restauração que estão envolvidos no projecto desde o seu arranque, acreditam que o potencial existe, mas é preciso maior divulgação para que a Tronchuda possa mesmo identificar a gastronomia caldense.
Joel Ribeiro
jribeiro@gazetcaldas.com

Em 2018, depois de ter criado o Pastel Bordallo, a ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste pensou em desenvolver uma receita que pudesse trazer uma identidade à gastronomia das Caldas. O processo envolveu diversos empresários da restauração caldense e assim nasceu a Tronchuda.
Não se trata de uma receita, mas de um conceito para utilizar pelos diversos restaurantes caldenses de acordo com a sua criatividade. Em comum, os pratos têm uma trouxa de couve tronchuda que envolve um recheio. Este é diferente de restaurante para restaurante.
Para lançar o conceito, foi lançada a Mostra da Tronchuda. Durante o mês de Maio, todos os restaurantes caldenses são desafiados a criar as suas receitas, que podem ser entradas, pratos principais ou sobremesas. Mas o objectivo da ACCCRO é que os restaurantes mantenham a Tronchuda o ano inteiro nas suas ementas, de forma a que se possa criar também um roteiro.
Se a Mostra da Tronchuda tem tido boa aceitação por parte dos restaurantes, a segunda parte do desafio da ACCCRO ainda não pegou totalmente. Poucos são os restaurantes que adoptaram a Tronchuda na sua carta durante todo o ano.
“Uma ideia muito boa”
José Elói, proprietário do Maratona, esteve presente em todas as reuniões de preparação da Tronchuda e foi um dos responsáveis pela ideia inicial. “Era preciso encontrar um tipo de produto identitário da região que pudesse ser trabalhado, uma vez que a gastronomia local não tinha uma referência”, conta.
O produto encontrado foi a couve tronchuda, por reunir em si mesma várias características, entre elas a produção hortofrutícola característica da região, o simbolismo da Praça da Fruta e da couve de Bordallo Pinheiro, e a criatividade que sempre marcou a história caldense, intimamente ligada às artes.
“A ideia é muito boa, porque é uma couve de sabor neutral, que faz vibrar justamente o que está no interior, o que dá espaço à criatividade dos restaurantes”, afirma José Elói.
O empresário realça que Caldas da Rainha tem “uma restauração com conceitos interessantes e modernos, tanto ao nível de restaurantes como de cafetaria e também restaurantes mais tradicionais, pelo que a ideia encaixa na mouche”, acrescenta.
José Elói diz que, durante a Mostra da Tronchuda, o conceito teve boa aceitação. Mais de 30 restaurantes aderiram à ideia, quer na primeira, quer na segunda edição. “Não são best sellers, mas já há quem faça o roteiro durante a mostra, o que é positivo”, diz.
No entanto, fora do evento o prato teve dificuldade em pegar. Como um dos percursores da ideia, José Elói implementou a Tronchuda na ementa do Maratona no ano passado. No entanto, acabou por retirá-la. “Quando fazemos mudanças na carta temos que fazer escolhas, era dos pratos que tinha menor procura e optámos por tirar”, lamenta.
O empresário diz que a ideia é boa, mas há aspectos que é preciso melhorar. “Deve ser feita uma catalogação, com um mapa com as receitas de cada restaurante, de modo a que as pessoas façam a sua escolha. Isso traria mais gente”, acredita. Depois, é também necessário convencer os empresários a trabalhar o produto e a mantê-lo na carta. “Deve haver pelo menos uma dúzia de restaurantes a fazê-lo e com sentido de pertença. Nós tentámos, mas sozinhos não tivemos grande sucesso, porque não pode ser só mais um produto numa carta”, aponta.
O proprietário do Maratona acredita que a ideia continua a ter potencial e diz que “é importante que a próxima direcção da ACCCRO não a deixe cair”.
CASA ANTERO MANTÉM APOSTA
Na Casa Antero e no restaurante Pachá, Paulo Feliciano manteve a aposta na Tronchuda além da Mostra e diz que tem sucesso. O produto não está na ementa, mas faz parte das sugestões duas vezes por semana.
O empresário também diz que “o projecto feliz”, porque permite juntar “vários tipos de cozinha diferente com o mesmo envelope”, tendo como ligação a couve de Bordallo Pinheiro.
Nos dois espaços de restauração, o conteúdo da Tronchuda vai variando com propostas típicas da gastronomia nacional. Já foram servidas tronchudas de coelho com feijão branco, polvo aioli, pézinhos de coentrada, meia desfeita de bacalhau e cozido à portuguesa.
Paulo Feliciano diz que durante a Mostra há muita receptividade dos clientes e que esta se mantém no resto do ano. “Por norma sugerimos o prato, o que é aceite e depois outros clientes vêem e pedem também”, conta.
No entanto, para que a Tronchuda seja um prato icónico das Caldas ainda falta muito trabalho, adverte. “É algo que tem que ser trabalhado por todos, pelos restaurantes, mas pela comunidade caldense também. Passar a mensagem que as Caldas tem a Tronchuda, tem bons acessos, bom comércio e condições de atractividade, e o que acontece é que nem sempre as coisas são divulgadas como podiam ser”, observa.
Um dos desafios que o empresário deixa é que a Tronchuda possa ter um espaço nas tasquinhas das Festas de Verão.
































