Empresários apontam necessidade de definição de uma estratégia global para as Caldas da Rainha como meio de melhorar atratividade e dar melhores condições para que o comércio tradicional resista aos desafios que enfrenta.
A ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste assinalou os 120 anos de fundação com uma tertúlia realizada no passado sábado, no restaurante Maratona, onde juntou os associados para discutir as questões que os preocupam em relação ao futuro dos seus negócios. Esta foi a primeira iniciativa de um programa que se vai estender durante um ano, com mais 12 tertúlias.
António Salvador, presidente da Assembleia Geral da associação, abriu a sessão e lembrou que a ACCCRO foi criada ainda em monarquia, fruto da visão de Rafael Bordalo Pinheiro e seus pares, “em defesa dos comerciantes e industriais da região e das Caldas da Rainha”, acrescentando que estas tertúlias têm, precisamente, o mesmo intuito.
Ao longo da sessão, foram elencados alguns dos problemas com que o comércio caldense se debate na atualidade, que foram além da inflação e da crise energética, que afeta não só o comércio, como toda a sociedade. Os empresários falaram da necessidade de uma política concreta para as Caldas da Rainha no que se pretende não só ao nível da atratividade turística, grande motor do comércio, mas também ao nível do investimento.
Lançando o mote para essa discussão, Joaquim Beato, vice-presidente da Câmara das Caldas da Rainha, foi um dos convidados da tertúlia e começou por dizer que é importante ter uma cidade mais agradável, mais limpa, mais fluida em mobilidade e capaz de atrair gente. “Quando falamos de comércio, o que o dinamiza é a capacidade de comunicação da nossa cidade com as outras. Há 20 anos Caldas tinha um comércio mais forte do que Leiria. Estamos a 40 minutos de Lisboa, 20 de Leiria e Santarém, e somos um centro de mobilidade entre o interior e o mar. Temos a localização certa”, afirmou.
A empresária e antiga dirigente da ACCCRO, Margarida Freitas, falou da resiliência dos comerciantes, que “passaram a crise, a Troika, as obras na cidade, a pandemia” e enfrentam agora outra crise. Mas o comércio não passou incólume por essas dificuldades. “Nós últimos anos fecharam nas Caldas 158 lojas”, pelo que os que resistiram “são heróis, ser comerciante é muito difícil neste país e nesta cidade”, frisou.
A empresária diz que as empresas precisam de atrair clientes e lamenta que a cidade tenha perdido capacidade de atrair “clientes que interessam”. A solução para contrariar isto, acredita, é cooperação entre empresários e autarquia na criação de políticas integradas para comunicar a cidade e o que esta tem para oferecer a quem a visita.
Posição reforçada pelo empresário Rui da Bernarda, que afirmou que, “nunca, como neste momento, estivemos tão necessitados de parar para pensar e discutir, todos, sobre o futuro da associação, das Caldas da Rainha e dos nossos negócios”.
O empresário, que administra, entre outros a Mercearia Pena, lembrou que o comércio caldense nasceu à volta das termas, mas isso perdeu-se. “Felizmente, temos uma complexidade de negócios que nos faz ter posição privilegiada em relação a outras cidades, incluindo capitais de distrito”, mas isso não dura por si só, pelo que é preciso definir “o que quer a cidade, qual a estratégia”.
O próprio tema da tertúlia, Caldas da Rainha Criativa e o seu comércio, dava uma pista sobre algo que pode diferenciar a cidade.
Jorge Barosa, empresário e presidente da AIRO – Associação Empresarial da Região Oeste, acredita que a criatividade é o caminho e Caldas da Rainha já tem o que precisa, só tem que o capitalizar: a ESAD.CR. “Bordalo criou diferenciação e uma cultura para esta cidade. É preciso pegar nesta cultura, nesta diferenciação e traçar novos caminhos para o futuro”, sem esquecer que isso obriga a uma reinvenção constante, o que é “mais fácil em conjunto”, disse. O dirigente afirma que “Caldas não está a aproveitar a ESAD.CR” e o ator José Ramalho, que surgiu na Tertúlia na “pele” de Rafael Bordalo Pinheiro, acrescentou que “isso é preocupante”. “Uma cidade que pode usar esse capital criativo”, acrescentou, para rematar a intervenção dizendo que “não há futuro sem estratégia, nem estratégia sem a disrupção” que Bordalo Pinheiro fez na sua época.































