José Luís de Almeida Silva
Vão transcorridos 47 anos que se realizou a I Feira Nacional da Fruta nas Caldas da Rainha, que no seu ato inaugural teve a presença de centenas de pessoas que afluíam às entradas (que eram pagas), tendo sido presidida por um representante do Presidente da República, na altura General Ramalho Eanes (que havia aceite antes o convite para a inaugurar). Na impossibilidade de estar presente, foi substituído pelo Tenente-Coronel Rui Taveira, da sua Casa Militar, justificando a ausência pela crise política que se vivia no momento, que levou à queda do II Governo Constitucional da aliança PS/CDS e à indigitação do primeiro governo de iniciativa presidencial liderado pelo Eng. Nobre da Costa, que teria vida curta de 86 dias.
Estavam presentes ainda o Governador Civil, o Presidente da Junta Nacional das Frutas, representante do Sec. de Estado do Comércio e Indústria Agrícola, e um hábito de antanho, alguns presidentes das Câmaras da região, no caso os do Bombarral, Nazaré e Batalha. O jornal referia que de manhã a Feira tinha sido visitada pelo Prof. Vaz de Portugal, Secretário de Estado do Fomento Agrário.
Mas o General Ramalho Eanes viria ainda a visitar a Feira semi-oficialmente no último dia, sendo acompanhado pelo Brigadeiro Garcia dos Santos, membro da sua Casa Militar. Dizia a Gazeta que o Gen. Eanes “percorreu longa e demoradamente a Feira, tendo visitado a maioria dos pavilhões e dialogado com os respetivos responsáveis.” Em declarações exclusivas à GC disse: “Eu entendo que esta Feira é um sinal da criatividade do nosso povo. Além disso deu a possibilidade dum contato direto entre os produtores e os consumidores, tendo mostrado as potencialidades e a capacidade desta Região”. Recorde-se que a I Feira Nacional da Cerâmica, também organizada em idênticos moldes no mesmo local, só teria lugar no ano seguinte.
No cômputo era referido que a Feira tinha sido visitada por cerca de 120 mil pessoas, tendo a Gazeta publicado um Suplemento dedicado à mesma, que incluía uma entrevista com o Presidente da Câmara, outras com o vereador com o pelouro da Agricultura e com o Eng. Técnico Agrário Raul Afonso Duarte, do Sindicato dos Eng. Técnicos Agrários. A edição transcrevia ainda uma entrevista publicada na GC de 18 de Outubro de 1925 sobre a cidade naquela época, concedida pelo Coronel Ferreira Madail que era o Diretor da Sociedade de Propaganda de Portugal.
Ainda havia uma extensa reportagem da presença na Feira de uma representação da Região Autónoma da Madeira, liderada pelo Eng. Cândido Lencastre Pereira, que trouxe uma série de produtos típicos da Madeira, nomeadamente frutas tropicais, como banana, papaia, pera abacate, maracujás, para além dos vinhos e licores locais e dos bolos de mel, flores típicas da Madeira, etc. O leitor interrogar-se-á hoje que tipo de surpresa esta apresentação podia constituir, mas na época a vinda destes produtos até ao Continente, era mais rara e os preços praticados muito caros.
Naquele ano de 1978, o jornal referia que a “afluência da fruta não ter sido como era desejado, devido a condições climatéricas, foi na mesma organizado um concurso entre os agricultores do concelho que apresentassem os maiores espécimes. Assim na maçã Silvino Roque que apresentou um fruto com 535 grs. ganhou a taça Alberto Horta & Irmãos, António Granja com 395 grs a Taça Cervejaria Paulo e António Roque com 385 grs. a Taça Faianças Subtil.
Na pera o vencedor foi Joaquim Enxuto com um fruto com 655 grs. com a taça Ourivesaria Carvalho, Pomares Calimenta em 2º com 543 grs. com a taça Zázá e Joaquim Querido em 3º com 495 grs. Taça Faianças Subtil.
No pêssego ganhou Manuel Coito Querido com um fruto com 345 grs a taça Shell, em 2º António Roque Cruz com 330 grs e a taça Casa dos Compadres e em 3º Amável Henriques e Silvino Roque com 325 grs e o Prémio Faianças Subtil.
Na Feira estavam patentes uma exposição retrospetiva do Hospital Termal entre 1485 e 1978, uma mostra da Etnografia Caldense, uma exposição apícola, para além da realização de jornadas técnicas agrícolas e frutícolas. A RDP difundia um programa em direto da Feira animado pelo célebre e recordado animador radiofónico Marques Vidal.
Mudam-se os tempos e hoje quão diferente é esta Feira dos Frutos. Mas na época eram raras as Feiras e eventos no país que atraíssem as populações, daí o êxito que a Feira da Fruta caldense e a da Cerâmica iniciada no ano seguinte atingiram, e que depois foram paulatinamente perdendo até desparecerem. Só recentemente voltaram a realizar-se em novos moldes e apenas a da Fruta.































