
Francisco Fontes e Afonso Rebelo são irmãos e apaixonados por cavalos. Montam desde pequenos e revelaram cedo o interesse pela competição. Hoje somam distinções nacionais e o Francisco, de 17 anos, já participou em torneios internacionais, tendo-se classificado nos lugares cimeiros. É o primeiro do ranking nacional na sua categoria.
A equitação – na modalidade de saltos – é levada a sério em treinos intensivos no picadeiro dos pais no Coto. Francisco Fontes tem vindo a evoluir de tal forma que, para o ano, deverá ter que ir para o estrangeiro para se dedicar profissionalmente à modalidade. Por cá faltam apoios, o mediatismo e provas avançadas de saltos.
Gostam de montar, de saltar e de aparelhar os cavalos, sem esquecer de lhes dar banho, comida e mimos. “Os cavalos são como as pessoas – temos que lhes mostrar que cuidamos e gostamos deles”, explica Francisco Fontes, de 17 anos. O seu irmão Afonso tem oito anos e começou a montar e a competir desde tenra idade.
Ambos acham que não há nada melhor do que montar a cavalo. “É óptimo! Quando montamos, todos os problemas desaparecem!”, disse Francisco Fontes que começou a montar aos três anos. Depois de um período parado, regressou à equitação aos 10 anos e desde então nunca mais se afastou dos picadeiros. Passado um mês de ter reiniciado os treinos, já realizava com sucesso a sua primeira prova.
O cavaleiro caldense defende que quando monta a cavalo vive um sentimento que lhe permite “afastar-se” do quotidiano. Mas há um preço a pagar que é caro: quem quer atingir a alta competição tem muita responsabilidade e tem de fazer sacrifícios.
Francisco Fontes frequenta o 11º ano de Desporto no Colégio Rainha D. Leonor e, depois de terminar o ensino secundário, quer tirar o curso de professor de equitação. Depois pretende ser cavaleiro profissional e terá que ir viver para a Bélgica ou para a Irlanda. “É aborrecido sair do país, mas cá não há oportunidades”, disse o jovem.
Afonso Rebelo está no 3º ano do primeiro ciclo, na Infancoop.
Os irmãos montam todos os dias e só têm folga ao domingo. Quando não há provas. Se houver competição, então não há descanso. E os amigos? A resposta é sempre parecida… “Hoje não posso. Tenho treino”. O cavaleiro sabe que é preciso fazer escolhas… No Verão passado, Francisco Fontes foi a uma festa de anos e duas vezes à piscina com os seus amigos. De resto, esteve sempre a treinar pois sabe que só assim chega ao topo e é desta forma que se tem mantido no primeiro lugar do ranking nacional da Juventude (até aos 19 anos). Os grandes prémios já são disputados com cavaleiros profissionais em Portugal e no estrangeiro, tendo ganho algumas distinções na Irlanda e em Itália.
Primeiro conquistou uma medalha de bronze no Campeonato Nacional e outra de ouro na Taça de Portugal. Já se classificou duas vezes no primeiro lugar no Internacional em Arezzo (Itália) e também participou em quatro taças das nações. Já tem vários primeiros lugares em provas nacionais.
Afonso Rebelo, com os seus oito anos, já consegue ultrapassar obstáculos com 1,20 metros com o seu cavalo.
O mano Francisco já chega ao 1,60 metros, mas em Portugal, por norma, as provas só chegam aos 1,45 metros, logo perspectiva-se para breve uma ida para o estrangeiro.
E se Francisco Fontes já parte à conquista das provas internacionais, Afonso Rebelo está a crescer nas pistas nacionais. Em breve vai saltar no concurso para a taça de iniciados em Coimbra. O mais velho, por seu lado, vai ao Internacional de Coimbra tendo assim a oportunidade de competir com os seniores.
De modo a ser mais fácil encarar os saltos de competição, os cavaleiros treinam mais alguns centímetros para encarar, de forma mais confortável, as provas.
“Cavalos tratados como as crianças”
Cavaleiros e cavalos têm dias bons e dias maus. Há humores e indisposições que podem fazer com que treinos e provas não corram da melhor forma. Não há nenhum atleta que não tenha tido um dia mau. Ele ou o seu cavalo.
Os animais que são os melhores para saltar são belgas, holandeses ou da raça sela francesa. Os seus são logo registados à nascença. Têm passaporte para poder viajar para as provas internacionais. Há também que ter em atenção vários aspectos relacionados com os cavalos. É preciso que tenham bons veterinários, tratadores (que se ocupam da alimentação e da limpeza do espaço) e de um bom ferrador.
No fundo, um cavalo é tratado como se fosse uma criança: tem horas para comer, para trabalhar, tudo previsto. Quem cuida dos animais não tem repouso pois não há dias em que não tenham que lhes dar atenção.
Apoio da família é fundamental
Para Verónica Ferreira, mãe dos dois irmãos cavaleiros, em Portugal “faltam cavalos, patrocinadores e dinheiro para concursos”. Só a inscrição para um fim-de-semana de concurso, em Vilamoura custa 550 euros, acrescentou. A esta verba soma-se a estadia, a viagem da equipa, do cavalo e do cavaleiro. Tudo somado dá maquias avultadas nem sempre suportáveis para o bolso das famílias portuguesas. Por isso, o país até possui grandes cavaleiros mas “têm que ir trabalhar para o estrangeiro”.
“No início de cada época é preciso definir objectivos”, comentou a mãe dos jovens que os acompanha para todo o lado. Todo este esforço da família “vale a pena quando os vemos no desfile da equipa e ouvimos o hino nacional”, contou Verónica Ferreira que se emociona ao ver os filhos e ouvir o hino nestes certames.
“Um enorme respeito pelo cavalo”

E o que é preciso para se ser um bom cavaleiro? Segundo Ricardo Rebelo, que é treinador de equitação há mais de 20 anos, “é preciso ter um enorme respeito pelo cavalo”. Depois tem que se ter jeito para montar a cavalo, algo com que se nasce mas que também se aperfeiçoa e se trabalha. “Segue-se uma grande força de vontade e muito trabalho”, afirmou o treinador, que além dos filhos tem outros jovens que leva a competições. Dá-lhes o exemplo de Ronaldo que, à conta de muito sacrifício e trabalho extra, “conseguiu atingir um nível elevado na sua modalidade”.
O treinador, que segue e acompanha os cavaleiros sempre que têm competições, considera que no país há falta de apoio à modalidade e acha que o primeiro problema se prende com o facto de a equitação não ser exibida na televisão. O facto de não haver apostas em Portugal, “não permite que a modalidade se desenvolva tanto como noutros países”, disse Ricardo Rebelo.
O facto de existir um programa de equitação na televisão por cabo já ajuda, mas era preciso que passasse num canal destinado ao grande público de modo a conseguir-se mais apoios. “Não podemos competir com cavaleiros que têm animais de saltos que podem custar três milhões de euros”, comentou o treinador que gostava que o Estado pudesse apoiar de uma outra forma esta modalidade, dado que há tradição nesta área em várias regiões do país.
Seja de transporte rodoviário ou de avião, o casal e os filhos vão sempre juntos e apoiam-se, dando assim prosseguimento a uma paixão que, provavelmente, se vai transformar na profissão de Francisco e de Afonso.






























