Foi a 14 de Julho de 1789 que teve início a Revolução Francesa com a tomada da Bastilha. A efeméride é celebrada pelos franceses de todo o mundo, que comemoram assim o feriado nacional do seu país.
Nas Caldas da Rainha foram 85 que se juntaram num almoço onde se cantou a Marselhesa e se conviveu durante toda a tarde, animados por um karaoke exclusivamente dedicado à canção francesa.
A região Oeste já tem uma delegação da UFE – Union des Français de l´Étranger.Quase todos reformados e todos satisfeitos com a opção de viver em Portugal e nesta região.
Jean Pierre Hougas, representante da UFE nas Caldas da Rainha, abre a sessão da karaoke e canta, com entusiasmo, “La Bohème”, a canção que Charles Aznavour imortalizou. Os convivas seguem-no e batem palmas. Por esta altura já o almoço terminou e o momento é o dos cafés. A canção seguinte é bem conhecida de toda uma geração de franceses (e de portugueses): “Touts Les Garçons et les Filles”, de Françoise Hardy. E depois vem, cantada com grande ênfase, a imortalizada “Rien de Rien”, da Edith Piaf. Segue-se “Tombe la Neige” (Salvatore Adamo) e a tarde prossegue neste registo.
As canções são antigas? É normal. Afinal a média de idades destes franceses é seguramente superior aos 60 anos. São, na sua maioria, reformados que optaram por viver em Portugal. Muitos têm alguma relação com o nosso país por via do casamento, mas também os há exclusivamente franceses que decidiram atirar-se de cabeça para um país lhes era desconhecido.
É o caso de Joelle e Dominique Pouplier, que desde Agosto do ano passado vivem no Nadadouro, onde compraram casa. Ele antigo inspector da polícia e ela quadro de uma indústria farmacêutica, decidiram muito simplesmente partir para Portugal a fim de comprarem uma casa. Assim, sem mais. Sem sequer conhecerem o país porque nunca nele tinham estado.
“Os nossos amigos disseram-nos que éramos loucos, que ao menos fizéssemos uma visita prévia, mas nós decidimos assim e não estamos arrependidos”, contaram à Gazeta das Caldas.
Razões para sair de França? “Uma fiscalidade instável e esmagadora”, explica Dominique Pouplier, a que se junta a falta de segurança devido, dizem, à excessiva emigração. “Eu sobre isso sei do que falo”, diz o ex-polícia, que está convencido que a insegurança nas zonas suburbanas das grandes cidades vai continuar a aumentar.
Aterraram em Portugal em Janeiro de 2013 e em Agosto eram proprietários de uma casa no Nadadouro. O Oeste foi a sua escolha “porque fica próximo do mar e da lagoa, porque não tem muito calor e porque é uma região com riqueza”, diz Joelle Pouplier.
O balanço deste primeiro ano é “muito bom”, dizem. “Os portugueses são acolhedores e tentam ajudar-nos, mesmo quando não falamos a língua”.
No seu quotidiano o casal entretém-se em volta do jardim e da piscina, e faz passeios pela lagoa e visitas à região, sobre a qual contam que há sempre coisas para descobrir. Jogam bowling nas Caldas e Dominique declara-se fã do ping pong, que costuma jogar com assiduidade.
A BATALHA DA ROLIÇA
Mas se o casal Pouplier não soma ainda 12 meses de vivência em Portugal, já François Gonzalez de Quijano (neto de um espanhol), natural de Nantes, vive na Delgada há 18 anos.
Este psicólogo do trabalho, que fez carreira na entidade francesa congénere do IEFP, resolveu voltar as costas ao trabalho e ao país onde tinha nascido há 49 anos e partir para Portugal ao encontro de uma filha de emigrantes portugueses que tinham vivido em França. Falamos, portanto, de uma história de amor.
François Quijano veio para ficar e, aos 67 anos, espera continuar com a sua mulher na quinta que compraram na Boavista (Delgada) onde criam animais.
Dezoito anos depois este francês já fala português, claro, embora não disfarce o sotaque. E tem certamente um olhar sobre o país que o acolheu: “gosto da generosidade, da simplicidade e da descontracção dos portugueses. É um país formidável para se viver, mas não necessariamente para trabalhar”.
A burocracia é uma das queixas. Mas também um certo espírito português de não saber contar consigo próprio: “os portugueses deviam confiar mais neles e não estar tão à espera dos outros, dos fundos comunitários. Às vezes, para um projecto, dizem que estamos à espera do dinheiro de Bruxelas e se não houver esse dinheiro, já não se faz nada”.
Ao fim deste tempo, François Quijano já deixou alguma obra feita: publicou um roteiro turístico da Lourinhã, Óbidos e Bombarral para caminhadas e observação da natureza. E ficou surpreendido quando descobriu que a sua freguesia – a Roliça – tinha sido palco de uma das batalhas das tropas napoleónicas.
Esse episódio, que estudou profundamente, partilhou-o com os seus compatriotas durante o almoço do 14 de Julho, convidando-os para uma caminhada evocativa da Batalha da Roliça que terá lugar a 17 de Agosto.
UM PSICÓLOGO QUE SE DEDICA À PINTURA
Raphael Imbert, 67 anos, foi há poucos meses notícia na Gazeta das Caldas, quando inaugurou uma exposição de pintura e escultura na Galeria Osíris. Radicado na Vermelha há quatro anos, este marselhês já antes tentara viver em Portugal, país pelo qual se apaixonou. Professor de Desenho Artístico no ensino secundário em Marselha, ainda tentou dar aulas no rectângulo luso, mas como não conseguiu, decidiu que, mal se reformasse, faria as malas e partiria. Em 2006 conheceu a região Oeste e decidiu que era aqui que ficaria a residir.
Com a reforma que aufere em França diz que vive razoavelmente bem em Portugal, embora reconheça que a generalidade dos portugueses reformados não possa dizer o mesmo. Do país que o acolheu sublinha o clima, as pessoas e as gastronomia como aspectos mais positivos. Diz-se bem integrado na Vermelha, onde vive com a mulher, também francesa, e onde montou o seu atelier de pintura.
“LE 14 ÉME JUILLET”
O 14 de Julho (que tem o mesmo significado que o 10 de Junho para os portugueses) é sempre comemorado pela UFE em todo o mundo e daí o almoço-convívio realizado nas Caldas, no restaurante Lisboa. Jean Pierre Hougas faz questão, porém, de esclarecer que a decisão de comemorar essa data foi tomada precisamente um ano depois da tomada da Bastilha, a 14 de Julho de 1890, “num dia em que não se verteu uma gota de sangue”, demarcando-se assim dos excessos da revolução.
A União dos Franceses no Estrangeiro está presente em 100 países num total de 170 delegações. A sua presença em Portugal data de 2001 e o número de inscritos é de 220. A representação em Portugal da UFE tem ainda um núcleo em Portimão e outro nas Caldas da Rainha, ou seja, o Algarve e o Oeste são, significativamente, as regiões que têm delegações daquela associação.
Tinta Ferreira, presidente da Câmara, escusando-se por não saber falar francês, deu as boas vindas em nome do município e assinalou a importância que a Revolução Francesa teve para que hoje se viva em Democracia em grande parte do mundo. Algo que, sublinhou, todos devemos aos franceses. Agradeceu ainda o facto desta comunidade estrangeira ter escolhido a região para viver, salientando as suas belezas naturais e também o seu “ar condicionado natural” que faz com que o Oeste tenha uma temperatura razoavelmente fresca enquanto no resto do país o calor é mais intenso.
E acertou: para muitos dos casais de reformados franceses, a opção por viver no Oeste, além da proximidade do aeroporto e do mar, foi ditada também pelo clima não excessivamente quente durante o Verão.
Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt
Outras festas nacionais
A propósito do feriado do 14 de Julho comemorado em França na passada segunda-feira, eis algumas das festas nacionais de outro países:
Estados Unidos: o feriado nacional é o célebre 4 de Julho, conhecido por “Independence Day” porque foi nesse dia do ano de 1776 que foi declarada a independência do país.
Alemanha: o 3 de Outubro alemão é uma festa nacional recente. Comemora a união das duas Alemanhas com a queda do muro de Berlim em 1989.
Espanha: o país vizinho, com as suas regiões autónomas e um mosaico de nacionalidades, teve de mergulhar bem fundo na História para encontrar uma data consensual. Foi em 12 de Outubro de 1892 que Cristóvão Colombo descobriu a América. A efeméride é comemorada como o Dia da Hispanidade.
Bélgica: país independente há pouco mais de um século, a Bélgica tem a sua festa nacional a 21 de Julho porque foi nesse dia do ano de 1890 que o primeiro rei dos belgas, Léopold de Saxe-Cobourg jurou respeitar a Constituição, dando início a uma monarquia constitucional e parlamentária.
Itália: ao contrário da Bélgica, cujo feriado assinala o começo de uma monarquia, a Itália assinala o início da República, a 2 de Junho, quando o seu último rei Humberto II se exila em Portugal em 1946. Mas a Itália tem mais uma particularidade relacionada com Portugal: um outro feriado nacional comemora o 25 de Abril, dia em que acabou o Fascismo implementado por Mussolini graças à libertação do país pelas tropas aliadas em 1945.































