Evento juntou centenas e prestou tributo ao burro, símbolo da identidade e da localidade
Mariana Gomes
A vila de Ferrel voltou a vibrar no sábado, 9 de agosto, com a 57ª edição da Corrida de Burros, um dos momentos mais aguardados da Festa em Honra de Nossa Senhora da Guia, que decorreu de 5 a 10 de agosto. Organizada pela associação ProFerrel, a iniciativa juntou centenas de pessoas em redor da igreja para assistir à prova que homenageia o papel fundamental do burro no quotidiano da comunidade.
Segundo alguns registos, a festa remonta ao início do século XVII e sempre teve na devoção religiosa o seu ponto de partida. A corrida, introduzida em 1968, nasceu para prestar tributo ao animal que, durante décadas, foi indispensável no trabalho agrícola e piscatório. Hoje, a tradição mantém-se, mas adaptada aos tempos modernos, atraindo visitantes de todo o país e turistas curiosos, muitos deles vindos para o surf e que acabam por se encantar com a corrida e participar na mesma.
A prova contou com 22 participantes, entre eles crianças e adultos, num percurso de 16 voltas à capela. Apenas 14 chegaram à final. Atrás da igreja, uma estátua do burro recorda a importância do animal para a vila, símbolo de uma herança que o evento procura manter viva. O ambiente fez-se de gargalhadas, incentivos e aplausos, com muitas famílias a marcarem presença para apoiar os concorrentes.
O primeiro prémio foi atribuído a Graciano, recebeu 200 euros e um eletrodoméstico; o segundo classificado, “Calimero”, ganhou 100 euros e uma air fryer; e o terceiro lugar, conquistado por Andreia Simões, foi premiado com 50 euros e uma torradeira/sanduicheira. Com família em Ferrel mas a viver em França, Andreia regressou propositadamente para competir: “Participo para manter a tradição”, revelando ainda que, apesar de fazer equitação treina com o burro dias antes para se preparar.
O pódio ficou completo com o quarto lugar atribuído a Graça, filha de uma antiga participante, e o quinto a Élio, campeão de várias edições anteriores. Apenas dois burros que participaram pertenciam a habitantes de Ferrel — precisamente os dos dois primeiros classificados — enquanto os restantes foram alugados, reflexo de como este animal deixou de fazer parte do dia-a-dia local.
Para Nuno Rosa, representante da ProFerrel, “a corrida dos burros é o símbolo maior das nossas festas, em termos de atividades”. Sublinhou ainda o aumento de participantes e visitantes estrangeiros, atraídos pela curiosidade e muitas vezes pela ligação ao surf. Destacou o orgulho da comunidade em manter viva esta tradição: “o carinho que as pessoas de Ferrel têm por este animal é como se fosse um animal de estimação, um símbolo para a vila.”
Mais do que uma simples competição, a corrida é um momento de encontro e celebração, onde fé, história e identidade se cruzam. Entre música e convívio, a 57ª edição reafirmou-se como um pilar das festas, perpetuando a ligação de Ferrel ao seu passado e ao burro que ajudou a construir a sua história.

































