Feira do 15 de Agosto cumpre mais um ano de tradição

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Feira do 15 de Agosto

A corrida à feira começou cedo. Com o 15 de Agosto a comemorar-se este ano ao Domingo, foram centenas as pessoas que bem cedo quiseram visitar a feira.

Muitos dos visitantes aproveitavam as primeiras horas do dia para poder fazer compras e divertir-se no terrado.

“Mais logo vai haver aqui muita gente e já está tudo muito escolhido. Assim tivemos lugar para o carro e podemos ver tudo com calma”, explicava Adélia Matos, das Caldas da Rainha, que veio à feira com a filha mais nova.

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Embora sem um objectivo específico de compra, hoje a maioria dos visitantes vem à feira pelo convívio e num acto de cumprir mais um ano de tradição. “Vimos todos os anos, aproveitamos para passear e os miúdos gostam dos carrosséis. Não vimos comprar nada, se virmos alguma coisa que valha a pena e em boa conta compramos, mas isto está muito mau e cada ano será pior”, diz António Rolo, residente em Caldas da Rainha. Com uma opinião similar, Sara Francisco, de férias em São Martinho, adianta que vai dando para pouco o que sobra dos ordenados no final do mês. “Viemos ver, mas é mais pelos miúdos que vimos porque eles gostam dos carrosséis, mas só dá para darem uma volta num”, disse.

Apesar de os carrosséis continuarem a ser uma das principais atracções das feiras, pelo menos para os mais jovens, longe vão os tempos em que estes esperavam com grande ansiedade pela chegada da feira do 15 de Agosto para ali se divertirem. “Os tempos eram outros. Não havia nada, discotecas ou bares, hoje os jovens têm tudo e ligam pouco a isto, as crianças é que continuam a gostar”, lembrava Joaquim Sebastião, das Caldas. “Como nós gostávamos disto… hoje os miúdos ligam pouco, é uma pena”.

Quando perguntámos aos visitantes o que podia ser feito para que a feira recuperasse a “glória” de outros tempos, a maioria lembrou que as condições do terrado e o estacionamento deviam ser melhorados, opinião partilhada também pelos feirantes. “Quase que não compensa virmos. Acabamos por nos chatear mais do que outra coisa. A ordenação das barracas é má, devia estar aqui alguém a ver isto quando vimos montar as barracas e o piso é irregular, isto qualquer dia ainda causa algum acidente grave”, dizia José da Silva, enquanto chamava a atenção de mais uns visitantes para que se aproximassem da sua barraca de bugigangas.

“Isto devia ser tudo alcatroado e arranjado como deve ser”

Mais à frente, Zélia Martins, queixava-se da poeira que o pavimento provoca. “Todos os anos é a mesma coisa. Isto devia ser tudo alcatroado e arranjado como deve ser para as pessoas poderem andar a ver tudo, sem ser aos encontrões”, afirmava, lamentando que apesar do movimento, as vendas fossem muito baixas. “Continuamos a vir porque precisamos e sempre se faz mais algum do que no resto do ano, mas vê-se que as pessoas não podem comprar. Isto está barato. Duas t-shirts oito euros e mesmo assim vimos que as pessoas ou não compram ou compram pouco”, disse.

Para visitantes e feirantes era importante que a autarquia tomasse conta do espaço e além de o melhorar, ajudasse a promover a feira do 15 de Agosto. Este ano o evento teve início à sexta-feira e prolongou-se até segunda-feira, dia 16 de Agosto, aproveitando o mercado semanal, mas foram poucas as pessoas que nos dias anteriores ao 15 de Agosto aí se deslocaram. Com um fim-de-semana de sol e calorm, muitos foram os que preferiram ir até à praia ou ficar por casa. “O dia mais forte é hoje, temos por hábito vir no dia 15 de manhã, mas se calhar nos outros dias podíamos ver isto mais tranquilos”, acabava por constatar Henrique Fernandes, residente em Lisboa e natural das Caldas.

Também Zélia Horta, vendedora de bugigangas, lamentava, no sábado, a falta de adesão das pessoas. Às 17h00 eram poucos os visitantes e ela lá deixava escapar que estava arrependida de ter vindo. “Deviam aproveitar o fim-de-semana. Fazer com que as pessoas cá viessem, como acontece noutras feiras como a de Peniche, que recebe milhares de pessoas diariamente. Esperamos que o dia de amanhã compense”.

O desfiar da feira tem vindo cada ano a tornar-se mais evidente, com menos peso na economia e cultura da cidade, em que parece que esta mais se cumpre pela tradição do que pela sua importância.

Nota-se também cada vez menos feirantes, acabando este evento por se aproximar do habitual mercado de segunda-feira. Apesar das inúmeras barracas de farturas e comes e bebes, têxteis, sapatos, bugigangas, artesanato e produtos agrícolas, estas têm vindo ano após ano a diminuir de número, não chegando a encher o terrado.

Já nas circulares e envolventes da feira a confusão de carros é muita e com o chegar da noite os feirantes esperam que venha a ser ainda maior. São já poucos os espaços onde estacionar e a estrada começa a ficar repleta de carros estacionados. Apesar do forte policiamento, vale tudo em busca de um lugar onde “largar” o carro, desde passeios, aos separadores centrais da estrada, a carros estacionados em segunda fila ninguém parece temer a multa, até porque ela nestes dias parece não existir.

Com o final do dia fica a sensação que uma vez mais cumpriu-se a tradição, mas que é preciso mais para manter viva a alegria por aquela que foi outrora a marca mais importante do feriado do 15 de Agosto.

Ana Elisa Sousa

 

Até os vagões de mercadorias transportavam gente

Há 50 anos confluíam para as Caldas da Rainha muitos milhares de pessoas no feriado do 15 de Agosto. Num tempo em que o transporte individual não se tinha ainda banalizado e os automóveis eram só para as classes de maiores rendimentos, as camionetas chegavam e partiam cheias de gente na estação rodoviária das Caldas e o mesmo acontecia com os comboios, apinhados, que largavam multidões na gare caldense.

Esta história aconteceu num 15 de Agosto da década de sessenta. A estação do Bombarral estava nessa amanhã lotada com centenas de passageiros à espera do comboio da 8h05. A maioria destinava-se, naturalmente, às Caldas da Rainha, mas também a S. Martinho, dado que era este o melhor transporte para ir à praia (num tempo em que a CP não obrigava os “utentes” a fazer transbordos inúteis na estação das Caldas).

O comboio chegou, mas havia tanta gente que nem todos couberam, tendo algumas dezenas de passageiros ficado na gare à espera do seguinte, por volta das 10h00. Só que para esse começa também gente a afluir à estação. O ferroviário de serviço lá foi vendendo os bilhetes e vendo o caudal de pessoas a engrossar. Estavam novamente centenas de pessoas na gare.

De Torres Vedras liga-lhe entretanto o chefe de estação a comunicar que o comboio já vinha superlotado daquela estação e que dificilmente nele caberia mais gente.

O comboio seguinte, às 12h20, dificilmente escoaria também os passageiros que queriam ir à Feira do 15 de Agosto ou à praia. Que fazer?

Só havia uma situação de recurso. Com autorização superior, o chefe da estação do Bombarral lá convenceu os passageiros que poderia atrelar um vagão de mercadorias ao comboio de passageiros para reforçar a capacidade da composição. A ideia foi bem acolhida pois o que as pessoas queriam era mesmo chegar ao destino.

E foi assim que naquele 15 de Agosto um comboio chegou às Caldas com pessoas em fato domingueiro a viajar num vagão que costumava transportar adubo.

Se fosse hoje, a coisa seria proibida e, caso fosse permitida, ganharia foros de escândalo, com direito a reclamações e reportagem em canal televisivo mais sensacionalista. Mas naquele tempo ninguém protestou.

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