Feira da Cutelaria Artesanal com maior diversidade de facas

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Gazeta das Caldas
Havia facas com diversos tamanhos, formas e preços

No passado fim-de-semana o foyer do CCC encheu-se de facas e navalhas para a II Feira Internacional da Cutelaria Artesanal. A organização estima que tenham passado pelo evento – que é um ponto de encontro para os amantes da forja – 1600 pessoas. Este ano havia facas com mais qualidade e uma maior diversidade de exemplares, apesar de menos expositores com material.

Gazeta das Caldas
Paulo Roberto Bellenzier veio do Brasil para as Caldas. Foi o expositor que veio de mais longe.

Ora encontramos uma faca cujo cabo é um chifre, ora vemos outra em fibra de vidro e a seguir uma em madeira, outra em aço… Há delas penduradas em estruturas de madeira e troncos e outras espalhadas pelas bancas. Passamos por uma autêntica espada de batalha, com quase meio metro de lâmina, e chegamos a uma navalha de bolso com menos de cinco centímetros.
De vários tamanhos e formas, com diferentes materiais e preços, milhares de facas estiveram em exposição (e venda) na II Feira Internacional de Cutelaria Artesanal nas Caldas, que decorreu no passado fim-de-semana no CCC.

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Ainda no exterior e já temos uma mostra do que é o processo de criar uma faca, com os alunos do workshop do Lombo do Ferreiro a trabalharem ao vivo sob a orientação dos seus mestres. No próximo ano o objectivo é abrir este atelier ao público.
É também no exterior que decorrem os workshops para fabricar a própria navalha.
Lá dentro fazem-se contactos e negócios, vendem-se umas facas e algum material para os cuteleiros, trocam-se experiências, pedem-se dicas e conselhos e aprecia-se o trabalho dos expositores.
Logo à esquerda estavam as várias marcas de cutelaria industrial da região: Nicul, ICEL e SICO. De seguida encontramos as peças que o Canal História irá sortear na feira e a Falcata de Viriato, mas já lá vamos…
Na banca do material estão as madeiras para os cabos, o aço para as lâminas, as resinas, espumas, coro e ferramentas necessárias a esta arte.
A Feira é um ponto de encontro para os amantes desta arte e uma forma de dar a conhecer cuteleiros com mais ou menos experiência.
Este ano esteve presente Paulo Roberto Bellenzier (a marca chama-se Parobel), que veio de Caxias do Sul, no estado de Rio Grande do Sul, no Brasil, onde há 40 anos se dedica a produzir as facas típicas daquele local – as Facas Gaúchas. Trouxe às Caldas facas que utilizam, por exemplo, madeira da Amazónia e Gazeta das Caldas quis perceber como é que alguém toma contacto com esta feira do outro lado do Atlântico e quais os motivos que o trazem.
Há dois meses, o cuteleiro veio a Portugal visitar a filha, que mora em Lisboa, e “já tinha lido que nesta região havia um resgaste da cutelaria”. Quis conhecer a cutelaria em Portugal e encontrou-se com Carlos Norte, do Lombo do Ferreiro, que o convidou para expor na feira.
Paulo Roberto Bellenzier elogiou o trabalho feito neste “país milenar, que sofreu influências árabes e romanas grandes”. Em Portugal encontrou “produtos de qualidade, muito bem feitos”.
O cuteleiro decidiu vir à feira principalmente para fazer contactos. “Não vim aqui vender facas, vim interagir, ver os materiais e o que têm para me ensinar, é o maior legado que levo daqui”, disse, deixando na ar a possibilidade de trazer mais cuteleiros brasileiros às Caldas.
Logo ao lado encontramos Kirillov, da Rússia, que já havia estado na primeira edição e que este ano trouxe uma novidade: uma faca que fica escondida na fivela do cinto.
De Espanha vieram vários expositores, entre os quais o Museu e Fábrica de Taramundi, terra que deu nome a um modelo de faca. De França veio Paulo Simões, que nasceu na Bretanha, mas cuja família é de Ferrel. O luso-francês dedica-se a esta arte há 28 anos e nota que em Portugal está a acontecer agora o que aconteceu em França há 20 anos, com o despertar para a cutelaria artesanal e a evolução na qualidade das peças. “Já se nota nesta feira alguma diferença de há dois anos para cá, com maior qualidade e diversidade”, refere.
Para a edição deste ano Paulo Simões trouxe uma novidade: uma faca de sobrevivência na qual dá para instalar uma fisga ou um arco para lançar flechas. A bolsa da faca tem bússola e uma barra para fazer fogo.

DE VISITANTE A EXPOSITOR

[caption id="attachment_123376" align="alignleft" width="300"]Gazeta das Caldas Durante o fim-de-semana realizaram-se várias actividades ligadas à cutelaria[/caption]

Mas este evento também há quem, como Carlos Queirós, se tenha aventurado a avançar a sério na cutelaria depois da primeira visita à feira nas Caldas. “Um dos expositores viu uma faca feita por mim e disse que se eu tinha feito aquilo, então teria lugar na feira”, recorda. E assim foi… De visitante na primeira edição, passou a expositor na segunda.
Este vila-condense procura trazer linhas modernas, mas feitas de forma artesanal. O gosto nasceu de uma vontade de reciclar e evitar desperdícios. É que Carlos Queirós trabalha em madeira e tem muitas lâminas que vão para o lixo. Queria então aproveitá-las, tendo aprendido que tal não era possível. “Apanhei o gosto e decidi fazer uma faca…”, e o resto é previsível, são horas e horas, depois do trabalho, a fazer facas.
À feira trouxe modelos com cabos em diferentes madeiras, mas também um em resina colorida. Em termos de vendas, admite, “o retorno não é muito grande, mas o evento é muito importante para fomentar o interesse na cutelaria artesanal e dar a conhecer o trabalho”.
Entre uma bigorna, um martelo e muitas facas, falamos com Humberto Silva, que vem de Arcos de Valdevez e que nunca tinha vindo a esta feira. Começou a fazer facas em 2016, mais tarde fez um workshop “com os mestres da cutelaria artesanal no país, Carlos Norte e Paulo Tuna” e aqui está ele a apresentar os seus exemplares, com madeiras que recolhe na sua zona e chifres de animais.
O evento atraiu este ano um público mais especializado, com chefs de cozinha, coleccionadores, caçadores e amantes das técnicas de sobrevivência na natureza. É o caso de Bruno Fernandes, que veio de Lisboa de propósito para ver a feira. Já tinha vindo na primeira edição e já leva para casa madeira para fazer o cabo de uma faca. “A feira está melhor, tem mais produtores de facas, mas falta um ou dois expositores de materiais que tinham vindo”, realça.
O gosto pelas facas já vem de miúdo, do tempo em que um primo lhe fez uma faca, mas foi reavivado com o Bushcraft, uma actividade que envolve a vivência em natureza e à qual é indispensável uma boa faca. “Encontram-se aqui coisas que pensaríamos que já não eram feitas à mão”, nota.

A FALCATA DE VIRIATO

Uma das grandes atracções da feira deste ano foi a Falcata de Viriato que terá sido usada para afastar as invasões romanas e que foi recriada por Carlos Norte, do Lombo do Ferreiro (que organiza o evento). A ideia de fazer aquela peça “é uma paixão minha pela História, por ser talvez a primeira peça da Península Ibérica, a faca que está na mão de Viriato em Viseu”.
O Canal História procurava associar-se a artesãos com história nesta arte para promover mais uma temporada do programa Forjado no Fogo, que estreia em Outubro. Conforme explicou Ana Costa, responsável pela comunicação do canal em Portugal, chegaram “ao Lombo do Ferreiro através de uma pesquisa, porque foram os que se destacaram”.
Quando Carlos Norte foi contactado pelo Canal História disse logo que teria de dar a conhecer a Falcata. Trata-se de uma peça complicada em termos de forja, mas também o cabo é um… cabo de trabalhos. Trata-se da cabeça de um cavalo que foi esculpida no aço pelo beneditense Lino Jorge.
Carlos Norte referiu que a vinda do canal História “vai fazer com que as Caldas seja falada e acho que vai ser muito bom para todos os cuteleiros daqui”.
Hugo Oliveira, vice-presidente da Câmara das Caldas, esteve no evento logo no sábado de manhã e salientou a quantidade de pessoas que se deslocou ao evento num dia de tanto calor. “É uma aposta ganha”, referiu o autarca, elogiando o facto de no evento haver espaço para a cutelaria artesanal, mas também industrial.
Questionado pela Gazeta das Caldas, Hugo Oliveira esclareceu que o apoio camarário à feira foi o aluguer do espaço do CCC.
Além das sessões sobre armas brancas (uma pela PSP e outra por uma associação de coleccionadores), este ano houve sessões sobre afiação de facas e testes de cortes e resistência de lâminas.

Gazeta das Caldas
Segundo a organização, passaram pela feira, que teve lugar no CCC, cerca de 1600 pessoas
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