
Várias farmácias das Caldas estão de luto. Aderiram à campanha nacional que visa explicar aos seus clientes o que se está a passar com o sector. Gazeta das Caldas falou com vários responsáveis que temem pelo futuro dos seus negócios.
A política de consecutiva desvalorização do custo do medicamento, a degradação da margem de lucro poderão levar ao encerramento, em todo o país, a partir do próximo ano, de cerca de seis centenas de farmácias.
Há quem já tenha tido a necessidade de reduzir não só no horário do serviço como também quem já se viu obrigado a dispensar funcionários.
A adesão ao protesto simbólico foi mais visível nas zonas menos urbanas. Na cidade várias farmácias aderiram mas sem exibição dos panos negros da campanha. A preocupação é muita e generalizada. Segundo o delegado da região da Associação Nacional de Farmácias a situação é grave e poderá levar à degradação da qualidade do serviço que hoje se presta nas farmácias. “Não há dúvidas de que há dificuldades”. São palavras de João Branco Lisboa, farmacêutico e delegado do círculo 23 (da Marinha Grande até ao Oeste) da Associação Nacional de Farmácias.

O responsável explicou que as farmácias estão a passar grandes dificuldades por causa das alterações na política do medicamento e à penalização das farmácias, “por causa da degradação do preço dos medicamentos como pela degradação da sua margem”, disse o responsável.
No Memorando de Entendimento, a Troika exigia que se efectuasse uma redução das margens no sector da distribuição farmacêutica (farmácias e grossistas farmacêuticos) de modo a permitir uma poupança de 50 milhões de euros.
Segundo João Branco Lisboa, em Julho de 2012, a poupança alcançada era já calculada em 75 milhões de euros (54 milhões de euros das farmácias e 21 milhões de euros dos grossistas farmacêuticos).
“Temos um universo de 2700 farmácias e cerca de 1131 têm cortes de fornecimento de pelo menos um distribuidor”, disse Branco Lisboa acrescentando que cerca de 457 têm já processos em tribunal, correspondendo a um valor superior a 235 milhões de euros em contencioso.
Em Junho de 2012 existiam 614 farmácias com acordos de regularização de dívidas. É preciso ainda ter em conta que em Portugal cerca de 1900 farmácias são de dimensão média ou pequena.
“Esta situação não é possível manter-se”, disse Branco Lisboa. Analisando as farmácias da região, a maioria emprega entre três e 10 pessoas e possui um carácter familiar.
“Uma farmácia que venda 1 milhão e 200 mil euros por ano está com dificuldades e se não estiver agora irá tê-las a curto prazo”, disse o delegado da ANF.
Uma farmácia média – que empregue cinco a seis pessoas – neste ano de 2012, está a passar dificuldades ao passo que até 2011 “estava na linha de água”.
Branco Lisboa está preocupado sobretudo com as farmácias das zonas rurais que poderão a ser as primeiras a sentir as graves dificuldades.
“É muito importante que as pessoas tenham consciência do que pode acontecer às suas farmácias”, disse Branco Lisboa que está igualmente preocupado com a perda da qualidade do serviço. Até à implementação das novas medidas a farmácia “era um modelo” quando comparada com as suas congéneres europeias.
As Caldas tem sete farmácias nas duas freguesias urbanas e mais oito no restante concelho: em Salir de Matos, Sta. Catarina, Vidais, A-dos-Francos, Foz do Arelho, Rostos e Tornada.
“Farmácias estão a perder dinheiro”
“Uma farmácia média hoje perde dinheiro. Deve-se à politica do medicamento, à redução da margem de lucro (na ordem dos 7%), e da própria redução sucessiva dos preços”, explicou o delegado.
Segundo Branco Lisboa, com base num estudo recente de Pita de Barros da Scholl of Business and Economics, as margens da distribuição farmacêutica reduziram-se em média 14%. O preço médio por receita baixou de 38,81 euros em 2002 para 30,78 euros em 2012, o que não é suficiente para gerar margem positiva para cobrir custos fixos.
Gazeta das Caldas falou com vários responsáveis de farmácias, da cidade e das suas freguesias e a opinião é unânime. Todos sentem dificuldades, alguns tiveram já que reduzir horários e no pessoal e temem o futuro. Há quem refira que no próximo ano, com os cortes previstos no Orçamento de 2013, seja de temer que o sector tenha ainda mais dificuldades.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt






























