
Faleceu no passado Sábado nas Caldas da Rainha, no Montepio, Manuel Oliveira Perpétua, que foi o primeiro presidente da Comissão Administrativa da autarquia caldense em 1974 em representação do MDP/CDE.
Manuel Perpétua foi director do Colégio Ramalho Ortigão nos anos 50, antes de criar um colégio seu em Porto de Mós, que viria a dirigir até ao ano de 1973, quando foi comprado pelo governo na sequencia da reforma Veiga Simão.
Na sequência desta decisão voltou para as Caldas da Rainha onde passou a viver, participando em inúmeras actividades de carácter cultural e social.
Dada a sua participação nas movimentos da oposição viria a ser convidado para dirigir a Comissão Administrativa da Câmara Municipal das Caldas da Rainha nos primeiros meses à Revolução do 25 de Abril.
Viria a resignar aquele cargo, tendo sido substituído por Hergildo Velhinho que representava o PS na Comissão Administrativa.
Depois manter-se-ia a viver nas Caldas onde tinha uma acção discreta, mantendo as suas amizades culturais e políticas, não recusando convites para afirmar a sua afirmação como cidadão.
A acção que desenvolveu em Porto de Mós continua a ser muito elogiada por cidadãos daquele concelho, como se pode ler num blog de um natural daquele concelho, que se refere de forma muito carinhosa em relação à sua actuação: “As matérias, as disciplinas, eram interessantes: História, Psicologia e Filosofia. Que ele sabia tornar ainda mais interessantes! Mas, se não tinham interesse nenhum, como era o caso da famigerada Organização Política e Administrativa da Nação (OPAN, como lhe chamávamos como que antecipando o actual mundo das siglas) ele sabia exactamente como torná-las tão ou mais interessantes que as outras. E passávamos, então, quase todos os meses do ano lectivo aprendendo coisas novas e interessantes. Quase todos, porque, no último, ele dizia: “Bom, agora temos que nos preparar para o exame; toca a estudar o livrinho, porque o exame é feito disto e não do que temos andado a falar”. Pois, é que era proibido falar do que tínhamos andado a falar!
Para quem não viveu esses tempos, não é fácil imaginar a importância do Colégio em Porto de Mós. O Colégio, tal era a excelência, trouxe para Porto de Mós gente de todo o país, de Norte a Sul, das ilhas às então colónias. O que toda essa gente trouxe e levou permanecerá para sempre como património de Porto de Mós. Todavia, património maior ficou com os portomosenses, a quem o Colégio abriu as portas da educação, num tempo em que a educação era privilégio de alguns e não direito de todos. Em que o ensino público secundário estava disponível, para apenas alguns, nas capitais de distrito e pouco mais. E em que os acessos e a mobilidade nada tinham a ver com a actualidade.
O Dr Perpétua fez ensino público num Colégio Particular (como então se dizia, em vez do actual privado). Colégio que se tornaria efectivamente público, na primeira escola pública do ensino secundário em Porto de Mós, em 1973 quando, pela mão da reforma “Veiga Simão”, desencadeada a partir da primavera Marcelista, o Estado adquire aquela magnífica infra-estrutura,
hoje um verdadeiro ex-libris da arquitectura em Porto de Mós, dando continuidade à nobre missão do Dr Manuel Perpétua.” (in vilaforte.blogs.s apo.pt)
Por tudo isto o Rotary Clube da Porto de Mós vai-lhe prestar uma homenagem no próximo domingo. Antes já haviam atribuído o seu nome à Escola EB2 daquele concelho.
Também manteve sempre uma relação de amizade e de consideração com este jornal.
Por tal destacamos a sua personalidade neste momento do seu desaparecimento e enviamos à família as sentidas condolências.
JLAS
A última aula
Muitos anos depois deste já estar reformado, convidei o professor Perpétua para dar uma aula a uma turma do secundário na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro. Era véspera do feriado de 25 de Abril e o objectivo era contar aos alunos, na primeira pessoa, a experiência de quem tinha vivido aquela data na idade adulta e fora o primeiro presidente da Câmara das Caldas da Rainha após a revolução.
Os alunos ouviram, entusiasmados, o velho senhor contar-lhes como o regime deposto nessa data censurava e pressionava os professores e alguns episódios vividos no seu colégio de Porto de Mós onde, de forma passiva mas digna, Manuel Perpétua fazia alguma resistência.
Ouviram também relatos interessantes da confusão pós-revolucionária e das dificuldades que o inexperiente presidente da Câmara tivera no seu mandato em gerir as diferentes hostes partidárias, imbuídas à época de muito entusiasmo e também de muito sectarismo.
Recordo que no fim da aula o convidei para, num gesto simbólico, assinar o sumário e a emoção com que o professor reformado o fez, sabendo talvez que aquela seria a sua última rubrica num livro de pontos escolar.






























