José Luiz Almeida Silva,
antigo diretor da GC
Na passada semana faleceu em sua casa de morte natural o ex-primeiro ministro Francisco Pinto Balsemão, que, simultaneamente foi um dos grandes empresários dos media portugueses, tanto na imprensa escrita como na televisão e um dos fundadores do PPD depois PSD.
Mas a memória da ação política de Pinto Balsemão começa no final dos anos 60, quando foi eleito deputado pela ala liberal do governo de Marcelo Caetano, num grupo onde pontuavam Sá Carneiro, Miller Guerra, Magalhães Mota e Pinto Leite, este o mais ousado que morreria num desastre de helicóptero na Guiné ainda em 1970 numa visita oficial.
Nessa época Pinto Balsemão, então advogado, havia passado a intervir no jornal Diário Popular, da sua família, onde chegou a secretário da direção e administrador, cuja experiência lhe permitiu partir para a aventura do semanário Expresso a partir de janeiro de 1973, jornal que viria a ser um quebra cabeças para o governo de Marcelo Caetano próximo do seu estertor.
Na sequência do 25 de Abril de 1974, Pinto Balsemão seria um dos fundadores do Partido Popular Democrático, que com o Partido Socialista, viria a dominar alternadamente e algumas vezes em conjunto, o panorama político português desse período até hoje, mantendo-se sempre como um dos principais proprietários do Expresso e tendo fundado a estação televisiva SIC nos anos 90 do século passado, quando a RTP perdeu o monopólio estatal.
No final dos anos 70 quando o PSD havia ascendido ao poder político nacional, assumiu o cargo de vice-primeiro ministro de Sá Carneiro, tendo ascendido a primeiro-ministro em 1981 na sequência do trágico acidente aéreo em que morreu Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa.
No período de três anos dos seus governos, entre 1981 e 1983, Caldas da Rainha e a região conseguiram obter algumas das “conquistas” significativas daquele período, nomeadamente a criação da Região de Turismo do Oeste, a aquisição do Palacete Visconde de Sacavém para a instalação do Museu de Cerâmica e a criação do CENCAL com o apoio da recém-criada Associação Industrial do Oeste. Coincidiu também com a criação da Escola de Sargentos do Exército a partir do RI5 pelo Estado Maior General das Forças Armadas.
Foi pela mão do Expresso de Pinto Balsemão, através do seu braço direito Penha e Costa (alto dirigente da Sojornal e seu chefe de gabinete no governo) que a Gazeta das Caldas participou na Direção da AIND – Associação da Imprensa Não Diária desde janeiro 1985, coincidindo com a realização nas Caldas da Rainha em maio desse ano, do I Congresso da Imprensa Não Diária, com a presença do então primeiro ministro Mário Soares. Na sessão de abertura coube a Pinto Balsemão, como dirigente da imprensa, fazer a intervenção inaugural, com uma importante abordagem às condições de atividades das empresas jornalísticas e ao exercício da profissão de jornalista.
Ainda no âmbito das funções desempenhadas pela Gazeta das Caldas na AIND sob a presidência do Expresso, o diretor deste jornal foi proposto e eleito para o Conselho de Imprensa entre agosto de 1985 e junho de 1990, quando este órgão terminou as funções. Igualmente participou na fundação do CENJOR.
Recorde-se que Pinto Balsemão esteve a seguir ao 25 de Abril na liderança da elaboração da nova legislação da Liberdade de Imprensa, com a criação do Conselho de Imprensa, de que foi membro a partir de maio de 1975 como representante das empresas jornalísticas (lugar ocupado pela Gazeta das Caldas dez anos depois).
Interessante ainda recordar que foi Pinto Balsemão que convidou a Imprensa, onde se encontrava a Gazeta das Caldas, para uma visita à Presidência do Conselho de Ministros em junho de 1981 e para participar no almoço mensal informal que, como primeiro ministro, ofereceu aos convidados presentes, momento em que pontuou o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, então apenas como diretor e analista do Expresso, mas apontado como futuro Secretário de Estado para a Comunicação Social. Afinal Marcelo haveria de ser nomeado no governo seguinte como Ministro dos Assuntos Parlamentares, sob a direção de Pinto Balsemão, deixando histórias muito comentadas sobre as relações entre ambos.
Mas Pinto Balsemão protagonizou em 1980 uma história rocambolesca tendo a Gazeta das Caldas como protagonista, que foi muito comentada na época nos meios políticos e partidários locais, relacionada com a dragagem da Lagoa de Óbidos. No domingo dia 21 de Agosto, Pinto Balsemão como Ministro adjunto do Primeiro Ministro, Sá Carneiro, presidiu nos Paços do Concelho das Caldas da Rainha, a uma reunião na presença do presidente da Câmara e vereadores, do Governador Civil, Rui Garcia, do Presidente da Assembleia Municipal e de muitos deputados municipais e presidentes de Junta de Freguesia, para lhe serem apresentados os principais problemas do concelho. Depois de ter ouvido várias intervenções reforçando estes temas, Pinto Balsemão, perante a estupefação da maioria, anunciou “a chegada da draga à Lagoa de Óbidos para aquele dia” (o que afinal não se verificara). Posteriormente algumas figuras locais pretenderam desmentir a afirmação, mas como a Gazeta dispunha da gravação o tema ficou por aqui perante o gáudio generalizado. Contudo, Pinto Balsemão, entendendo a gaffe que havia cometido não descansou enquanto a draga não chegasse à Foz do Arelho, o que aconteceu em setembro do ano seguinte, quando já era primeiro ministro, tendo visitado a obra em dezembro de 1982.
Finalmente ainda recordamos com muita gratidão uma iniciativa do seu jornal em 2004 e apadrinhada por si, da criação da rede Expresso entre o semanário e um jornal representante de cada região do país, onde a Gazeta das Caldas representava o Oeste, numa ideia criativa do jornalista Afonso Camões, que durou vários anos. Na cerimónia de lançamento do projeto num hotel em Oeiras, a Gazeta das Caldas representou toda a imprensa regional nacional na mesa de Pinto Balsemão, por ser entre todos o jornal mais antigo presente. Nesta qualidade ainda participámos na edição conjunta do Álbum das Glórias (2005) de Rafael Bordalo Pinheiro que foi proporcionada a um preço especial aos leitores de ambos os jornais que a quiseram adquirir.
Em vários momentos assim Pinto Balsemão, que agora nos deixou com 88 anos de idade, depois de uma vida preenchida jornalística e politicamente, sempre mostrou pelas Caldas da Rainha e pela Gazeta das Caldas, nos vários momentos, uma consideração reconhecida e reforçada. Uma personalidade marcante nos mais variados domínios que nos deixou.































