Faleceu Alberto Saramago

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Alberto Saramago era uma figura típica caldense, da segunda metade do século passado, com especial destaque para o Bairro da Ponte onde vivia desde sempre, e que esteve associado a muita da mais variada espécie de animação que passou pelas Caldas.
Era um homem bonacheirão, sempre com a sua história ou anedota na ponta da língua, para deslindar quando encontrava qualquer amigo.
Nós nos jornais éramos prendados frequentemente com poemas que ele fazia sobre a história ou fait divers citadinos. A sua produção era prolífica e muitas vezes não conseguíamos assegurar a publicação atempada, facto que o entristecia bastante e às vezes provocava algumas zangas. Contudo, acabava sempre bem.
O Carnaval dos anos 60 e início dos anos 70 teve nele o principal e maior entusiasta, sendo também o seu principal animador, com as máscaras que ele nunca dispensava.
Com base nesse projecto criou uma colectividade com objectivos sociais, para a construção de um lar que nunca viu coroada a sua ideia inicial e que muito o deve ter entristecido.
Antes teve um papel central nas revistas que se faziam nos Pimpões, segundo contam alguns dos seus amigos.
Gazeta das Caldas associa-se ao luto da família e apresenta os sentidos pêsames.
Para o relembrar publica nesta edição algumas fotos das suas iniciativas e o último poema que dedicou aos leitores da Gazeta das Caldas em Julho de 2010, dedicado ao Parque, cujas palavras se mantêm bastante actuais.
JLAS

Passeio no parque …
Lembra-me das Caldas no Verão
Cidade de muitos turistas
Gostava de saber a razão
De agora não darem nas vistas

Estou no parque, velho jardim
Que a todos nós pertence
Lembranças que sinto em mim
Era o orgulho caldense

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O Parque esteve esquecido
Mas já dá gosto em visitar
Lá tem seu coreto erguido
Onde as bandas iam tocar

O maestro comandava
Era grande a satisfação
O povo, feliz, passeava
À noite durante o Verão

Havia também o Casino
De requintado bom gosto Que triste o seu destino
Só de olhar, causa desgosto

Numa noite no Casino Amália esteve a cantar
Foi enorme o desatino
Toda a gente queria entrar

Tem uma pequena maravilha
Com os barcos a girar
Nele, há uma bonita ilha
É um lago de encantar

Olhando para os pavilhões vazios e cheios de pó
Surgem muitas recordações
Na obra de Rodrigo Berquó

Salão Ibéria, o velhinho
Não teve substituição
Olho o espaço com carinho
Dos tempos que já lá vão

Pelo Parque podíamos ver
Peças de arte de Bordalo
Para nós era um prazer
Nunca é demais recordá-lo

Há o Museu José Malhoa
Que foi pintor consagrado
E porque o seu valor soa
Em todo o mundo é falado

O auto Rainha D. Leonor
Por um teatro de Lisboa
Teve extraordinário valor
Próximo do Museu Malhoa

Agora Parque D. Carlos I
Antes Rainha D. Leonor
Em Portugal é o primeiro
E também mais sedutor

Foi aqui é bom lembrar Grande evento que se fez Até custa a acreditar
A Exposição do Mundo Português

Mundo que se quer diferente
Mas deve ter ambição
De uma forma inteligente Preservar a tradição

Conservar modernizar
Enaltecer a singularidade
Sem nunca descaracterizar
A nossa bela cidade

Alberto Saramago

Alberto Saramago!..

Deixaste de poder estar junto de nós fisicamente, mas os teus amigos (e são muitos) irão conservar e guardar para sempre as tuas histórias, os teus sorrisos, as tuas gargalhadas e o teu gosto e muito trabalho em prol da cultura e tradições carnavalescas..
Amigo!..
Tu eras e serás sempre uma figura histórica no Oeste e nas Caldas da Rainha, em particular.
Recordo a última vez que te vi, cumprimentei-te e não esqueço o teu afável cumprimento: -Olha o americano está cá!. Nesse momento como agora que te escrevo eras e serás sempre o mesmo Alberto Saramago.
Não te escrevo porque partiste, escrevo porque alcançaste a meta da vida e a todos levaste na alma.
A todos deixaste um amargo de boca, mas como bem nos quiseste recordar para sempre nos escreveste!..
Tudo faz falta na vida..
Para o mundo poder girar.
Mas na hora a partida..
Ninguém a pode evitar.

Sinceros pêsames à família enlutada.

José Caetano
USA

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