Expotur visitada por 180 mil pessoas. Organização quer chegar às 200 mil.

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casacheiaA Expotur – Tasquinhas das Caldas da Rainha – encerrou no domingo, 17 de Agosto tendo sido considerada como a melhor edição dos últimos dez anos, segundo a organização. Ao todo, o certame que começou a 8 de Agosto, foi visitado por 180 mil pessoas e deverão ter sido facturados entre 250 mil a 300 mil euros.
Na 19ª edição da Expotur marcaram presença 21 tasquinhas e quatro bares que contaram com um total de 2400 lugares sentados.
Além do atractivo principal do certame que é a gastronomia, ao todo houve 117 pavilhões de exposição que deram a conhecer o que há de melhor desta região relacionado com a sua etnografia e artesanato.
Segundo António Marques, director da Expoeste, esta foi a melhor edição da última década e para o facto terá contribuído que os dias da crise não permitem a muitos sair de férias como era habitual, verificando-se que há mais gente a permanecer na região. Para o organizador, “60% dos caldenses e seus convidados vieram às tasquinhas”.
O director do centro de exposições considera que as Caldas da Rainha “está na moda” e o facto de estar a ser rodada uma telenovela na Foz do Arelho também deverá ter contribuído para um ligeiro aumento nas contas finais dos visitantes: 180 mil, o que soma mais 20 mil do que na edição de 2013.
A Câmara das Caldas da Rainha investe neste evento 118 mil euros (contabilizando já o IVA), valor que inclui todos os custos, inclusive o programa de animação dos dez dias, que custa 20 mil euros.

Mais de 4000 horas de trabalho gratuito

Segundo António Marques, ao todo, durante o certame as associações responsáveis pelas tasquinhas e bares terão obtido um encaixe financeiro entre os 250 e os 300 mil euros. Por mais pequena que seja a tasquinha (ou bar) “nenhum fez menos de cinco mil euros”, explicou o organizador. Somas superiores terão sido obtidas pelos espaços que mais se esmeraram nos pratos para o público saborear e que tiveram noites em que trabalharam, entre as suas equipas, 40 pessoas.
E como se chega a este valor? “Calculando o preço médio da refeição pelo número de lugares sentados”, explicou o director do centro de exposições.
“Estas receitas acabam por ser uma óptima ajuda que a Câmara proporciona às associações”, comentou António Marques, acrescentando que toda a gente trabalha neste certame de forma voluntária. Durante os dez dias “são mais de 4000 horas de trabalho gratuito que é dedicado às respectivas associações”, disse o organizador. Num dos serões mais fortes do certame “chegámos a ter 800 pessoas a trabalhar para o evento, quando o número médio se situou nas 600”.

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Rebeca garantiu “casa cheia”

Quanto aos dias mais concorridos, o destaque vai para o Dia do Emigrante, a 13 de Agosto, cujo serão foi animado pela cantora Rebeca, que contribuiu para a enchente na Expotur dessa noite. Boa foi também a adesão ao espectáculo do brasileiro Iran Costa que se realizou a 9 de Agosto e que colocou os caldenses a dançar o hit “É o bicho, é o bicho”.
No encerramento das tasquinhas marcou presença Pedro Machado, responsável pelo Turismo do Centro que reconheceu que este é o maior festival de gastronomia que se realiza no centro do país em recinto fechado. Segundo António Marques, aquele responsável prometeu apoiar a divulgação do certame caldense, sobretudo no que diz respeito à sua divulgação. Algo que para o organizador é essencial. “Se conseguirmos divulgar o evento a nível nacional, será mais fácil chegar à meta dos 200 mil visitantes”, disse o director.
Depois das tasquinhas, a Expoeste prepara-se para receber outras iniciativas como o ArtShow (com a empresa caldense de artes decorativas Paula Mendes), mais uma edição da Feira das Velharias (que reúne vendedores de todo o país e alguns de Espanha), seguida ainda de outros eventos ligados à ornitologia, aos automóveis clássicos e à columbofilia.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

Restaurantes ressentem-se com as tasquinhas

Desde o início que a Expotur é criticada pelos empresários da restauração caldenses, que vêm nas tasquinhas uma forma de concorrência desleal. Pior ainda agora que o IVA do sector foi fixado nos 23% e os empresários, além de uma maior carga fiscal, se vêem a braços com custos maiores e uma crise que teima em não passar e tem afastado as pessoas das mesas dos restaurantes.
A época alta (quando a presença de muitos turistas e emigrantes seria uma mais-valia para a restauração), e a desigualdade no pagamento de impostos, são as críticas mais frequentes daqueles que se lamentam de, ano após ano, nada ser feito para encontrar uma solução que não os prejudique tanto.
José Caetano Costa, do restaurante Os Queridos, tem sido uma das vozes mais contestatárias à Expotur. “Desde o início que notamos muito o impacto das Tasquinhas e eu tenho sempre alertado para isso junto da Câmara Municipal, da Associação Comercial, em Assembleia Municipal”, diz ao nosso jornal.
O empresário salienta que não está contra o certame, mas antes com a altura do ano em que este se realiza. “Eu não digo que estas festas não sejam giras e não façam falta, mas têm que se fazer numa altura em que se chame gente às Caldas, não é quando as pessoas já cá estão”, critica, apontando o exemplo de outras tasquinhas que se fazem de norte a sul do país, mas nunca em Agosto.
No restaurante Os Queridos registam-se por estes dias quebras muito significativas no número de jantares servidos, “que chegam a cair de 130 para 30 ou 40. Notámos mesmo muito, apesar de este ano até haver mais gente que em anos anteriores”, diz. E acredita que o impacto não é ainda maior por se tratar de uma casa com 35 anos, com amigos e fama, espalhados por todo o mundo.
Passadas já 19 edições da Expotur, José Caetano Costa diz que “hoje, algumas já não são tasquinhas, são restaurantes com duzentas e tal pessoas, que não pagam impostos, nem água, nem luz, nem saneamento, nem nada”. O empresário entende que o objectivo é ajudar as associações e colectividades do concelho, “mas que há muita maneira de ajudar as associações e colectividades sem ser a prejudicar os outros”.
Luísa Nunes, do Solar dos Amigos, também não poupa críticas a um evento “que todos os anos nos prejudica muito”. A responsável pelo afamado restaurante do Guisado critica sobretudo a desigualdade no pagamento de impostos. “Se nós pagamos, eles também deviam pagar”, aponta.
Também João César, d’O Convívio, se queixa de “só perder clientes com as tasquinhas”. Ainda assim, admite que este ano até nem foi dos piores. “Houve mais gente nestes dias de Agosto e acabou por compensar. Não foi bom, mas bom já não é há muito tempo”, diz.
Uma opinião partilhada por Ana Lisboa, do restaurante homónimo. “No ano passado sentiu-se muito mais. Este ano parece que os emigrantes vieram todos ao mesmo tempo e deu para todos, tasquinhas e restaurantes”, diz uma das responsáveis pelo Restaurante Lisboa. Ainda assim, aponta a noite do dia 13, dedicado aos emigrantes, como aquele em que se sentiu mesmo o impacto do certame e o restaurante ficou praticamente vazio.

Associação Comercial preocupada

Este é um tema que tem preocupado as sucessivas direcções da Associação Comercial dos Concelhos de Caldas da Rainha e Óbidos (ACCCRO), que todos os anos ouvem as queixas dos empresários da restauração. O actual presidente da direcção, Paulo Agostinho, diz entender a posição da Câmara, mas salienta que este “é um problema grave”, que se verifica não só localmente, mas em todo o país, por onde certames semelhantes se multiplicam.
“Lá dentro nem IVA, nem factura, mas esse é um problema do sistema. Por isso, este problema devia ser pensado pelos legisladores, de forma que os eventos se façam, mas o sector não seja tão prejudicado”, aponta.
Para o presidente da ACCCRO, há que ver que a Expotur não é apenas má para os empresários. “Isto é concorrência directa, mas de qualquer forma é um evento que traz milhares de pessoas às Caldas”, sublinha.
O que é preciso mudar então? “É preciso promover a cidade, e o concelho, como um todo, o que não tem acontecido. Fazer com que as pessoas venham à Expotur, mas não se fiquem só pela Expoeste, que passeiem pela cidade”. Uma missão em que, garante, Câmara e ACCCRO já estão a trabalhar.

Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt

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