éGazeta das Caldas foi conhecer esta arte que está cada vez mais na moda. “A maioria das pessoas já se cansou das coisas baratas que não duram muito tempo. Hoje preferem investir em algo que lhes dê maior garantia de qualidade”, diz Faustino Filipe.
Faustino Filipe é de Ribeira de Crastos (Vidais) e tem 59 anos. Formou-se na arte do estofo entre 1973 e 1976 na Escola da Câmara do Comércio e Indústria em Paris, onde esteve três anos em formação neste “métier” que se dedica a dar nova vida a sofás, cadeiras, bancos e e poltronas.
Começou a trabalhar com 18 anos e hoje orgulha-se dos seus 42 anos de carreira e, sobretudo, da sua formação em estofo clássico onde aprendeu a arte de estofar com crinas vegetais e animais e ainda a aplicar molas. Este último tipo de trabalho é mais moroso. Segundo aquele profissional, é necessário colocar os materiais em camadas e no total são precisos dois dias e meio até o trabalho estar terminado ao passo que se for um enchimento de um sofá com espuma “são apenas precisas oito horas”.
Faustino Filipe gosta muito da sua profissão pois esta permite-lhe a recuperação de muitos sofás e cadeiras que, na maioria das vezes, ia para o lixo. Quando adquiriu a sua loja nas Caldas, na Rua dr. Carlos Manuel Saudade e Silva, há 21 anos, esta já se designava Renascer. Antes dedicava-se à venda de artigos de decoração e de tecidos e como Faustino Filipe também acha que faz reviver os sofás e cadeiras, manteve o mesmo nome do establecimento. “Vim cá comprar um tecido para um cliente e acabei por ficar com a loja”, conta, sorrindo.
Houve uma altura em que Faustino Filipe deu emprego a sete pessoas e chegou a ter um espaço que funcionava também como oficina. Com a crise fechou a área da oficina e ficou apenas com a loja. “Agora somos só quatro”, explicou o empresário que trabalha com a mulher, o filho e uma costureira, que é funcionária da casa há 20 anos. Em conjunto recuperam os mais variados tipos de sofás e poltronas.
Faustino Filipe diz que a pequena equipa dá conta do recado. Ele o filho ocupam-se do estofo e as senhoras da área da confecção. E não lhes tem faltado trabalho.
A “Renascer” tem clientes da região, mas o passa a palavra tem-lhe trazido trabalho para as mais variadas regiões do país. Já remodelou e entregou sofás, cadeiras e cadeirões por todo o país, em Lisboa, Lousã, Guarda e Algarve.
Actualmente, o estofador caldense trabalha sobretudo com espumas pois as crinas são muito caras. “Se usar espuma, um sofá pode custar 100 euros, em crina sobe até aos mil”, referiu o profissional, acrescentando que, para a maioria das pessoas, não são preços convidativos. “E é pena pois assim quase não podemos exercer a profissão que estivemos a aprender…”, disse Faustino Filipe, que fica sempre satisfeito quando pontualmente lhe pedem reconstruções clássicas. E há quem possa pagar um serviço de estofador como lhe aconteceu recentemente. Teve um pedido para renovar totalmente um modelo de sofá dos anos 60. “Só aproveitámos as madeiras”, disse, acrescentando que o exemplar recuperado – de forma tradicional com crinas e molas – se encontra actualmente no Museu do Design e da Moda em Lisboa. “Foi uma enorme satisfação poder fazer aquele trabalho”, disse o profissional, a quem basta que se dê algumas linhas sobre a idade e o género do sofá que ele rapidamente consegue perceber que tipo de recuperação é necessária.
A maioria dos clientes de Faustino Filipe são pessoas ligadas à função pública, ou seja, que possuem poder de compra. Entre os clientes contam-se médicos e jornalistas, além de um ex-embaixador “que é nosso cliente há mais de 20 anos. Hoje até já atendemos os filhos”, disse o estofador. Entre os seus clientes contam-se também ingleses, franceses e holandeses que escolheram vir morar para a região Oeste. Entre os estrangeiros, contam-se alguns que ainda estão a trabalhar e que se dividem entre o Oeste e os seus países de origem.
Para Faustino Filipe, na actualidade, a maioria das pessoas já “está farta das coisas muito baratas que em poucos anos começam a descascar por serem feitas com materiais sem qualidade”. Na sua opinião, o restauro e as linhas vintage estão na moda, algo que é benéfico para o seu negócio.
A arte de estofar entretanto também já passou para filho. Christophe Filipe, de 30 anos, aprendeu a profissão de Faustino Filipe e portanto está garantida a continuidade do negócio na família.































