Inaugurado a 11 de Janeiro, o Espaço Ó das Gaeiras alberga uma dezena de pessoas a trabalhar em co-work. São designers, engenheiros, arquitectos e artistas que ali encontraram um local para desenvolver os seus projectos e criar uma rede de partilha de conhecimentos. Subjacente está a vertente identitária, de valorizar uma ideia e transformá-la num modelo de negócio, projecto artístico ou serviço
Flávia Martins, do Olho Marinho e Daniela Fortunato, das Gaeiras, são estudantes de Design Gráfico na ESAD e estão a desenvolver projectos na sua área de formação. Frente a uma tela de grandes dimensões, ainda inacabada, que retrata a fria paisagem da Islândia (pintada por Flávia Martins), as jovens dedicavam-se, na passada segunda-feira, à criação de um calendário com postais integrados, de Óbidos. É o primeiro projecto que desenvolvem naquele espaço, que consideram ter boas condições e que lhes permite trabalhar em rede. Na mesma sala, algumas mesas à frente, Cristina Reboleira manipulava com mestria as linhas, transformando-as em nós, que depois junta, criando a renda de frioleira. Aprendeu a arte com uma senhora das Gaeiras e, em sua homenagem, pretende também ensiná-la nesta terra. A técnica, que actualmente está em desuso, mas que há cem anos estava na moda, com aplicações em atoalhados, golas e ornamentos do vestuário, poderá agora ganhar uma nova vida, aplicada à joalharia e outros objectos, como marcadores de livros. De modo a preservar esta arte, Cristina Reboleira, pretende dar workshops no Espaço Ó. Sentada ao lado de Cristina, a designer de interiores, Joana Marcão, considera que este contacto entre diversos empreendedores permite o “surgimento de ideias e parcerias”. A designer de interiores, que tem uma empresa de alojamento local, considera que estar a trabalhar naquele espaço é mais produtivo do que estar em casa e considera que a partilha entre colegas da área do design e das artes poderá ser uma mais valia.
Transformar ideias em modelos de negócio
Transformar ideias em modelo de negócio, tendo por base o desenvolvimento comunitário, é a estratégia que está por trás do Espaço Ó. Nas Gaeiras a aposta é em projectos de base criativa, sendo disponibilizados espaços e metodologias de trabalho para pessoas que trabalham em turismo, webdesign, design, som e imagem. Além do trabalho que desenvolvem, os empreendedores formam uma rede e auxiliam-se nos projectos que são desenvolvidos no programa Ativa-te. Há ainda encontros com especialistas de diversas áreas com o objectivo de melhorar cada projecto. Os utilizadores do espaço de co-work podem utilizar todo o edifício, composto por sala de formações, sala de reuniões, uma pequena cozinha e dois estúdios, um de imagem e outro de áudio. Podem trabalhar 24 horas por dia, pois têm um código que lhes permite aceder ao espaço. Actualmente estão a ser desenvolvidos nove projectos, mas há capacidade para o dobro. Esta modalidade pressupõe uma perspectiva de incubação, em que uns empreendedores dão lugar a outros. De acordo com Ricardo Duque, presidente da associação que gere o Espaço Ó, o objectivo é que os participantes possam ali estar entre dois a quatro anos. Contudo, adverte: o objectivo do espaço não é o de facultar um local de trabalho, mas de fomentar a entreajuda e o espírito colaborativo. O Espaço Ó das Gaeiras pretende também trabalhar a parte artística. Um desses exemplos é a banda Brass Dass, composta por músoicos do concelho, que ali ensaiam no estúdio de áudio. “O espaço está aberto a qualquer grupo informal que queira ali desenvolver o seu projecto”, diz Ricardo Duque, acrescentando que gostariam de alavancar grupos musicais e de teatro na região. Em “ebulição” está também um projecto ligado ao design de moda, acrescenta o responsável. O espaço também pressupõe uma agenda anual de actividades que vão desde a componente formativa à lúdica, passando pela vertente cultural.
Mais de quatro dezenas de produtos criados em cinco anos
Quando ficarem concluídas as obras de requalificação dos antigos Armazéns do Vinho, em A-da-Gorda, previstas para o Verão, Óbidos contará com três Espaço Ó, de desenvolvimento comunitário. Este novo equipamento, vocacionado para a componente agrícola e de transformação de produtos agrícolas, albergará também residências criativas. “É muito importante trazermos pessoas que, em comunidade, criem projectos”, refere Ricardo Duque, acrescentando que querem potenciar o cowork gastronómico, com os empreendedores a trabalharem, em conjunto, novos sabores e fusões, por exemplo entre os produtos locais e o chocolate.
Este novo espaço vem juntar-se aos já existentes em Óbidos e, mais recentemente, nas Gaeiras.
Estes locais colocam em prática o programa Ativa-te, que pressupõe a criação de emprego e riqueza através do desenvolvimento comunitário.
Mais de 100 postos de trabalho criados
Desde que foi criado, há cinco anos, o programa já permitiu a criação de uma centena de postos de trabalho e criados cerca de 40 produtos e serviços. Projectos como gastronómicos como o Capinha d’Óbidos e o Jamón Jamón, nasceram no âmbito do Ativa-te e actualmente já se encontam em espaços autónomos e dão emprego a várias pessoas.
Ricardo Duque explica que, face à especificidade dos produtos, os empreendedores precisam de apoios diferentes, que lhes são prestados por profissionais da ESAD, Parque Tecnológico, associações empresariais e universidades.
O projecto não é exclusivo a munícipes de Óbidos, pressupondo, no entanto, a disponibilidade de trabalhar e alavancar a identidade deste concelho.
O programa Ativa-te é gratuito e inclui o apoio a projectos de base identitária, desde a parte conceptual, até à legalização do produto, redes de vendas e ajuda à criação da loja online. Depois há outros investimento que terá que ser o empreendedor a fazer, como o registo de patentes e a criação da embalagem. Ao nível da comercialização, todos os produtos desenvolvidos ao abrigo deste programa encontram-se na loja comunitária, Identidades, em Óbidos.































