Neste ano lectivo 2017/2018 houve mais 8,5% de alunos a escolher o ensino profissional no concelho das Caldas. O conjunto dos estabelecimentos de ensino profissional juntamente com os agrupamentos escolares representam um universo de cerca de 1.450 alunos que optaram pela via profissionalizante. Um número que já supera os inscritos no ensino regular em mais de 3%.
Gazeta das Caldas falou com sete estudantes – um por cada escola das Caldas – que já concluíram os seus cursos: a maioria está empregado, mas há também quem tenha optado por prosseguir os estudos e ir para a faculdade. Conheça o percurso do Duarte, da Theresa, do Ricardo, do Diogo, do David, do Pedro e do Miguel.

“A componente prática do curso foi muito exigente”
Duarte Rei, 20 anos, Técnico de Manutenção Industrial (Cenfim)
Duarte Rei é de Alcobaça e já tinha frequentado um Curso de Educação e Formação (CEF) que lhe deu equivalência ao 9º ano. Agora tem 20 anos, mas foi por volta dos 15 que começou a interessar-se por electricidade – “olhava para os objectos à minha volta e tinha curiosidade em saber como é que as coisas funcionavam”. Por isso, decidiu que queria aprofundar conhecimentos nesta área e escolheu o Cenfim para frequentar o curso de Técnico de Manutenção Industrial.
Hoje, concluída a formação profissional que equivale ao 12º ano, Duarte pode trabalhar em qualquer indústria na parte da manutenção dos equipamentos e também no sector da serralharia.
Ainda no âmbito do curso, o alcobacense fez três estágios, os quais resultaram em reais oportunidades de trabalho. “Actualmente estou a trabalhar numa empresa de montagem de quadros eléctricos na Irlanda do Norte, fruto do estágio que lá fiz integrado no programa Erasmus”, contou o jovem à Gazeta das Caldas, realçando que a experiência está a superar as expectativas.
Na sua opinião, “os cursos profissionais são, em muitos aspectos, mais vantajosos que as opções do ensino regular porque permitem, não só uma aprendizagem na sala de aula como o contacto directo com o mundo de trabalho através dos estágios”. Contudo, o principal senão do ensino profissional é que não é o mais indicado para quem quer prosseguir os estudos na universidade: “não é impossível fazê-lo, conheço vários casos, mas reconheço que seja mais difícil”.
Embora os cursos profissionais sejam cada vez mais uma realidade, Duarte Rei sente que ainda existe a ideia errada de que servem apenas os alunos que “não querem estudar”. “É verdade que algumas disciplinas como o Português ou a Matemática têm programas mais facilitados, mas também há uma componente prática muito forte que é muito exigente”, acrescentou.

“Nunca senti facilitismos no meu curso profissional”
Theresa Souza, 21 anos, Técnica de Higiene e Segurança no Trabalho (Escola Técnica e Empresarial do Oeste)
Theresa Souza começou por frequentar o curso científico-humanístico de Ciências e Tecnologias no ensino regular. Mas o primeiro ano do secundário não lhe correu tão bem como esperava. “Por isso decidi pedir transferência de escola e optar por um curso profissional. Na altura achava que só os alunos com mais dificuldades iam para estes cursos, mas enganei-me”, disse à Gazeta, salientando que nunca sentiu qualquer tipo de facilitismos na ETEO, escola onde viria a concluir o curso de Técnico de Higiene e Segurança no Trabalho.
A opção por esta área prendeu-se com o facto do seu pai trabalhar no sector da construção civil. “Embora estivéssemos num período de crise e eu não ter a certeza se ia conseguir emprego, decidi arriscar porque me identificava com a área”, contou a caldense, que fez estágio na Águas do Oeste e no Montepio Rainha D. Leonor, Erasmus em Barcelona e actualmente trabalha numa subestação da REN em Santarém. Foi também em Santarém que decidiu prosseguir os estudos no Instituto Superior de Línguas e Administração, ingressando o ano passado no Curso Técnico Superior Profissional em Gestão da Qualidade do Ambiente e Segurança.
Ainda sobre a sua experiência na ETEO (que terminou há dois anos), Theresa Souza confessou estar muito satisfeita. “Empurraram-me sempre para o mundo de trabalho, fiz muitas visitas de estudo, participei em palestras, congressos e feiras internacionais. Tudo isso foi bastante positivo”, realçou.

“Queria ser um profissional credibilizado junto dos clientes”
Ricardo Ferreira, 22 anos, Técnico de Eletrónica, Automação e Computadores (Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro)
O bichinho por ter um negócio próprio na área da informática já existia há algum tempo, até porque Ricardo Ferreira já fazia do seu quarto uma oficina técnica de reparação de computadores. “Mas tinha consciência que para isso era preciso ter mais formação, até para ser um profissional credibilizado junto dos clientes”, explicou o jovem caldense, que optou então pelo curso de Técnico de Electrónica, Automação e Computadores na Escola Rafael Bordalo Pinheiro.
O ensino profissional foi a sua escolha em relação ao regular porque “acabava por ser mais completo e específico na área que me interessava: a informática”. Mas Ricardo nunca escolheu um curso profissional por o considerar mais fácil ou acessível. “Ainda há muita gente que tem essa mentalidade e que depois acaba por nem concluir o curso porque é preciso gostar mesmo da área”, realçou.
Actualmente Ricardo Ferreira é o proprietário da Infomais, uma loja de reparação de equipamentos tecnológicos (computadores, tablets, consolas e telemóveis) e de venda de material informático localizada nas Caldas da Rainha. Conseguiu abrir o seu estabelecimento com um investimento de 2.500 euros, ficando apenas com 300 euros na conta bancária (valeu-lhe aqui o facto de viver com os pais para poder assumir o risco).
“Sobrou-me também um sorriso na cara e uma grande vontade de ir atender clientes”, contou Ricardo Ferreira, que se prepara em breve para abrir uma segunda loja, esta dedicada à assistência informática específica para empresas, e não põe de lado a possibilidade de no futuro ingressar no ensino superior em regime pós-laboral.

“Já ganho um ordenado e tenho a minha independência”
Diogo Vasques, 21 anos, Técnico de Cozinha e Pastelaria (Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste)
Aos oito anos, Diogo Vasques já sabia que queria ser cozinheiro. Influenciaram-no os programas de televisão sobre culinária e a sua avó, quem lhe passou o bichinho pela cozinha. Hoje, com 21 anos, o caldense trabalha no restaurante do Pestana Palace de Lisboa. Mas também já passou pelo Marriott da Serra d’El Rey, pelo restaurante do Queen’s Fitness Club, pelo Dolce Campo Real em Torres Vedras, pelo DOP do chef Rui Paula no Porto e pelo Sons, Tons e Sabores do CCC. Sem esquecer os estágios no Pestana Delfim Alvor e no Sana Silver Coast.
“Enquanto na maioria das áreas profissionais se procura logo por um emprego estável, na cozinha e restauração é importante adquirir conhecimentos em diferentes restaurantes e países, pelo menos nos primeiros tempos”, afirmou Diogo Vasques, que há três anos concluiu o curso de Técnico de Cozinha e Pastelaria na EHTO.
À Gazeta das Caldas, conta que optou pelo ensino profissional porque “preferia uma formação mais prática que me permitisse ir trabalhar logo que terminasse o 12º ano”. E assim foi. Diogo esteve apenas um mês e meio em casa após concluir o curso e desde então nunca mais parou de trabalhar. “Já ganho um ordenado, já estou fora de casa, já tenho a minha independência e vejo que muitos dos meus amigos que optaram pelo ensino regular ainda estão longe de ter essa estabilidade”, realçou o jovem, que tem o sonho de um dia vir a abrir o seu próprio restaurante perto da sua zona de conforto, a região Oeste.

“Concorrer para a faculdade foi sempre um objectivo”
David Silva, 22 anos, Técnico de Apoio à Gestão Desportiva (Colégio Rainha D. Leonor)
Para o caldense David Silva a ida para a faculdade sempre fez parte dos planos. Mesmo assim, optou pelo curso profissional de Técnico de Apoio à Gestão Desportiva no Colégio Rainha D. Leonor, depois de concluir que o 10º ano em Ciências e Tecnologias (ensino regular) não correra tão bem como gostaria. “Aconselharam-me a mudar e eu até achei a ideia interessante porque já gostava muito de educação física e inclusivamente praticava futebol”, contou, realçando que o curso correspondeu às expectativas pela diversidade de modalidades desportivas que abrangeu.
Embora David Silva tenha notado mais facilidade a disciplinas como o Português no curso profissional, esforçou-se por acompanhar as matérias do ensino regular – assistiu a apoios, frequentou explicações – e inscreveu-se para fazer o exame nacional. Conseguiu a nota de acesso ao ensino superior logo na primeira fase e entrou no curso de Treino Desportivo da Escola Superior de Desporto de Rio Maior.
“Posso dizer que na parte introdutória do curso senti que alguns conteúdos já me eram familiares por causa do curso profissional”, acrescentou o jovem, que pensa agora seguir para mestrado na mesma área da licenciatura.
Foi também graças ao estágio integrado no curso profissional que David Silva se iniciou como treinador adjunto do Caldas Sport Clube nas equipas jovens. A sua Prova de Aptidão Profissional (PAP) viria depois a relacionar-se com técnicas de observação de jogo e hoje, três anos depois, David já trabalha com a equipa sénior, sendo da sua responsabilidade o estudo dos adversários.

“O profissional foi uma oportunidade para concluir os estudos”
Pedro Fernandes, 31 anos, Técnico Multimédia (CENCAL)
Já há algum tempo que Pedro Fernandes queria completar o 12º ano de escolaridade, mas como na altura tinha um bom trabalho, com uma boa remuneração, optou sempre por adiar este objectivo.
“Mas, como sabemos, a situação do país começou a degradar-se um pouco. Chegou a crise e eu também não lhe fugi às garras, acabando por perder o meu emprego”, contou, explicando que ficar desempregado foi ao mesmo tempo uma oportunidade para regressar aos estudos. A opção pelos cursos profissionais prendeu-se não só porque “estavam na moda”, mas também porque “nunca tive muito gosto pelo ensino regular, com muita teoria e pouca prática”.
Foi um amigo quem lhe recomendou o curso de Técnico de Multimédia no Cencal e Pedro Fernandes seguiu o conselho. “Penso que fiquei bem servido”, acrescentou o caldense, realçando que o curso contribuiu mais para alavancar a sua motivação e confiança do que propriamente com novas aprendizagens. Isto porque a formação “abrangia todas as vertentes necessárias e as que acho mais importantes, mas tudo de uma forma muito sucinta. Por isso não esperem ingressar num curso profissional e sair de lá com todas as capacidades efectivas para meter as mãos à obra”, adverte.
Após concluir o curso, Pedro Fernandes entregou currículos e foi a algumas entrevistas até encontrar um estágio profissional (remunerado) na sua área. Após nove meses de estágio, aceitou o convite para entrar para os quadros da empresa e já há cinco anos que assume a função de “Digital Marketing Technician” na UWU Solutions, multinacional na área fiscal. Aqui, Pedro Fernandes é responsável pela vertente ligada à comunicação digital da empresa (desenvolvimento, publicação e análise de conteúdos digitais).

“O estágio permitiu-me saber o que é trabalhar directamente para o cliente”
Miguel Alexandre Santos, 21 anos, Técnico de Programação e Gestão de Sistemas Informáticos (Escola Secundária Raul Proença)
Desde muito jovem que Miguel Alexandre Santos, 21 anos, é fã de programação e acompanha o trabalho do irmão nesta área da informática. “Por isso mesmo, achei que talvez não fosse má opção escolher o curso profissional de Técnico de Programação e Gestão de Sistemas Informáticos, tendo em conta que o ensino regular me pareceu muito geral e eu queria uma formação mais prática e especifica”, disse. O objectivo de adquirir as bases necessárias para se candidatar à faculdade foi cumprido, com a certeza que esta é a área em que quer trabalhar, pela experiência que também obteve no estágio que frequentou o ano passado. Miguel Alexandre Santos estagiou numa empresa em Lisboa, com cerca de 200 trabalhadores, ligada à engenharia de sistemas de ambiente e geo-referência.
“Não escolhi o curso profissional por ser mais fácil, nem achei que fosse”, explicou à Gazeta das Caldas, salientando que o estágio foi uma experiência enriquecedora que lhe permitiu ter contacto com o stress de trabalhar directamente para o cliente e também aprender a viver sozinho.
Embora tenha recebido um convite para ficar a trabalhar na empresa em que estagiou, Miguel Alexandre Santos recusou a fim de poder este ano dedicar-se exclusivamente ao estudo para os exames nacionais (Matemática B e Português) e assim concorrer ao curso de Engenharia Informática do IPL.
Segundo o feedback que tem tido de outros colegas que frequentaram o mesmo curso profissional na Escola Raul Proença e conseguiram entrar na faculdade, “no primeiro ano da universidade eles tiveram mais facilidade nalgumas cadeiras porque já tinham os conhecimentos básicos e não estavam a ouvir as matérias pela primeira vez”.






























