“Não era nada que se compare com o que é hoje.” José Gomes entrou para a corporação em 1962. Quando jurou bandeira, em Maio de 1963, usou umas calças e uma camisa de cotim. O machado que ia usar na cerimónia não tinha cabo e o capacete tinha um buraco de lado.
“Foi o chefe Vitória que meteu o cabo e o ajudante Domingos que pôs um remendo no capacete para os poder usar”, recorda, retratando as dificuldades que havia na altura.
A roupa que usavam no combate às chamas era praticamente à civil, completada apenas com um casaco de cotim. Não havia fardamento.
“Só mais tarde é que apareceram os fatos de macaco”, recorda. E também só mais tarde, em 1981, aquando da inauguração do actual quartel, houve fardamento novo para todos os bombeiros.
Mesmo os sapatos que usavam eram os que traziam de casa
“e quando vínhamos do fogo eram para deitar fora”, conta.
A própria forma de combater os fogos era muito diferente do que é hoje. As viaturas que a corporação caldense tinha não transportavam água para o teatro de operações. O trabalho que se fazia era o de batedor, ou seja, tentava-se eliminar as fontes de combustão.
As duas viaturas que existiam nessa altura, uma MAC e uma International, serviam basicamente para transportar o equipamento e alguns bombeiros. Os restantes iam para o incêndio em carrinhas emprestadas.
No entanto, José Gomes também recorda que os fogos dessa altura eram muito diferentes dos que há hoje porque as pessoas viviam do que a terra dava e, por isso, a floresta era diferente e muito mais cuidada.
QUARTEL PEQUENO
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Nesse ano de 1963 o quartel ainda se situava no centro da cidade, na Rua Dr. Miguel Bombarda. Era composto por uma garagem e duas salas pequenas: o escritório do comandante Firmino Alves e a sala onde os bombeiros comiam e jogavam às cartas. No salão onde estacionavam as viaturas, o professor Silva Bastos dava aulas de ginástica às crianças, o que obrigava a retirar os veículos para a rua.
O espaço era tão reduzido que quando tocava a sirene durante as aulas de ginástica era preciso recolher as crianças para um canto, enquanto os soldados da paz se equipavam de capacetes e machados para seguir para o fogo.
Quando José Gomes jurou bandeira, a corporação caldense tinha 30 bombeiros, a contar com o comando. Passou depois a ter 43, mas pouco tempo depois voltavam a ser pouco mais de 30 “porque os que entraram comigo eram quase todos velhos”, recorda.
A terceira viatura foi adquirida alguns anos depois. Era uma ambulância Mercedes conseguida com o resultado de um peditório.
Mas até os peditórios de antigamente eram muito diferentes. Pouca gente dava dinheiro e a maioria oferecia géneros, sobretudo “vinho e batatas, às vezes um coelho e uma galinha, porque o que as pessoas davam era da agricultura que faziam”, conta José Gomes.
Os bombeiros que iam para o peditório levavam de casa a sua posta de bacalhau e, por onde passavam, pediam aos locais para cozerem umas batatas, ou um bocado de pão.
Este cenário de parcos meios, mesmo sendo a corporação caldense já nessa altura uma referência no meio, manteve-se assim até à construção do actual quartel, inaugurado em 1981.
A partir dessa altura a associação tem vindo a dotar os bombeiros caldenses dos meios para servir o melhor possível a população.
“Hoje em dia os bombeiros não se podem queixar de falta de equipamento nem de condições”, observa José Gomes. No entanto, acrescenta que há outros aspectos que eram melhores na altura em que começou a sua carreira. “Hoje é muito mais difícil um bombeiro ter emprego. Naquela altura as fábricas davam emprego aos bombeiros e nem sequer contavam o tempo que passavam no voluntariado e é por isso que há cada vez menos voluntariado”, conclui.