Enfermeiros do Montepio fizeram greve por perda de direitos

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Enfermeiros e representantes do SEP na manifestão à porta da Casa de Saúde do Montepio

Referem que os enfermeiros estão a sair, o que coloca em causa qualidade dos serviços. Administração diz que negociou, mas proposta foi rejeitada

Os enfermeiros do Montepio Rainha Dona Leonor (MRDL) cumpriram na passada sexta-feira uma greve que garantiu apenas os serviços mínimos, em protesto contra o que alegam ser perda de direitos pela aplicação do contrato coletivo de trabalho da RedeMut.

Rui Marroni, dirigente do SEP, explicou que, no início do ano, a administração substituiu o contrato coletivo das IPSS pelo da Rede Mutualista, “que nada tem a ver com a enfermagem”. Essa mudança implicou a retirada do subsídio de turno, que correspondia a 15% para dois turnos e 25% para três, e o aumento da carga horária para os novos contratos, de 35 para 40 horas semanais. “Não só não cumprem o que estava acordado, como agravam as condições, cortando direitos e criando desigualdades. Isto está a levar à saída de enfermeiros experientes e a dificultar a contratação de novos profissionais”, denunciou.

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O dirigente do SEP diz que apresentou à direção, a 27 de junho, uma proposta de carreira específica para os enfermeiros, onde reivindica a manutenção das 35 horas semanais, o pagamento das horas penosas em período noturno e fins de semana, a reposição do subsídio de turno e uma atualização salarial que aproxime os vencimentos ao setor público. “Há enfermeiros com mais de 15 anos de casa que recebem menos do que o valor de ingresso na administração pública. Sem melhoria de condições, a instituição arrisca-se a perder os profissionais que ainda tem e a comprometer a continuidade dos cuidados”, alertou Rui Marroni.

Cristina Rodrigues, delegada sindical e enfermeira no Montepio há perto de 18 anos, deu exemplos concretos. “Estou no topo da carreira e recebo 1.531 euros, quando um enfermeiro recém-ingressado no público aufere cerca de 1.546 euros. Uma colega com dois anos de casa ganha 1.300 euros, menos 200 do que receberia no setor público”, descreveu.

Segundo a delegada sindical, nos últimos meses pelo menos sete enfermeiros já abandonaram a instituição e a equipa está atualmente reduzida a 12 profissionais na Casa de Saúde e três no lar e residências. Segundo Cristina Rodrigues, o quadro ideal deveria ter “mais de 18 enfermeiros só na Casa de Saúde”, mas a instituição não consegue atrair nem fixar profissionais, ficando dependente de recém-licenciados, que procuram rapidamente alternativas no setor público ou no estrangeiro. “A constante rotatividade desgasta ainda mais os que ficam, porque além do trabalho têm de integrar os novos colegas”, acrescentou.

Cristina Rodrigues aponta ainda o impacto direto da falta de enfermeiros na segurança dos utentes. “Em cada turno está apenas um enfermeiro, quando o ideal seria, no mínimo, dois”, adverte.

O sindicato sublinha ainda que a situação dos enfermeiros contraria o espírito do acordo de cooperação entre o Estado e as mutualidades, que prevê a melhoria das condições de trabalho com a transferência de verbas públicas. “O Montepio das Caldas da Rainha está a ir contra esse princípio, ao invés de melhorar, agrava as condições dos seus enfermeiros”, afirmou Rui Marroni.

Sem resposta da administração à proposta apresentada, os enfermeiros garantem que vão manter a luta. “Se não houver negociação, a greve vai continuar. As condições já são más e tudo o que vier para melhorar é positivo. Mas não podemos aceitar um retrocesso desta dimensão”, concluiu o dirigente do SEP.

CA refuta falta de diálogo
Paulo Ribeiro, presidente do conselho de administração do Montepio, garante que as acusações “não correspondem à verdade” e que desde fevereiro têm sido feitas várias rondas de negociações. “Reunimos várias vezes, apresentámos propostas e até tínhamos encontros agendados quando o pré-aviso de greve foi entregue”, afirmou.

O responsável sublinha que o sindicato quis apresentar um contrato de empresa apenas para os enfermeiros, o que considera “injustificável” quando já existe um contrato coletivo de trabalho em vigor. “O SEP disse desde o início que não queria perda de remuneração, e foi nesse sentido que trabalhámos e foram apresentadas várias propostas. Com o SEP informado, estivemos a negociar diretamente com os enfermeiros”, acrescentou.

Segundo Paulo Ribeiro, entre as medidas apresentadas esteve um aumento salarial de 5% para a generalidade dos enfermeiros e 10% para os mais antigos, “para diferenciar quem já tem mais de 10 anos de casa”. “Estamos a falar de cerca de 150 euros a mais por mês para cada profissional”, refere o dirigente, salientando que essa medida já significaria um esforço orçamental para a associação. “Os enfermeiros propuseram equiparar os salários à função pública, pedindo que passem de 1.530 para 1.900 euros. Isso é irreal e insustentável para nós”, defendeu, acrescentando que, neste cenário, “teremos que esperar por dezembro, com o novo orçamento”, adiantou.

O dirigente sublinha que o Montepio não coloca em causa a qualidade dos serviços nem a segurança dos utentes. “Nós cumprimos com tudo. E a maior prova disso é que temos tido o internamento privado encerrado e estamos só a trabalhar os cuidados continuados com as 12 camas”, adiantou. Paulo Ribeiro diz que a medida foi adotada quando houve saída dos enfermeiros em janeiro para o CHO. “Chegámos a ter um ou dois doentes de particular e associados internados, e mantivemos”, acrescentou, sublinhando que “nos lares, os rácios são iguais ou até melhores do que a média nacional”.

Paulo Ribeiro adianta ainda que o Montepio Rainha D. Leonor continua a atrair profissionais e que nos últimos meses foram admitidos dois enfermeiros, “que vieram do setor privado”, estando previstas mais três contratações. “Estamos a conseguir atrair os profissionais para podermos reabrir os serviços todos. Aqui trabalha-se 35 horas por semana, quando no setor privado são 40, e isso também conta”, concluiu.

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