Encontro trouxe às Caldas da Rainha cerca de uma centena de proprietários de moinhos e moleiros de todo o país. Desenvolvimento gerado em torno destas estruturas abre caminho para o futuro.
O papel que um moinho recuperado e funcional pode ter na coesão de um território foi salientado no VI Encontro Nacional de Molinologia, que decorreu nos dias 8 e 9 de outubro no Oeste e que atraiu às Caldas da Rainha cerca de uma centena de proprietários de moinhos e moleiros de todo o país.
Durante o certame, foram apresentados vários casos de moinhos recuperados e a dinâmica que foram capazes de gerar nos territórios onde estavam inseridos.
O moinho das Boisias, em Alvorninha, os moinhos de Aboim ou de Foros de Arrão são exemplos desse envolvimento gerado em torno destes equipamentos e, em particular, do seu papel junto da comunidade educativa.
Durante o evento, Pedro Ferreira, da Comunidade Intermunicipal do Oeste, deu a conhecer que na região, depois de feito um relatório de diagnóstico, estão atualmente a preparar a Carta de Compromisso da Rede de Moinhos do Oeste.
“Existem no Oeste entre 900 e 1000 moinhos”, explicou o mesmo responsável, ainda que este seja um número dinâmico. A carta de compromisso, que terá como entidade coordenadora o Conselho Intermunicipal do Oeste, pretende ser um documento elaborado em conjunto com todos os interessados no setor, seguindo uma lógica de “políticas públicas a serem desenvolvidas com a participação e colaboração dos seus destinatários”.
A urgência de tratar estes temas e de guardar estas memórias é que de outra forma se arrisca perder o parimónio material (os moinhos, azenhas e todos os objetos associados), mas também o imaterial (como o saber fazer associado).
Houve ainda duas participações internacionais: a especialista em sonoplastia Jutta Ravenna veio de propósito de Berlim para apresentar o projeto “Circulating Sounds: mapa sonoro dos moinhos de vento”, que propõe a recolha dos sons dos moinhos e que incluiu alguns exemplares do Oeste. Trata-se de um património associado aos moinhos que fica, desta forma, preservado. A outra participação internacional foi de Oscar Luzardo, da La Panoteca, que falou diretamente do Brasil, onde investiu num conceito de fermentações lentas.
O primeiro dia foi dedicado às conferências, na sede da Comunidade Intermunicipal do Oeste e contou ainda com um workshop “Já – Viveiro de Projetos”, onde o especialista Jorge Miranda abordou, entre outros temas, os financiamentos destinados aos moinhos.
À margem do evento havia ainda uma pequena feira de livros e outros produtos relacionados com o setor.
Depois das conferências, o primeiro dia terminou com uma visita cultural à cidade, nomeadamente, ao Hospital Termal e à Rota Bordaliana, seguida de um jantar com animação do Grupo de Música Tradicional das Gaeiras, no CCC.
O segundo dia serviu para os participantes conhecerem em primeira mão a recém-criada Rota dos Moinhos, um novo produto turístico lançado pela comunidade intermunicipal que está disponível na app Visit Oeste.
A rota começa no moinho de madeira das Boisias, em Alvorninha, que foi recuperado ao abrigo de um protocolo entre a Câmara (que financiou a obra) e os proprietários (que se comprometeram a abrir o moinho, pelo menos, uma vez por mês). Daí, a comitiva seguiu para o moinho dos Hipólitos (Óbidos), seguindo depois para o da Fialha (Peniche) e dái para o dos Caixeiros (em Torres Vedras). O passeio levou os participantes ao moinho das Castanholas, no Cadaval e terminou na Azenha do Pó, no Bombarral. Ao longo do percurso foi possível ir provando iguarias de cada um dos locais.
O especialista Jorge Miranda, da Etnoideia (organizadora do evento), aproveitou o encerramento para dar a conhecer que no próximo ano deverá ficar fechado o inventário nacional dos moinhos e que, no início do ano irá decorrer um curso intensivo de molinologia direcionado aos técnicos das autarquias e a outros interessados no tema. A formação, que é certificada pela Sociedade Internacional de Molinologia, é presencial e decorrerá em quatro fins de semana, um deles dedicado à teoria e os restantes a visitas.
Jorge Miranda alertou ainda para o potencial dos moinhos inexplorado a nível nacional na produção de papel ou de pigmentos.































