Em 30 anos a Leader Oeste já apoiou perto de 600 projetos com 45 milhões de euros
A Leader Oeste – Associação de Desenvolvimento Rural está a assinalar 30 anos de atividade e realizou, na passada sexta-feira, um périplo pelos concelhos do norte da região para dar a conhecer alguns dos projetos apoiados no quadro de apoios que encerrou. Nos 30 anos de atividade, a associação já apoiou cerca de 600 projetos que representaram 45 milhões de euros de apoios públicos.
A visita, que foi acompanhada por associados da Leader Oeste, parceiros e comunicação social, serviu para “mostrar um pouco daquilo que nós apoiamos no território, particularmente porque os projetos cofinanciados são de pequena dimensão e não têm a visibilidade nem o impacto de uma grande inauguração”, disse José Coutinho, coordenador da associação aos jornalistas. Apesar de serem projetos de pequena dimensão, “são intervenções que têm impacto no território”, acrescentou.
No âmbito do programa corrente Desenvolvimento Local de Base Comunitária (DLBC), a Leader Oeste apoiou cerca de 130 projetos no Alto Oeste (concelhos da região localizados no distrito de Leiria), que representaram um investimento total na ordem dos 9,2 milhões de euros e que receberam apoios que ascendem a 3,67 milhões de euros. Cerca de metade destes projetos correspondem a cultura de pomares. A maioria dos projetos estão localizados nos concelhos de Alcobaça (51), Caldas da Rainha (30), Bombarral (22) e Óbidos (16).
A visita começou, logo pela manhã, na queijaria Flor do Vale, que viu aprovadas quatro candidaturas ao abrigo deste programa e garantiu apoios superiores a 200 mil euros para expandir a produção de queijos, tornar a produção mais eficiente e sustentável. Entre os equipamentos apoiados contam-se a construção de uma ETAR e a colocação de painéis solares fotovoltaicos.
O negócio que começou em 1990 com a produção de leite de vaca, com nove animais a ordenha, conta hoje com um efetivo próximo dos 500 animais, incluindo vacas e cabras. Em 2014 iniciou a produção de queijos e, “felizmente, hoje o nosso nome é conhecido”, disse Jorge Silva, que mostrou “orgulho” de representar o concelho de Alcobaça. O produtor começou o projeto com a mulher e um funcionário, hoje são já 19 os trabalhadores, enquanto a área passou dos 90m2 para 700m2, “e já devia ser mais”, observou.
A empresa continua a evoluir e até ao final do ano vai lançar um novo produto, o requeijão de vaca e cabra. O empresário reconhece que estes apoios direcionados aos pequenos produtores são essenciais na evolução dos negócios. “Sem eles, não tínhamos capacidade para investir”, garante, lamentando apenas o excesso de burocracia que não se coaduna com quem tem que gerir os negócios e trabalhar o campo.
O périplo continuou pelo concelho de Alcobaça, onde foram dados a conhecer mais três projetos financiados pelo DLBC analisados pela Leader Oeste. O primeiro foi o Museu das Máquinas Falantes, que reúne o acervo de mais de 5000 objetos do colecionador Madeira Neves ligados à radiofusão, às telecomunicações e à música mecânica. O museu representou um investimento próximo dos 200 mil euros da Câmara alcobacense apoiado em 145 mil euros para a recuperação e adaptação do edifício.
Na Quinta dos Capuchos, a produção vitivinícola foi complementada com a criação de enoturismo, o que envolveu a recuperação de quatro casas para agroturismo. No entanto, o processo, que envolveu um investimento de 120 mil euros, financiado em 45 mil euros pelo DLBC, encontrou um obstáculo. É que a classificação como turismo rural implica uma área de vinha que a empresa, a Entreflores, possui, mas que está distribuída em parcelas diferentes, o que só permitiu, até agora, a classificação como Alojamento Local.
Da Quinta dos Capuchos, a comitiva seguiu para a Granja de Cister, a loja de produtos regionais da Cooperativa Agrícola de Alcobaça. A loja, num investimento de 128 mil euros que reuniu apoios de 77 mil euros, tem sido vista como um exemplo que outras organizações de produtores do país têm vindo a seguir.
Já da parte da tarde, a visita retomou com uma viagem até à Benedita, para conhecer o centro de desmancha da Nelcarnes. O novo centro, que também inclui uma loja de venda ao público, surgiu no seguimento da atividade de produção de bovinos, que tem por objetivo “que seja uma das melhores carnes a nível nacional”, apontou João Ribeiro, responsável pela produção da Nelcarnes. A empresa tem cerca de 700 cabeças, que são oriundas dos Açores e do Alentejo. A empresa aposta na transformação das carnes e também na carne maturada. Este foi mais um investimento que rondou os 200 mil euros e que teve um apoio de 156 mil euros do DLBC.
Da Benedita até São Gregório, seguiu-se uma visita à Gwiker, da IPWS Solutions, uma empresa que transforma de forma sustentável e 100% natural frutas e legumes para produzir snacks e refeições rápidas, através de um processo de desidratação de desenvolvimento próprio. O programa apoiou a centralização da operação da empresa no Oeste e a criação de quatro postos de trabalho com 24,6 mil euros, de um investimento total superior a 100 mil euros.
O périplo terminou no Bombarral, com a visita aos vinhos Desviso. O projeto de Marta Timóteo e do marido começou em 2022, quando o casal regressou dos Estados Unidos da América, onde ambos trabalhavam no setor. Marta Timóteo regressou à terra de onde é natural para recuperar os terrenos dos pais, que produziam fruta, mas reconvertendo-o para vinha. No fim de concluído o projeto, o casal irá explorar cerca de 10 hectares para produzir os vinhos Desviso. As campanhas de 2022 e 23 foram com uva adquirida a produtores da região, com preferência para a produção biológica. De resto, esse será o método de produção que irão adotar. No próximo ano já poderão colher as próprias uvas em algumas das parcelas. O objetivo é produzir vinhos de excelência, apontados, principalmente, para os mercados externos. O projeto tem um investimento de 50 mil euros e é financiado pelo DLBC a 50%.
Em 30 anos de atividade, a Leader Oeste já analisou cerca de 1.200 projetos, dos quais cerca de metade tiveram candidatura aprovada, adianta José Coutinho, coordenador da Leader Oeste. Esses cerca de 600 projetos significaram apoios públicos acima dos 45 milhões de euros a projetos de pequena dimensão, “que, de outra forma, teriam muita dificuldade em fazer investimento”, realça José Coutinho.
Para o próximo quadro de apoios, que no âmbito da Leader Oeste será o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) e inicia no próximo ano, terá “um conjunto de medidas entre as quais constam algumas parecidas com as atuais”, diz o coordenador da associação. A região terá uma dotação de 5 milhões de euros, “o que gera um investimento total na ordem dos 10 milhões de euros”, nota.
Esta dotação será menor que a do DLBC, no qual, incluindo Alto e Baixo Oeste, a Leader Oeste atribuiu cerca de 8 milhões de euros. José Coutinho explica que isto se deve a uma decisão do governo de reduzir a dotação direcionada ao investimento, para reforçar os subsídios e apoios diretos.
Mesmo assim, o coordenador da associação considera que, no futuro, este tipo de apoios continuará a ser fundamental para potenciar os pequenos negócios. “A China e a Índia têm mão de obra barata. Os Estados Unidos têm incentivos fiscais por estado, com uma redução muito grande de impostos. A Europa não pode ser a única boa aluna, tem que ter um instrumento de coesão, porque temos mão de obra cara, as maiores taxas de tributação do mundo e esta é a única ferramenta que nós temos, sem ela as empresas não sobrevivem numa luta global”, concluiu. ■































