A Câmara da Nazaré, que detém o elevador que liga a vila ao Sítio, vai fazer obras de remodelação naquele equipamento, que voltará a ter carruagens com um exterior revivalista, à anos 60, de quando ele se tornou conhecido com o boom do turismo.
Mas este regresso ao passado é só na imagem porque está previsto dotar o posto de comando – que é o “cérebro” do elevador – com novas tecnologias e fazer algumas obras na plataforma para controlar os pequenos aluimentos (o terreno é arenoso em grande parte do percurso).
Inaugurado em 1889 para ligar a vila ao Sítio, o elevador da Nazaré começou por ser um transporte urbano, mas hoje a maioria dos seus utilizadores são turistas. De tal forma que em Julho e Agosto transporta tantos passageiros como nos restantes dez meses do ano. Chega a haver filas de espera com dezenas de metros de turistas à espera de o apanhar. Nestas alturas, os locais, sobretudo os mais novos, desistem do elevador e preferem ir pelas escadas (sobretudo se for a descer…).
A viagem no elevador faz parte do roteiro dos visitantes da Nazaré. É a forma mais óbvia de subir até ao Sítio, até mesmo para quem tem carro pois não é fácil estacioná-lo, sobretudo na época alta. De resto a melhor publicidade ao elevador é ele próprio: avista-se ao longe de qualquer ponto da Nazaré. O corredor com os carris em linha recta, quase na vertical, a romper a rocha até à arriba, dá nas vistas. E mais ainda quando, periodicamente, o visitante vê o lento rodar dos dois veículos que se cruzam exactamente a meio.
“A rampa é mais inclinada do que parece. Vista lá de baixo parece mais suave, mas agora cá de cima impõe respeito…!”. Asier Heneso, uma turista basca que veio de Vitória, espreita pelo túnel no qual termina, no Sítio, a subida de 320 metros feita no elevador. O grau de inclinação da rampa é de 42%. Um bocadinho assustador, mas o “condutor” do veículo nunca testemunhou momentos de pânico ou gente descontrolada com a vertigem. Pelo contrário, só exclamações de espanto, de admiração, de autêntico deslumbramento pela paisagem.
Por isso, nos minutos que antecedem cada partida, sente-se no ambiente da carruagem a excitação dos turistas pela experiência prestes a começar. Uma expectativa que contrasta com a postura rotineira dos nazarenos que apanham o elevador como se fosse um autocarro urbano.
É o caso de Vasco Pacheco, 24 anos. Vive no Sítio e trabalha num dos restaurantes do centro da vila. O passe mensal (12 euros) permite-lhe ir e vir para o trabalho todos os dias e ainda voltar a descer e a subir se quiser sair ao fim da tarde ou à noite. “É um meio de transporte”, diz. Do qual nunca recorda que tenha havido problemas ou atrasos. O entusiasmo dos turistas, as máquinas fotográficas e telemóveis a registar todo o percurso passam-lhe ao lado. No Verão são autênticas enchentes de forasteiros, mas no Inverno a maioria são locais. Vasco repara que a maioria desses clientes fixos são idosos. A malta nova tem carro ou então, usa as escadas, que as há, em ziguezague, para descer – mais do que para subir – o enorme penhasco que separa o Sítio da Nazaré.
O toque de partida é anunciado por uma campainha. São 15h30 e o carro número 1 inicia mais uma subida. Sai-se da estação e avistam-se os telhados vermelhos das casas. E depois mais casas e mais telhados até que se descobre a praia, o mar, a avenida marginal, a Nazaré inteira, o porto lá ao fundo, a Serra da Pesqueira, a praia do Salgado… Um regalo para a vista. Suavemente, o veículo guina para a esquerda no preciso momento em que cruza com o outro carro descendente. Há sorrisos cúmplices e acenos que se trocam entre desconhecidos das duas carruagens. Gente que está de férias, relaxada, em viagem.
Depois entra-se subitamente num pequeno túnel que dá acesso à estação do Sítio. A paisagem encolhe demasiado rápido e à volta é só paredes. Em frente, lá em baixo, apenas os carris e um pedaço da Nazaré, como se fosse vista através de um canudo gigante.
No elevador nazareno os cães são agora obrigados a viajar em gaiolas de plástico. Mas não pagam bilhete. As bicicletas também são gratuitas e há quem suba e desça com elas na bagageira porque são um óptimo meio de transporte para se deslocar, quer no Sítio, quer na vila.
COM MÁQUINA A VAPOR
Construído em 1889, o famoso ascensor da Nazaré funcionou com máquina a vapor até aos anos sessenta. Já na altura este sistema funcionava como um pêndulo: um único cabo com dois veículos na ponta e um motor que move uma roda gigante que quando puxa um, deixa descair o outro. Esta é a versão simplista para explicar o seu funcionamento. A mais complexa inclui tecnologia e equipamentos com várias redundâncias que dão segurança ao seu funcionamento.
Um acidente em 1963 levou ao seu encerramento por cinco anos, para reabrir com motor eléctrico e equipado com a melhor tecnologia da época. Uma tecnologia que ainda perdura, apesar dos vários upgrades a que tem sido sujeita.
A mais importante melhoria foi em 2002 com a remodelação dos veículos que passaram a ter ar condicionado e um ar mais condizente com o século XXI. Mas o chassis ainda é o mesmo e a Câmara da Nazaré – que explora este equipamento através dos seus serviços municipalizados – quer agora comprar carruagens novas, mas com um exterior que recria os anos sessenta para perpetuar a imagem da marca com que o elevador da Nazaré desde que fotografias suas e postais ilustrados o deram a conhecer pelo mundo fora.
Agora, até 29 de Janeiro, decorre uma manutenção periódica de 20 dias, mas em Outubro de 2016 decorrerá uma intervenção de fundo que deixará o elevador parado até Dezembro.
Apesar dos custos de funcionamento, de manutenção e de pessoal, o elevador da Nazaré dá lucro. Segundo o município, este equipamento chega ao fim de 2015 com lucros operacionais de 350 mil euros.
“Nos últimos dois anos verificou-se uma redução de despesa superior a 15%, agregada a um acréscimo de receita superior a 25%, ou seja, prevê-se para o ano de 2015 receitas globais a rondar os 750 mil euros com despesas de cerca de 400 mil euros” informa fonte oficial do município.































