Quão mais felizes podem ser os cartoonistas que perante um acontecimento inacreditável, fazem um desenho com alguns símbolos e imagens retratando criticamente essa situação!
Qual seria o cartoon que os “charlies” mortos fariam ao seu próprio assassinato e das homenagens que lhe foram prestadas por alguns dos mais altos dignitários do mundo?
Muitos desses dignitários, que agora se ajoelharam à sua carnificina, eram antes os objectos mais ácidos da sua crítica.
Alguns sobreviventes já mostraram na passada terça-feira, através do diário parisiense Liberation, que os acolheu uma vez mais, a capa do Charlie Hebdo que foi publicada na quarta-feira, o sentido de comiseração e de pena, mesmo de perdão, pelos actos cometidos pelos assassinos.
Conheci o Charlie Hebdo há mais de 40 anos e acompanhei-o durante este longo período com um sentimento de admiração, e por vezes, de espanto e de incredulidade.
Lembro-me do Charlie nos primeiros tempos nos anos setenta. Era distribuído nos quiosques, mas também era vendido por militantes que assim ganhavam uns cêntimos. Um dos locais mais simbólicos onde se via o Charlie à venda era na livraria Maspero (uma referência na época) situada no Quartier Latin, onde a estudantada ia diariamente para ver as novidades publicadas em livros ou em tracks (panfletos em fotocópia). O Charlie Hebdo, como as restantes publicações dos seus colaboradores, nomeadamente de Cavanna, eram muito procurados pelos jovens de então.
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