Entre 2012 e 2014 as doenças cardiovasculares e os tumores malignos foram as principais causas de morte na população dos concelhos de Alcobaça, Bombarral, Caldas da Rainha, Nazaré, Óbidos e Peniche, abrangidos pelo ACeS Oeste Norte.
“Temos uma baixa taxa de natalidade, somos pobres e temos uma baixa capacidade de internamento”, disse o delegado de saúde, Jorge Nunes, durante a apresentação do Perfil da Saúde do Oeste, no passado dia 7 de Junho.
Para inverter estes dados, o Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) Oeste Norte quer trabalhar em rede e apostar sobretudo na prevenção, levando a que as pessoas mantenham o seu estado de saúde.
A região Oeste Norte, com uma população estimada de 171.642 habitantes, apresenta um índice de envelhecimento mais elevado do que a média nacional e a própria região de Lisboa e Vale do Tejo. Cada vez se registam menos nascimentos, o que leva a que o índice sintético (número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade fértil, entre os 15 e os 49 anos) da região seja de 1,2, um valor bastante abaixo dos 2,1 que é valor de referência para a renovação geracional.
O perfil da Saúde 2017, elaborado pelo ACeS Oeste Norte e apresentado no passado dia 7 de Junho, mostra que há um excesso de uso dos serviços de urgência hospitalares e, por outro lado, uma capacidade de internamento hospitalar inferior à da ARSLVT e à da média do país. Já a taxa de mortalidade é mais elevada na região do que a média nacional, notando-se um excesso de casos de diabetes, doenças cardiovasculares e suicídios.
São os homens do concelho de Peniche quem mais morre com doenças do aparelho circulatório, assim como por acidentes, neste último caso acompanhado pelos da Nazaré e Óbidos. Alcobaça apresenta a maior taxa de mortalidade por suicídio. A Nazaré é o concelho onde se registam mais mortes por tumor maligno do cólon e recto, em valores relativos.
No retrato feito a esta região, é também possível verificar que os hábitos tabágicos são superiores à média nacional. Entre as doenças de declaração obrigatória, a tuberculose é a principal patologia identificada nestes concelhos (que não está a diminuir), seguida da sífilis e da tosse convulsa.
Registo também para, de acordo com um estudo realizado pela Unidade de Saúde Pública (USP) Zé Povinho, mais de 90% dos jovens do ensino secundário já terem consumido álcool, 53% tabaco e 23% derivados da marijuana. Mais de 90% dos jovens diz ter usado preservativo na primeira relação sexual.
Por outro lado, a região destaca-se na proporção de recém-nascidos com consulta médica de vigilância nos primeiros 28 dias de vida e com uma taxa de amputação nos membros inferiores em doentes com diabetes menor do que a média nacional, o que significa que estes doentes têm estado relativamente controlados.
Durante a sessão foi também dada nota que o número de consultas efectuadas no CHO dentro do tempo adequado de resposta, tem vindo a diminuir, levando a uma resposta mais tardia.
Esperança na passagem do CHO a EPE
Jorge Nunes, delegado de saúde coordenador da USP Zé Povinho, considera que a saúde no Oeste “está razoavelmente bem”, apesar da região apresentar alguns indicadores socioeconómicos desfavoráveis em relação à média regional e nacional, nomeadamente ao nível do analfabetismo e remuneração mensal. Já em termos de vacinação esta é a melhor região de toda a ARSLVT, facto que se deve muito à “prevenção e história muito forte em termos de saúde pública”, registou. Também a obesidade infantil começa a mostrar indicadores mais favoráveis, fruto desse trabalho de prevenção.
A directora executiva do ACeS Oeste Norte, Ana Pisco, partilhou da preocupação em relação às doenças cérebro-vasculares e da tuberculose em que o ACeS não consegue organizar sozinho a resposta e precisa de parceiros. “Nestes últimos anos tem sido muito complicado, mas espero que, a curto prazo, possamos dar o salto, uma vez que foi já aprovada a passagem do CHO a EPE”, disse a responsável, que acredita que no futuro poderão ter uma melhor capacidade de integração de cuidados e de resposta. Actualmente os utentes são referenciados pelos centros de saúde e enviados para outros hospitais que não o CHO, o que aumenta os custos, tanto para os serviços como para os utentes. Além disso, normalmente estes doentes não podem deslocar-se sozinhos e têm que ser acompanhados, o que vai significar uma diminuição dos dias de trabalho e, consequentemente, do rendimento mensal do acompanhante.
O CHO foi convidado a estar presente, mas não se fez representar nesta reunião que juntou pessoas ligadas à saúde, autarcas e representantes de associações.
Ana Pisco alertou para a necessidade de se trabalhar em rede e fazer um efectivo plano de saúde, que abranja todos estes concelhos com uma diversidade grande. “Mais do que atacar as doenças crónicas, deverá actuar-se nas determinantes que podem levar a estados de saúde”, disse, defendendo a aposta na prevenção. A responsável acrescentou ainda que as orientações da Organização Mundial de Saúde vão no sentido de deixar de intervir no individuo para intervir na comunidade em situações de vida saudável.
O Perfil de Saúde 2017 é também um documento de trabalho importante para a elaboração do próximo Plano Local de Saúde 2019-2021, que o agrupamento de centros de saúde pretende que seja participado pelo maior número possível de parceiros da comunidade. Os responsáveis pretendem começar a trabalhar no projecto a partir do Verão, tendo já definido quais os passos a dar para a sua concretização.

































