Dirigiu os destinos do Cencal nos últimos seis anos mas foi agora convidado pelo actual governo para dirigir o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), tendo tomado posse nesse cargo no final do passado mês de Dezembro.
Foi durante a sua direcção que o Cencal foi convidado a instalar-se também em Alcobaça e na Marinha Grande para dar formação em várias áreas apostando na formação com dupla certificação.
Octávio Oliveira considera que é possível que o centro de formação caldense se torne numa Escola de Verão de Cerâmica, apostando na vinda de especialistas estrangeiros que poderiam trazer know how aos autores lusos.
O dirigente gostou de trabalhar nas Caldas mas diz que as entidades locais vêem o Cencal como uma entidade “a quem se pode pedir muito e dar pouco”.
Octávio Oliveira que há vários anos pertence aos quadros do IEFP, regressa agora para dirigir os destinos daquela entidade pública.
Gazeta das Caldas (GC): Quem é que compõe o Conselho de Administração do Cencal e qual é o orçamento desta instituição para o seu pleno funcionamento actualmente ?
Octávio Oliveira (OO): O Cencal foi criado há cerca de 30 anos por um protocolo entre o IEFP com o Associação Portuguesa das Indústrias da Cerâmica (Apicer) e AIRO e são estas entidades que compõem a administração do Cencal. Este órgão é presidido pelo IEFP e há mais um vogal representante de cada uma destas organizações.
Em 2011 o Cencal teve um orçamento de 3 milhões e 150 mil euros, que é sensivelmente o mesmo dos anos anteriores.
GC: Em 2011 o Cencal cresceu para Alcobaça e para a Marinha Grande, tendo agora unidades nessas localidades. Com o foi esse processo e como encara esse crescimento geográfico?
OO: Foram desafios que foram colocados ao Cencal pelo IEFP e que o centro de formação caldense não podia dizer que não. Na Marinha Grande surgiu em sequência da extinção do Crisform, que era um centro de formação equivalente ao Cencal, consignado aos sectores do vidro e da cristalaria.

Na sequência dessa extinção, o Cencal foi convidado a abrir um pólo naquela localidade de modo a assegurar a formação na área do vidro.
O Centro de Formação Profissional de Leiria ficou encarregue da formação transversal e teórica enquanto o Cencal ficou com a área prática e tecnológica da formação do vidro.
Vimos nisso uma oportunidade de crescer geograficamente visto que deixamos de estar circunscritos às Caldas da Rainha. O reconhecimento de algumas similitudes entre a cerâmica e o vidro, logo a possibilidade de obter sinergias e ganhos para um e outro sector.
Por força de um outro convite também instalámos um Centro de Novas Oportunidades (CNO) em Alcobaça e assim crescemos geograficamente no mesmo eixo.
GC: Como foi iniciar as acções de formação na área do vidro?
OO: O grande desafio do Cencal em 2011 foi mostrar a capacidade de realizar acções na área do vidro e ultrapassámos as metas que tínhamos assumido perante o IEFP, relativamente ao número de acções e de formandos a frequentarem acções relacionadas com aquele material.
Portanto caminharemos em 2012 para outros desafios como, por exemplo, uma integração entre cerâmica e vidro pois primeiro estávamos preocupados em corresponder aquele desafio numa perspectiva meramente quantitativa.
Admitimos que possamos vir a fazer formação de cerâmica na Marinha Grande e de vidro nas Caldas da Rainha e até acções de formação conjunta. São porém pistas que não estiveram nos objectivos imediatos mas que se poderão vir a ser colocadas no futuro. Há similitudes entre a cerâmica e o vidro logo a possibilidade de obter sinergias e ganhos para um e outro sector.
GC: O Cencal mudou a forma de dar formação nesta área?
OO: Sim, o que o Cencal tem feito nos últimos anos é de apostar numa formação de actualização e de aperfeiçoamento, orientada para os activos.
Temos apenas mantido uma única acção de formação de longa duração para quem queria fazer a sua vida no sector da cerâmica, numa lógica não industrial, como criadores e autores independentes.
Numa primeira fase este curso era muito frequentado por ex-alunos do ensino superior mas, por força de alterações normativas, destina-se agora a desempregados com o objectivo de poderem resolver o seu problema de desemprego.
Anualmente fazemos uma exposição no Museu de Cerâmica mostrando os resultados deste curso, de Cerâmica Criativa, mais voltado para a cerâmica de autor.

Todas as actividades de formação profissional devem ser feita para o mercado para ter utilidade social – dar competências às pessoas para lhe dar utilidade ou obtendo empregabilidade.
O Cencal tem tido o cuidado de ajustar a sua oferta formativa às necessidade e oportunidades do mercado e portanto dessa maneira faz previamente um ajustamento para que a sua formação tenham uma utilidade social.
Nos últimos anos as orientações políticas deram prioridade às acções de formação que têm dupla certificação – a escolaridade ganhou um acrescido interesse e neste domínio têm sido feitas acções noutras áreas.
Temos até agora dado formação em diferentes áreas como o Comércio, o Secretariado e Trabalho Administrativos, Ciências Informáticas, Tecnologias de Informação Multimédia, a par da Cerâmica Criativa e de Aperfeiçoamento de Competências na cerâmica e ainda damos igualmente atenção à componente das Línguas. Também temos um curso na área das madeiras e que, ao longo dos anos, tem tido algum realce a nível nacional com formandos a ganhar e a participar em concursos nacionais e internacionais. Os alunos que saem dessa área têm elevados índices de empregabilidade na região.
GC: Quantas pessoas tem formado o Cencal, nas três localidades onde tem Centros Novas Oportunidades?
OO: O Cencal tem hoje três centros de formação de Novas Oportunidades e tem uma componente associada ao reconhecimento, validação e certificação de competências dando-lhes know how que lhes permita obter a certificação escolar. Temos tentado que para além da certificação haja um reforço efectivo das competências das pessoas que nos procuram – que possam aumentar o perfil de empregabilidade em línguas e tecnologias da informação.
Em finais de Novembro de 2011, o centro de formação caldense tinha desenvolvido 259 acções de formação para 3570 formandos. E desenvolvemos 15 700 horas de formação nos três pólos. Nas Caldas desenvolvemos 77% da formação, em Alcobaça 20% e na Marinha Grande, 3%”.
NO CNO das Caldas em 2011, 140 pessoas certificaram-se com o 9º ano enquanto que 123 com o 12º ano.
Em Alcobaça 228 com 9 º ano e 73 com o 12 º ano. Na Marinha Grande desde Junho de 2011 32 pessoas certificaram-se com o 9º ano e 51 com o 12 º ano.
GC: Como foi o seu contacto com o sector da cerâmica? E como foi lidar com entidades caldenses?
OO: Hoje vivemos num mundo onde as pessoas devem ser flexíveis e adaptáveis. Tenho hoje em relação à cerâmica alguns conhecimentos, mais do que quando cheguei.
Foi com gosto que aprendi e contactei com estas realidades, criativas, culturais e que considero que me enriqueceram.
Os relacionamentos institucionais com as várias entidades foram normais, estabeleceram-se laços de cooperação e de parceria nalgumas situações. Eventualmente admito que nesses relacionamento encontrei uma cultura onde as entidades olhavam o Cencal como sendo algo a quem se pode pedir muito e ao qual se podia dar pouco.
GC: Na sua opinião acha que mudou o paradigma da cerâmica?
OO: Sim, mudou. É o que se tem verificado nos últimos anos é a diminuição de empresas cerâmicas, assim como o volume do emprego relacionado com este sector.
Há seis anos ainda desenvolvíamos acções de formação inicial para o sector da cerâmica, para formar técnicos de modelação e técnicos cerâmicos, isto é, preparávamos pessoas para laborar neste sector. Fazíamos acções de formação de longa duração e que hoje não fazem sentido sobretudo porque não há procura. Não há empresas que procurem esses perfis e os jovens e os desempregados têm uma representação social negativa em relação à área e não querem formação nesta área.
Fazemos antes acções de formação de aperfeiçoamento e de actualização de competências que possam ajudar as empresas e os trabalhadores a melhorar as suas competências, tentando assim melhorar produtividades e assim contribuir para que as empresas possam ter mais competitividade.
GC: Considera válida a que a aposta no âmbito internacional, atraindo especialistas de cerâmica ao Cencal para trocar experiências com ceramistas portugueses?
OO: Sim, tem sido uma aposta estratégica do Cencal. Achamos que temos excelentes condições para desenvolver um conjunto de actividades ligadas à formação cerâmica, mas que podem extravasar o âmbito da mesma e que têm que ser equilibradas nos resultados económico-financeiros. O IEFP financia o programa de formação, mas restantes actividades têm que se equilibrar.
O Cencal tem uma história e uma cultura e grandes vultos da cerâmica internacional já passaram por cá. Temos condições técnicas e tecnológicas e de recursos humanos ímpares para o desenvolvimento das actividades de formação e de lazer em relação à cerâmica. Há ainda a possibilidade de realizar um casamento ou ligação com actividades de natureza turística, cultural e patrimonial.
Nas nossas instalações temos bar, refeitório e uma área residencial que podem ser utilizado em períodos de férias e por isso considero que o Cencal poderia ser uma escola de Verão de Cerâmica, tirando partido das suas infra-estruturas.
Este é um projecto que já marcou alguns passos importantes pois nos últimos anos temos recebido grupos de ceramistas galegos para terem formação em modelação de cerâmica, de autores brasileiros em cooperação com a Fundação Ricardo Espírito Santo e também estudantes da Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Recebemos pontualmente estudantes de Erasmus da Escola de Manises, de Valência, de uma outra escola de cerâmica polaca e isso são expressões reduzidas daquilo que o Cencal poderia desenvolver e dar à sociedade e à região.
Penso que temos todas as condições para transformar o centro de formação numa Escola de Verão de Cerâmica. Creio que seria possível e já há algumas iniciativas que indicam esse caminho mas em muito pouca escala em relação ao que o Cencal podia fazer e oferecer à sociedade.
Nesta senda temos feito várias candidaturas ao Programa Europeu Leonardo que não mereceram acolhimento, quanto a nós injustamente. Com algum apoio comunitário poderíamos mais facilmente avançar nessa linha.
GC: E isso beneficiaria os ceramistas da região?
OO: Sim, claro, o Cencal pode desenvolver mais workshops de Verão e pode desenvolver actividades em que participem cidadãos estrangeiros ou nacionais que podem vir às instalações do Cencal desenvolver competências na área da cerâmica.
Procuraríamos desta forma trazer de outros países, até nós, um conjunto de ideias, de saberes, formas de ver a vida e a cerâmica que sejam processos inovadores para os nossos ceramistas.
GC: O Cencal tem apostado noutras áreas, a nível internacional?
OO: Sim, temos tido alguma experiência muito baseada nas competências e conhecimentos de José Luís Almeida Silva na área da consultadoria estratégica e criámos uma relação com o Estado do Amazonas, trabalhando no desenvolvimento do pólo cerâmica de Iranduba, do outro lado do rio de Manaus.
Temos avaliado as condições para o desenvolvimento dessa actividade que pode e deve dar sequência que já não é estratégica mas sim operacional. Creio que iremos ajudar a instalar indústria cerâmica no Amazonas e dar formação sobre como se qualificam os recursos humanos para trabalhar nessa indústria.
Eu ficaria muito satisfeito se o que ainda é uma consultadoria estratégica resultasse numa consultadoria técnica, operacional e de recursos humanos, por exemplo, com a instalação de uma escola-oficina de Cerâmica Criativa no Brasil. O Cencal poderá ser útil na área a consultadoria técnica sobre os equipamentos e acções de formação para formar os recursos humanos.
GC: Além da formação, o Cencal presta outros serviços às empresas desta região?
OO: Hoje, o Cencal, apesar da tal mudança de paradigma da redução da importância do sector cerâmico, procura diariamente saber quais são as necessidades das empresas de cerâmica e a dar-lhes resposta. Desenvolvemos hoje, para além da formação dos activos, consultadoria técnica para algumas empresas até fora das Caldas, desenvolvemos ensaios de laboratório para o sector cerâmico.
Naturalmente à medida que diminuiu a importância da cerâmica, o Cencal procurou outras actividades pois é preciso não esquecer que a AIRO também pertence ao Cencal, logo temos uma obrigação e responsabilidade social vai para além da cerâmica e abrange toda a indústria da Região Oeste.
A acção do Cencal tem uma forte ligação às empresas, e procura perceber as necessidades, os perfis dos postos de trabalho e as competências que são mais necessárias. Fazemos visitas às empresas numa leitura permanente.































